Estudo publicado no JAMA Network Open demonstrou que adultos com histórico de câncer têm maior probabilidade de utilizar medicamentos para depressão e ansiedade quando comparados à população em geral. No entanto, os dados também revelaram desigualdades significativas no acesso a esses tratamentos, especialmente entre indivíduos negros não hispânicos.
A análise, de base populacional, utilizou dados da National Health Interview Survey entre 2016 e 2018, englobando mais de 53 mil adultos, dos quais 5.091 eram sobreviventes do câncer. Os respondentes elegíveis completaram os suplementos de Funcionalidade e Incapacidade em Adultos. O uso autorrelatado de antidepressivos e ansiolíticos foi o principal desfecho, estimado por meio de análises de regressão logística multivariável, ajustadas para fatores sociodemográficos.
53.117 entrevistados, 48.026 indivíduos (21.592 com idade entre 40 e 64 anos [41,8%]; 24.589 mulheres [51,2%]; 8.260 hispânicos [17,2%], 5.859 negros não hispânicos [12,2%] e 29.584 brancos não hispânicos [61,6%]) não relataram histórico de câncer e 5.091 indivíduos (1.624 com idade entre 40 e 64 anos [37,7%]; 2.927 mulheres [57,5%]; 321 hispânicos [6,3%], 361 negros não hispânicos [7,1%] e 4.159 brancos não hispânicos [81,7%]) relataram histórico de câncer.
Após o ajuste para variáveis sociodemográficas, os sobreviventes de câncer apresentaram maior probabilidade de relatar o uso de antidepressivos (razão de chances ajustada [aOR], 1,32; IC 95%, 1,18-1,49) e ansiolíticos (aOR, 1,38; IC 95%, 1,23-1,54) em comparação com a população em geral.
Entre os sobreviventes de câncer, indivíduos negros não hispânicos apresentaram menor probabilidade de tomar antidepressivos (aOR, 0,60; IC 95%, 0,39-0,91) e ansiolíticos (aOR, 0,63; IC 95%, 0,42-0,94) em comparação com indivíduos brancos não hispânicos.
Sobreviventes de câncer que recebem Medicare (aOR, 2,20; IC 95%, 1,39-3,50) ou Medicaid (aOR, 1,83; IC 95%, 1,18-2,84) apresentaram maior probabilidade de tomar ansiolíticos em comparação com indivíduos com plano de saúde privado. O tipo de câncer também foi associado ao uso de medicamentos; pacientes com histórico de tumor cerebral apresentaram maior probabilidade de tomar antidepressivos (aOR, 5,59; IC 95%, 1,79-17,46), e aqueles com histórico de câncer de pâncreas apresentaram maior probabilidade de tomar antidepressivos (aOR, 5,30; IC 95%, 1,64-17,18) e ansiolíticos (aOR, 6,74; IC 95%, 2,11-21,55) em comparação com aqueles com histórico de câncer de mama.
“Embora o uso de medicações psiquiátricas seja mais frequente entre pessoas com histórico oncológico, ainda existem barreiras no acesso a esse tipo de cuidado, especialmente para grupos raciais historicamente marginalizados”, aponta o estudo.
Para os autores, os achados reforçam a importância de incorporar o cuidado em saúde mental como parte integrante do tratamento oncológico, com atenção especial às populações mais vulneráveis. “O câncer é uma experiência profundamente impactante. Garantir equidade no acesso aos tratamentos para saúde mental deve ser uma prioridade nas estratégias de cuidado aos sobreviventes”, concluem.
Referência:
Miro-Rivera D, Norris RA, Osazuwa-Peters OL, Hurst JH, Barnes JM, Osazuwa-Peters N. Differential Use of Depression and Anxiety Medications in Adults With a History of Cancer. JAMA Netw Open. 2025;8(8):e2527585. doi:10.1001/jamanetworkopen.2025.27585