Onconews - Crioablação parcial primária da glândula mostra resultados encorajadores no câncer de próstata

Estudo de coorte prospectivo mostrou resultados oncológicos e funcionais encorajadores cinco anos após a crioablação parcial primária da glândula em homens com câncer de próstata de risco intermediário. A íntegra do estudo está em artigo de Herbert Lepor e colegas, na Urology. O oncologista Eduardo Zucca (foto), diretor de ensino e pesquisa do Instituto do Câncer Brasil, analisa os resultados.

A crioablação da próstata é uma opção de tratamento para o câncer de próstata que envolve a administração de doses precisas de gás extremamente frio na próstata para destruir o tecido doente, poupando as estruturas circundantes, como a bexiga e a uretra. A crioablação parcial tem um papel emergente no câncer de próstata localizado, porque os resultados de toxicidade têm se mostrado menos prejudiciais em comparação com os tratamentos da glândula inteira.

Neste estudo, de 476 homens inscritos submetidos a crioablação parcial primária de glândula (PPGCA), 313 tinham câncer de próstata de risco intermediário concordante com ressonância magnética (RM) ISUP 2, extensão extracapsular bruta ou doença apical extrema na RM multiparamétrica pré-tratamento. O antígeno prostático específico (PSA) foi monitorado a cada 6 meses e a RM multiparamétrica em 6 a 12, 24, 42 e 60 meses. Biópsias de protocolo em 6-12 meses e 24 meses foram descontinuadas após análise provisória mostrando baixas taxas de câncer de próstata clinicamente significativo (csPCa), definido como qualquer doença ISUP 2. A ausência de falha foi definida como nenhuma mortalidade específica, nenhuma doença metastática ou nenhum tratamento de salvamento de glândula.

Os resultados de Lepor et al. mostram que o csPCa foi detectado em 33 (10,5%) indivíduos. Noventa e um tinham ≥4,5 anos de dados de acompanhamento com média de 8,9, 3,4 e 2,0 testes de antígeno prostático específico de vigilância, ressonâncias magnéticas e biópsias de próstata; nenhum foi perdido no acompanhamento. Em 5 anos, os autores descrevem que as taxas de ausência de recorrência de csPCa em campo, fora de campo e geral foram de 86% (intervalo de confiança [IC] de 95%: 78-96), 85% (IC de 95%: 63-94) e 70% (IC de 95%: 57-84). A proporção com ausência de falha em 5 anos foi de 89% (IC de 95%: 83-95). Nenhum morreu de câncer de próstata, 1 (1%) desenvolveu metástase, 15 (16,5%) foram submetidos a tratamento de salvamento de glândula e 15 (16,5%) foram submetidos à terapia focal de salvamento. Apenas 3 de 91 (3,3%) homens elegíveis não estavam em conformidade com o protocolo de vigilância de 5 anos.

“Tratamentos menos invasivos, como a crioblação, vêm ganhando bastante espaço no tratamento do câncer localizado, tanto no câncer de próstata, como em outros tipos de câncer. Esse estudo vem para somar alternativas de tratamento para esses pacientes com doença localizada de risco intermediário de próstata”, avalia Zucca. O oncologista ressalta a necessidade de mais pesquisas para avaliar a estratégia, uma vez que um paciente do estudo desenvolveu metástase, o que reforça a importância do seguimento. “A crioblação vai ao encontro de tratamentos menos agressivos e personalizados, e se configura como uma excelente alternativa, principalmente para a diminuição de efeitos colaterais”, conclui.

Referência:

Five-year Oncologic Outcomes Following Primary Partial Gland Cryo-ablation Prospective Cohort Study of Men With Intermediate-risk Prostate Cancer. Lepor, Herbert et al. Urology, Volume 196, 189 – 195