Estudo brasileiro publicado no JCO Global Oncology avaliou o cenário assistencial aos adolescentes e jovens adultos com câncer no Brasil. “Nosso trabalho revelou disparidades e lacunas infraestruturais importantes, apontando para a necessidade de estratégias imediatas como a proposta de uma diretriz recurso-adaptada objetivando garantir os requisitos mínimos assistenciais a essa população”, avaliam os autores. Angélica Nogueira-Rodrigues (na foto, à esquerda) é a autora sênior do trabalho, que tem a oncologista Ana Kazzi como primeira autora.
O câncer em adultos jovens se projeta como um importante problema de saúde pública, e são evidentes os desafios e necessidades não atendidas. Devido às desigualdades sociodemográficas, as iniciativas para mudar esse cenário precisam ser expandidas globalmente, especialmente para países de baixa e média renda.
Nesse estudo, médicos envolvidos no tratamento de adolescentes e jovens adultos com câncer foram convidados a responder a uma pesquisa online de alcance nacional. As perguntas cobriram vários aspectos, desde a demografia dos cuidados de saúde até o acesso a especialistas em fertilidade e aconselhamento genético. A disponibilidade de serviços dedicados ao cuidado oncológico para essa população foi o endpoint primário do estudo, e os resultados foram estratificados por região e ambiente de tratamento (público x privado).
Resultados
Entre os médicos que responderam à pesquisa (n = 249), 90% relataram não ter disponibilidade de um serviço dedicado aos adolescentes e adultos jovens com câncer. Apenas 20% informaram acesso a especialistas em fertilidade (fertileucos) e 30% dispunham de programas de survivorship dentro de suas instituições.
Mesmo os encaminhamentos externos para outras especialidades são desafiadores, com 24% dos médicos relatando barreiras. Apesar da potencial cardiotoxicidade relacionada aos tratamentos, 43% dos entrevistados relataram que raramente encaminham seus pacientes para cardio-oncologia. Além disso, 36% dos médicos relataram que não consideram encaminhar esses pacientes para ensaios clínicos e 42% nunca solicitaram um teste genético. A falta de recursos humanos especializados foi particularmente mais evidente na região Norte do país.
“Nosso trabalho levantou preocupações sobre inequidades assistenciais aos adultos jovens com câncer, como manejo de efeitos tardios do tratamento e transição de cuidados, além de restrições de acesso a serviços especializados, como aconselhamento oncogenético e centros de fertilidade. Esses dados podem espelhar a realidade de outros países de baixa e média renda”, concluem os autores.
Referência: Kazzi AIM, Diniz PHC, Mano M, Nogueira-Rodrigues A. Challenging Outlook of Caring for Adolescents and Young Adults With Cancer in Brazil: Results of a Nationwide Survey. JCO Glob Oncol. 2023 Aug;9:e2300078. doi: 10.1200/GO.23.00078. PMID: 37561979.