Publicado no ESMO Open, o estudo LUDICAS descreve a prevalência de disfunção sexual em uma coorte multicêntrica de pacientes com câncer de pulmão, uma condição pouco reconhecida entre os médicos. “Novas opções terapêuticas levaram a mais sobreviventes com câncer de pulmão, e alguns relatos sugerem uma alta prevalência de disfunção sexual em mulheres com a doença. Atualmente, a avaliação da saúde sexual não está incluída no acompanhamento oncológico de rotina”, observam os autores.
Este estudo multicêntrico, transversal e observacional foi conduzido entre julho de 2023 e fevereiro de 2024. A função sexual foi avaliada pelo sistema de resultados relatados pelo paciente (PRO) usando questionário específico para o sexo. Foram realizadas análise descritiva e avaliação das diferenças entre variáveis categóricas, e as associações entre características clínicas e disfunção sexual foram avaliadas por regressão logística.
A análise incluiu quatrocentos e quarenta e oito pacientes de 24 hospitais na Espanha, Colômbia, Argentina e Portugal. Destes, 277 (61,83%) eram do sexo masculino e 365 (81,48%) tinham doença metastática. Duzentos e oitenta e quatro pacientes (63,39%) relataram o início de disfunção sexual após o início do tratamento oncológico.
Homens e mulheres relataram uma alta frequência de comprometimento grave das fases de resposta sexual, que foi duas vezes maior nas mulheres (P = 0,001). O sexo feminino foi um fator para comprometimento grave do desejo, excitação e orgasmo [odds ratio (OR) 3,72, intervalo de confiança (IC) de 95% 2,48-5,60, P = 0,001] e diminuição da atividade sexual (OR 1,98, IC 95%: 1,17-3,19, P = 0,01), além de idade acima de 65 anos (OR 3,86, IC 95% 1,01-15,25, P = 0,004) e alto nível educacional (OR 0,29, IC 95% 0,09-0,94, P = 0,0040).
Pacientes de Portugal e da América Latina foram mais propensos a relatar insatisfação com a atividade sexual (OR 3,75, IC 95% 1,06-13,22, P = 0,0039). Sexo feminino (OR 3,53, IC 95% 1,88-6,6, P 0,001), histórico de tabagismo (OR 1,77, IC 95% 1,01-4,01, P = 0,04) e obesidade (OR 1,70 IC 95% 1,01-3,16, P = 0,05) foram associados à insatisfação sexual global.
Em síntese, os pacientes com câncer de pulmão avaliados apresentaram alta prevalência de disfunção sexual após o início do tratamento oncológico. “Houve notável disparidade de sexo na frequência e gravidade desse transtorno, bem como uma importante influência de fatores socioculturais na apresentação clínica”, acrescentam os autores.
Referência:
LUDICAS: sexual dysfunction in patients with lung cancer, a multicenter cross-sectional study. Ospina-Serrano, A.V. et al. ESMO Open, Volume 10, Issue 4, 104539