Em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista Andre Murad (foto) explica a relação entre disbiose, inflamação e a carcinogênese do câncer colorretal. “O estado inflamatório crônico ativa vias de sinalização oncogênicas, criando um ambiente pró-tumoral no cólon, provocando a ruptura da barreira epitelial e a inflamação celular crônica”, esclarece. Confira.
Por André Marcio Murad*
A disbiose microbiana, combinada com o desequilíbrio imunológico do hospedeiro, pode comprometer a barreira epitelial intestinal, permitindo a translocação bacteriana para os tecidos subjacentes. Padrões moleculares associados a microrganismos (MAMPs) são reconhecidos por receptores Toll-like (TLRs) em células epiteliais e imunológicas, desencadeando inflamação persistente. Esse estado inflamatório crônico ativa vias de sinalização oncogênicas, criando um ambiente pró-tumoral no cólon, provocando a ruptura da barreira epitelial e a inflamação celular crônica.
Por outro lado, cascatas de citocinas mediadas por Fusobacterium nucleatum e pks+ E. coli contribuem para a progressão tumoral e metástase por meio de sua proteína Fap2, que induz a secreção de IL-8 e CXCL1. Essas quimiocinas sustentam redes de citocinas pró-tumorais e remodelam o microambiente tumoral, favorecendo a invasão e disseminação de células cancerígenas.
Supressão da imunidade antitumoral
Além de promover a inflamação, a F. nucleatum prejudica a imunidade antitumoral ao reduzir a infiltração de células T CD4 e CD8 no tumor, um mecanismo também dependente de Fap2. Essa evasão imunológica facilita a sobrevivência e a progressão do tumor.
Sinalização MAMP-TLR e equilíbrio pró-inflamatório
As interações entre MAMPs e TLRs impulsionam a produção de citocinas pró-inflamatórias, como IL-23, enquanto suprimem mediadores anti-inflamatórios, como IL-10. Esse desequilíbrio mantém um ambiente pró-inflamatório crônico que favorece a carcinogênese colorretal.
Implicações terapêuticas
- Direcionamento do microbioma: estratégias como o uso de probióticos, prebióticos, transplante de microbiota fecal (TMF) ou mudanças na dieta estão sendo exploradas para restaurar um microbioma intestinal saudável e potencialmente prevenir ou tratar o câncer colorretal.
- Biomarcadores: o sequenciamento do microbioma está ajudando a identificar biomarcadores microbianos para detecção precoce e abordagens de tratamento personalizadas.

*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da Clínica OncoLavras