Na coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista Andre Murad (foto) destaca a plataforma de patologia computacional ‘pontuação contínua quantitativa’ (QCS) e seu papel como biomarcador preditivo de resposta a conjugados anticorpo-fármaco (ADCs) direcionados a TROP2 em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas. Confira.
Por André Marcio Murad*
Datopotamabe deruxtecan (Dato-DXd) é um conjugado anticorpo-fármaco (ADC) direcionado à proteína TROP2 e projetado com um ligante estável de plasma exclusivo. Para a liberação eficaz de sua carga útil, necessita de uma internalização ativa.
Os métodos tradicionais de avaliação da expressão de TROP2 por meio de pontuação visual de ensaios imunohistoquímicos (IHC) não são preditivos de respostas a ADCs direcionados a TROP2 em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP).
Por esta razão, a busca por um biomarcador que seja efetivamente preditor de respostas ao ADC tem sido empreendida, pois uma medição quantitativa mais precisa da expressão de TROP2 tanto na membrana celular quanto no citoplasma deve melhor prever as respostas terapêuticas a Dato-DXd.
Os resultados de uma análise exploratória do estudo TROPION-Lung01 Fase III mostraram que o TROP2, medido pela plataforma de patologia computacional proprietária da AstraZeneca, pontuação contínua quantitativa (QCS), foi preditivo de resultados clínicos em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) avançado ou metastático que foram tratados com Dato-DXd. Em pacientes com tumores positivos para biomarcadores TROP2-QCS, datopotamab deruxtecan demonstrou uma magnitude significativamente maior de eficácia em relação ao docetaxel do que na população geral do estudo.
Esta análise utilizou imagens de lâminas inteiras (WSI) coradas por IHC de TROP2 digitalizadas de pacientes com CPCNP para desenvolver o modelo QCS. Este algoritmo de aprendizado profundo, treinado em anotações de patologistas, identifica áreas tumorais e compartimentos celulares (membrana e citoplasma) dentro do WSI. O modelo QCS calcula a expressão de TROP2 na membrana em relação ao citoplasma das células tumorais, produzindo uma razão de membrana normalizada (NMR). Os tumores foram classificados como TROP2 QCS-NMR+ se a maioria das células tumorais exibisse um NMR abaixo de um valor predeterminado.
O QCS-NMR foi otimizado para sobrevida livre de progressão (PFS) no subgrupo avaliável por biomarcador de pacientes com CPCNP não escamoso (NSQ) sem alterações genômicas acionáveis (não-AGA) no TROPION-Lung01, que comparou Dato-DXd ao docetaxel em CPCNP avançado ou metastático de segunda linha ou posterior. Os resultados clínicos foram avaliados em todos os pacientes avaliáveis por biomarcador.
*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da Clínica OncoLavras