Onconews - Estudo internacional avalia os desfechos da ressecção oncológica estendida para câncer de vesícula biliar

Novo estudo multicêntrico realizado por pesquisadores da Universidade de Boston mostra que cirurgias agressivas em pacientes com câncer de vesícula biliar avançado (T3/T4) podem levar a altas taxas de complicações e mortalidade. Os resultados estão em acesso aberto no Journal of Gastrointestinal Surgery.

A extensão ideal da ressecção cirúrgica para câncer de vesícula biliar avançado permanece até hoje uma questão controversa. Nos Estados Unidos, aproximadamente 55% dos pacientes com câncer de vesícula biliar ressecados são submetidos à cirurgia oncológica sem tratamento sistêmico adicional. No entanto, à medida que a doença progride para as categorias de tamanho tumoral avançado T3 (local ou regionalmente avançado) ou T4,  o tumor frequentemente infiltra órgãos adjacentes, levando à consideração de diferentes estratégias terapêuticas, incluindo ressecção hepática extensa isoladamente ou combinada à ressecção de órgãos adjacentes (duodeno, estômago e cólon) ou estruturas vasculares (a remoção do tumor se estende além do sítio primário) em associação com quimioterapia e radioterapia antes ou depois da cirurgia.

Embora seja amplamente reconhecido que os resultados para câncer de vesícula biliar (GBC, das iniciais de gallbladder cancer) permanecem ruins no cenário da doença avançada, persiste a controvérsia sobre a agressividade da cirurgia, particularmente em razão da eficácia limitada da quimioterapia.

Neste estudo retrospectivo e multicêntrico, Eduardo Veja e colegas analisaram 419 pacientes com GBC em 17 instituições em 7 países, diagnosticados entre 1997 e 2022. A regressão logística ajustada foi utilizada para examinar os fatores que afetam a ressecção R1 e a positividade dos linfonodos. A sobrevida foi avaliada por curvas de Kaplan-Meier e riscos proporcionais de Cox multivariados.

Da coorte avaliada, 369 pacientes foram identificados com GBC T3 e 50 pacientes com GBC T4. Os preditores do status R1 para pacientes com GBC T3/T4 incluíram icterícia antes da cirurgia (odds ratio [OR], 3,03 [IC 95%, 1,68–5,45]), invasão perineural e/ou linfovascular (OR, 2,43 [IC 95%, 1,35–4,39]), ressecção de órgão adjacente (OR, 2,05 [IC 95%, 1,09–3,85]), morbidade geral (OR, 1,64 [IC 95%, 1,01–2,66]) e metástase linfonodal (OR, 2,69 [IC 95%, 1,55–4,66]).

A análise mostra que a morbidade foi maior em pacientes (64,8%) com GBC T4 do que naqueles com GBC T3 (38,2%), com morbidade grave de 46,3% e 17,1%, respectivamente. Os autores descrevem que a mortalidade em 90 dias foi de 4,1% para pacientes com GBC T3 e de 12% para pacientes com GBC T4. A taxa de sobrevida global em 3 anos foi de 33% para pacientes com GBC T3 e de 4% para aqueles com GBC T4 (log-rank P < 0,001).

Em conclusão, os desfechos de GBC em estágio avançado variaram de acordo com o estado de ressecção. A ressecção oncológica estendida foi associada ao aumento da morbidade, particularmente em pacientes com GBC T4, para os quais os benefícios de sobrevida são limitados.

“Nosso estudo corrobora a importância de uma seleção mais cuidadosa de pacientes para cirurgia de grande porte após o tratamento sistêmico e destaca quando pode ser melhor evitar procedimentos agressivos, que além de não ajudar podem até mesmo causar danos”, explica Vega, professor assistente de cirurgia e autor correspondente.

Segundo os pesquisadores, este estudo introduz a ideia de que o tratamento mais personalizado — guiado por fatores de risco individuais, como icterícia ou comprometimento dos linfonodos — pode levar a resultados melhores e deve desempenhar papel central na tomada de decisão cirúrgica.

“Ao adaptar o tratamento a cada indivíduo, esperamos reduzir a morbidade e melhorar a qualidade de vida daqueles que enfrentam esta doença agressiva”, acrescenta Vega, também cirurgião hepato-bilio-pancreático no Boston Medical Center.

A íntegra do estudo está disponível no Journal of Gastrointestinal Surgery.

Referência:

Ariana M. Chirban, Belen Rivera, William Kawahara, Sebastian Mellado, Melika Niakosari, Masayuki Okuno, Elena Panettieri, Mario De Bellis, Werner Kristjanpoller, Ignacio Merlo, Matteo Serenari, Matteo Donadon, Timothy E. Newhook, Xabier de Aretxabala, Marcelo Vivanco, Kristoffer W. Brudvik, Satoru Seo, Juan Pekolj, George A. Poultsides, Agostino Maria De Rose, Guido Torzilli, Felice Giuliante, Jason Denbo, Daniel A. Anaya, Eduardo Vinuela, Ching-Wei D. Tzeng, Jean-Nicolas Vauthey, Andrea Ruzzenente, Eduardo A. Vega, Advanced gallbladder cancer (T3 and T4): insights from an international multicenter study, Journal of Gastrointestinal Surgery, Volume 29, Issue 7, 2025, 102080, ISSN 1091-255X, https://doi.org/10.1016/j.gassur.2025.102080.