Onconews - Degeneração do trato corticoespinhal após tratamento multimodal em glioma de alto grau

Monica D'Alma Costa Santos, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, é primeira autora de estudo que descreve a Degeneração Walleriana do Trato Corticoespinhal (DWTC) em pacientes com gliomas de alto grau e chama a atenção para uma lacuna na literatura sobre a vulnerabilidade do trato corticoespinhal, particularmente no contexto da radioterapia.

A radioterapia faz parte do tratamento multimodal para gliomas, mas pode resultar em danos colaterais aos tecidos saudáveis ​​circundantes, especialmente em áreas cerebrais eloquentes como o trato corticoespinhal (TCE). A DWTC é uma complicação pouco relatada do tratamento multimodal para gliomas de alto grau, que, apesar de seu potencial impacto clínico, pode levar a disfunção motora grave e prejudicar a qualidade de vida.

Nesta série de casos retrospectiva, os pesquisadores descrevem 13 pacientes adultos com gliomas de alto grau tratados entre 2018 e 2023 que desenvolveram achados de imagem consistentes com DWTC após receberem tratamento multimodal. Os dados clínicos e radiológicos foram coletados de prontuários médicos. A tractografia estava disponível retrospectivamente para dois casos, permitindo sua incorporação ao sistema de planejamento de radioterapia para delineamento preciso do trato corticoespinhal e estimativa de dose correspondente.

Os resultados foram relatados na Frontiers in Oncology  e mostram que a DWTC foi identificada em 13 dos 192 pacientes com glioma de alto grau (6,8%). O diagnóstico foi baseado na hiperintensidade em T2/FLAIR ao longo do TCE ipsilateral com sintomas clínicos compatíveis. Três casos desenvolveram DWTC após reirradiação e sete (53,8%) haviam recebido bevacizumabe antes do diagnóstico: dois durante a progressão da doença, dois para o tratamento de radionecrose e três como profilaxia. Santos e colegas descrevem que a sintomatologia clínica foi detalhada em 11 pacientes; 72,7% apresentaram hemiparesia e 36,4% tiveram convulsões. Em dois casos, a análise retrospectiva de dose-volume revelou doses médias no TCE variando de 25,81 Gy a 42,83 Gy.

Em conclusão, esta série retrospectiva de casos de glioma de alto grau demonstrou que a DWTC é uma  complicação pouco reconhecida em pacientes com gliomas de alto grau que recebem tratamento multimodal e deve ser considerada no planejamento da radioterapia.

Referência:

Santos MDC, Rodrigues NMV, Gibram F, Brunelli J, Campos ACP, Mancini A, Feher O, Marta GN, Hanna SA, Chung C, Moraes FY and Maldaun MVC (2025) Wallerian degeneration of the corticospinal tract following multimodal high-grade glioma treatment: a case series and recommendations for radiotherapy planning. Front. Oncol. 15:1605190. doi: 10.3389/fonc.2025.1605190