Estudo longitudinal traz novas evidências sobre os mecanismos biológicos que sustentam os diferentes tipos de fadiga em mulheres com câncer de mama em estágio inicial. A pesquisa, que acompanhou 192 pacientes ao longo de 18 meses, identificou associações distintas entre marcadores inflamatórios e dimensões específicas da fadiga, sintoma comum e persistente no contexto oncológico.
Embora a fadiga seja reconhecidamente multifatorial e multidimensional — envolvendo aspectos físicos, emocionais e cognitivos —, pouco se sabia até agora sobre como a inflamação contribui para as diferentes manifestações do sintoma.
Neste estudo, mulheres recentemente diagnosticadas com câncer de mama em estágio inicial (n = 192) foram avaliadas antes do início da terapia adjuvante e em diferentes momentos do seguimento (6, 12 e 18 meses após o tratamento). Em cada avaliação, as mulheres completaram o Inventário Multidimensional de Sintomas de Fadiga, instrumento validado para mensurar a fadiga em suas múltiplas dimensões, e forneceram amostras de sangue para análise de marcadores inflamatórios: fator de necrose tumoral [TNF] alfa [TNF-α], receptor solúvel do fator de necrose tumoral tipo II [sTNF-RII], interleucina 6 [IL-6] e proteína C-reativa [PCR]). Modelos lineares de efeito misto examinaram as associações intra e interpessoais entre marcadores inflamatórios e dimensões da fadiga.
As análises demonstraram associação positiva da fadiga geral e física dentro dos próprios indivíduos ao longo do tempo, com níveis elevados de TNF-α (b = 1,67; p = 0,037), sTNF-RII (b = 2,77; p = 0,002) e IL-6 (b = 0,86; p = 0,010) ao controlar idade, raça, escolaridade, índice de massa corporal e estágio do câncer. A PCR, marcador inflamatório clássico, também esteve relacionada com maiores níveis de fadiga geral e física em análises entre indivíduos (b = 0,82, p = 0,024 para geral; b = 0,71; p = 0,012 para física).
A fadiga emocional apresentou uma associação negativa com TNF-α (b = -1,92; p = 0,004) e sTNF-RII (b = -2,10; p = 0,006), sugerindo que elevações nesses marcadores podem estar ligadas a menor percepção de fadiga emocional. A fadiga mental não apresentou correlação significativa com os marcadores analisados.
“Os achados reforçam o papel da inflamação como mecanismo subjacente à fadiga relacionada ao câncer — mas de maneira diferenciada, dependendo do tipo de fadiga experimentado. A variabilidade individual nos níveis inflamatórios também surge como um fator relevante, apontando para a necessidade de abordagens mais personalizadas no manejo da fadiga em pacientes oncológicos”, avaliam os autores, acrescentando que em um cenário onde a fadiga impacta diretamente a qualidade de vida e a adesão ao tratamento, compreender suas bases biológicas é essencial para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas direcionadas.
“O estudo amplia o entendimento clínico sobre o tema e abre caminho para futuras intervenções anti-inflamatórias como possíveis aliadas no combate à fadiga em oncologia”, concluem.
Referência:
Bower JE, Radin A, Ganz PA, et al. Inflammation and dimensions of fatigue in women with early stage breast cancer: A longitudinal examination. Cancer. 2025;e70038. doi:10.1002/cncr.70038