Destacado no ASCO 2025, o ensaio clínico internacional CHALLENGE demonstrou que um programa estruturado de atividade física após cirurgia e quimioterapia adjuvante reduziu o risco de recorrência do câncer ou de uma nova neoplasia e aumentou a sobrevida de pacientes com câncer de cólon em estágio III e estágio II de alto risco. “Este é o primeiro ensaio clínico randomizado de fase 3 a demonstrar que o exercício pós-tratamento é eficaz para melhorar a sobrevida livre de doença nessa população de pacientes”, afirmaram os autores. Os resultados foram publicados simultaneamente na New England Journal of Medicine (NEJM).
Vários estudos observacionais relataram que a atividade física pós-diagnóstico está associada à redução das taxas de recorrência em câncer de cólon em estágio inicial, mas os dados epidemiológicos são limitados. O Canadian Cancer Trials Group (CCTG) CO.21 (CHALLENGE) foi desenvolvido para testar a hipótese de que um aumento significativo na atividade física recreativa após a terapia adjuvante pode melhorar a sobrevida livre de doença (SLD) no câncer de cólon estágio III ou estágio II de alto risco.
Entre 2009 e 2023, o CHALLENGE incluiu 889 pacientes de 55 centros em 6 países, sendo a maior parte desses participantes do Canadá e da Austrália. A idade mediana dos participantes foi de 61 anos e 51% eram do sexo feminino. A maioria dos pacientes (90%) tinha câncer de cólon em estágio III. Os 10% restantes tinham câncer de cólon em estágio II de alto risco. Todos os pacientes haviam passado previamente por cirurgia com intenção curativa e quimioterapia adjuvante.
Os pacientes foram randomizados para um programa de exercícios estruturado (445 pacientes) ou para receber materiais de educação em saúde promovendo atividade física e nutrição saudável (444 pacientes). Todos os participantes também receberam acompanhamento e vigilância padrão do câncer. Os pacientes no programa de exercícios estruturado trabalhavam com um consultor de atividade física duas vezes por mês para sessões de coaching e sessões de exercícios supervisionados. Os consultores forneciam a cada paciente uma "prescrição de exercícios". O objetivo do programa de exercícios estruturado era aumentar a atividade física recreativa em pelo menos 10 MET-horas/semana em relação ao valor basal durante os primeiros 6 meses e manter esse padrão por 3 anos. Após 6 meses, os pacientes se reuniam com seu consultor de atividade física uma vez por mês, com sessões adicionais disponíveis para suporte adicional, se necessário.
Os participantes escolheram o tipo, a frequência, a intensidade e a duração do exercício aeróbico. O endpoint primário foi a sobrevida livre de doença (SLD) comparada por um teste log-rank estratificado realizado com base na intenção de tratar. Os endpoints secundários incluíram a sobrevida global (SG) e os desfechos relatados pelo paciente (a escala de função física SF-36 foi o principal resultado relatado pelos pacientes).
Comparado com o grupo que recebeu apenas materiais de educação em saúde, o programa de exercícios estruturados resultou em melhorias estatisticamente significativas na atividade física recreativa, no VO2máx previsto e na distância percorrida em 6 minutos, todos mantidos ao longo do período de intervenção de 3 anos.
Após um acompanhamento mediano de 7,9 anos, foram observados 224 eventos de sobrevida livre de doença; 93 pacientes do programa de exercícios estruturados apresentaram recidiva do câncer, em comparação com 131 pacientes do grupo de materiais educativos em saúde). Em cinco anos, a taxa de sobrevida livre de doença foi de 80% no programa de exercícios estruturados e de 74% no grupo de materiais educativos em saúde (HR 0,72; IC 95% 0,55-0,94; p = 0,017). Os pacientes do programa de exercícios estruturados apresentaram um risco 28% menor de desenvolvimento de câncer recorrente ou novo do que os pacientes que receberam apenas materiais educativos em saúde.
41 pessoas no programa de exercícios estruturados e 66 no grupo de materiais educativos em saúde faleceram. Após 8 anos, a sobrevida global foi de 90% no programa de exercícios estruturados e de 83% no grupo de materiais educativos em saúde (HR = 0,63; IC 95% = 0,43-0,94; p = 0,022). Os pacientes apresentaram um risco 37% menor de morte se participassem do programa de exercícios estruturados.
A função física do SF-36 melhorou substancialmente com o programa de exercícios aos 6 meses (pontuações médias de mudança de 7,42 vs. 1,10, p < 0,001) e foi mantida por 24 meses.
Os pacientes do programa de exercícios estruturados relataram mais eventos adversos musculoesqueléticos, como distensões musculares ou fraturas ósseas (19%; 79/428), em comparação com o grupo de educação em saúde (12%; 50/433). Dez por cento desses eventos adversos no programa de exercícios estruturados estavam relacionados à sua participação no programa.
Em síntese, em pacientes com câncer de cólon em estágio 3 e estágio 2 de alto risco, um programa de exercícios estruturados de 3 anos, iniciado logo após a conclusão da quimioterapia adjuvante, melhora a sobrevida livre de doença, a sobrevida global, o funcionamento físico relatado pelo paciente e a aptidão física relacionada à saúde. “Os sistemas de saúde devem incorporar programas de exercícios estruturados como padrão de atendimento para essa população de pacientes”, destacam os pesquisadores, que agora pretendem explorar como o exercício reduz a recorrência do câncer estudando amostras de sangue dos participantes do CHALLENGE.
O estudo foi financiado pela Sociedade Canadense do Câncer, pelo Conselho Nacional de Pesquisa Médica e em Saúde, pelo Cancer Research UK e pelo Fundo de Pesquisa do Câncer da Universidade de Sydney.
Referência:
Abstract LBA3510: A randomized phase III trial of the impact of a structured exercise program on disease–free survival (DFS) in stage 3 or high-risk stage 2 colon cancer: Canadian Cancer Trials Group (CCTG) CO.21 (CHALLENGE).
First Author: Christopher Booth
Meeting: 2025 ASCO Annual Meeting
Session Type: Clinical Science Symposium
Session Title: Adjunctive Therapies in Colon Cancer: As Good as a Drug?
Track: Gastrointestinal Cancer—Colorectal and Anal
Sub Track: Colorectal Cancer–Local-Regional Disease
Clinical Trial Registration Number: NCT00819208
Citation: J Clin Oncol 43, 2025 (suppl 17; abstr LBA3510)
DOI: 10.1200/JCO.2025.43.17_suppl.LBA3510
Abstract: #LBA3510