O oncologista José Barreto Campello Carvalheira (foto), professor da UNICAMP e atual Coordenador Geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde, é autor correspondente de estudo que avalia as associações da adiposidade, radiodensidade do tecido adiposo e muscularidade com o prognóstico de pacientes com câncer de cabeça e pescoço localmente avançado submetidos à quimiorradioterapia. Os resultados publicados no Frontiers in Nutrition destacam a importância de avaliar a composição corporal e iniciar intervenções nutricionais precoces para melhorar o prognóstico desses pacientes.
Pacientes com câncer de cabeça e pescoço (CCP) apresentam risco aumentado de desnutrição devido à presença do tumor e dos tratamentos, e a composição corporal é um fator prognóstico conhecido nesses pacientes. No entanto, a relação entre as características do tecido adiposo e a sobrevida no CCP ainda não está clara.
Este estudo retrospectivo incluiu 132 pacientes diagnosticados com CCP localmente avançado. A avaliação da composição corporal foi realizada por meio de imagens de tomografia computadorizada (TC) ao nível da terceira vértebra cervical (C3). Foram avaliados a radiodensidade total do tecido adiposo (TATR), o índice total do tecido adiposo (TATI) e o índice de músculo esquelético (IME). O desfecho primário foi a sobrevida global (SG).
Os resultados indicam que pacientes no tercil mais alto de TATI apresentaram menor risco de mortalidade quando comparados àqueles no tercil mais baixo, HR: 0,56, Intervalo de Confiança (IC) de 95%: 0,32-0,96; p = 0,039. O tercil mais alto de TATR não foi associado à morte. Pacientes com maior adiposidade apresentaram maior sobrevida mediana em comparação com pacientes com TATI médio e baixo (p = 0,0193).
Indivíduos com menor TATI apresentaram menor ingestão energética do que pacientes com maior TATI (p = 0,03). Além disso, pacientes com baixa muscularidade apresentaram pior sobrevida global na análise multivariável (HR: 1,77, IC 95%: 1,01-3,07; p = 0,044).
Em síntese, os achados reforçam a importância da adiposidade elevada, além da muscularidade mantida, como fatores protetores independentes para a sobrevida global em pacientes com câncer de cabeça e pescoço localmente avançado. “Nosso estudo destaca a importância crucial de avaliar a composição corporal e iniciar intervenções nutricionais precoces para melhorar o prognóstico desses pacientes”, concluem os autores.
Além de Carvalheira, participam do estudo os pesquisadores Larissa Ariel Oliveira Carrilho, Fabiana Lascala Juliani, Rafaella Caroline de Lellis Moreira, Livia Dias Guerra, Fernanda Silva Santos, Sandra Regina Branbilla, Vivian Naomi Horita, Davi Magalhães Leite Novaes, Carmem Silvia Passos Lima, Maria Carolina Santos Mendes, todos do Departamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP; Daniela Morais de Holanda Padilha (Unicamp/ Nestlé Health Science) e Lígia Macedo Antunes-Correa, da Escola de Educação Física (EFF) da UNICAMP.
Referência:
Carrilho LAO, Juliani FL, Moreira RCL, Dias Guerra L, Santos FS, Padilha DMH, Branbilla SR, Horita VN, Novaes DML, Antunes-Correa LM, Lima CSP, Mendes MCS and Carvalheira JBC (2025) Adipose tissue characteristics as a new prognosis marker of patients with locally advanced head and neck cancer. Front. Nutr. 12:1472634. doi: 10.3389/fnut.2025.1472634