Onconews - Neuropatia periférica induzida por quimioterapia afeta 4 em cada 10 pacientes

Revisão sistemática e meta-análise envolvendo dados de 28 países, de 2000 a 2024, apresenta a primeira estimativa global da prevalência de neuropatia periférica induzida por quimioterapia (NPIQ), destacando sua carga significativa em pacientes em todo o mundo. “O estudo mostra sua real dimensão, com 41,22% dos pacientes apresentando neuropatia crônica dolorosa, chegando a 60,26% em pacientes com câncer de pulmão”, destaca Ricardo Caponero (foto), oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Os pesquisadores buscaram avaliar a prevalência combinada de NPIQ dolorosa crônica (≥3 meses) entre pacientes diagnosticados com NPIQ, de acordo com as diretrizes PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses). A análise de subgrupo foi conduzida com base na região geográfica, sexo, regime de quimioterapia, tipo de câncer primário e fonte de financiamento; a análise de meta-regressão foi conduzida com base no desenho do estudo, índice de desenvolvimento humano (IDH) e ano de publicação.

Os resultados relatados na Regional Anesthesia & Pain Medicine  mostram que 77 estudos de 28 países foram incluídos, abrangendo 10.962 pacientes com NPIQ. Entre aqueles diagnosticados com NPIQ, a prevalência dos pacientes que relataram NPIQ dolorosa crônica foi estimada em 41,22% (IC de 95% 32,40 a 50,19; intervalo de predição de 95% 23,71 a 61,28). A análise de subgrupos revelou que os pacientes tratados com agentes à base de platina e taxanos tiveram a maior prevalência de NPIQ dolorosa crônica (40,44% e 38,35%, respectivamente) e, entre os cânceres primários, aqueles com câncer de pulmão foram os mais afetados (60,26%).

“Nosso estudo revelou que entre os pacientes diagnosticados com NPIQ, a prevalência combinada de NPIQ dolorosa crônica, derivada de 77 estudos abrangendo 10.962 pacientes e 28 países, foi estimada em 41,22%”, destacam os autores. “A variação na prevalência entre regiões geográficas, regimes de quimioterapia e cânceres primários ressalta a necessidade de estratégias personalizadas de gerenciamento da dor e mais pesquisas para abordar potenciais disparidades”, analisam.

A íntegra do estudo  está disponível em acesso aberto.

O estudo em contexto

Por Ricardo Caponero, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz

A neurotoxicidade da quimioterapia citotóxica é um problema grave. Ela está associada ao uso de vários medicamentos (platinantes, taxanos, alcalóides da vinca, bortezomibe, etc.) e é um evento frequente na rotina de todos os oncologistas. E deve ficar mais frequente, por exemplo, porque as neoplasias colorretais (e o uso de oxaliplatina) estão em franco aumento da incidência.

Além do desconforto da alteração sensitiva, muitos desses pacientes cursam com dor neuropática, de tratamento difícil, resultados modestos no tratamento e longa duração, que por vezes se torna permanente e com gravidade tal que alguns pacientes relatam que preferiam ter morrido pelo câncer do que ficar com essa sequela.

Muitas tentativas foram feitas para minimizar esse efeito (por exemplo, xaliproden, cálcio e magnésio, luvas térmicas, etc.) mas todos com resultados insignificantes. A única recomendação padrão da American Society of Clinical Oncology (ASCO) é para o uso da duloxetina. Em nosso meio é usual o uso de tricíclicos, gabapentinóides e pregabalina, mas que não impedem a neurotoxicidade, apenas aliviam seus sintomas.

O estudo de Ryan S D'Souza não dá uma solução para o problema, mas mostra sua real dimensão, com 41,22% dos pacientes apresentando neuropatia crônica dolorosa, chegando a 60,26% em pacientes com câncer de pulmão.

Esse é uma necessidade não atendida. Além de buscar melhores desfechos de eficácia com novos tratamentos, precisamos incrementar nossos esforços na busca por soluções que minimizem os eventos adversos, principalmente os desconfortáveis e duradouros como a neuropatia, que se não colocam a vida em risco, pioram muito a sua qualidade.

Referência:

D'Souza RS, Saini C, Hussain N, et al. Global estimates of prevalence of chronic painful neuropathy among patients with chemotherapy-induced peripheral neuropathy: systematic review and meta-analysis of data from 28 countries, 2000–24. Regional Anesthesia & Pain Medicine Published Online First: 29 January 2025. doi: 10.1136/rapm-2024-106229