Revisão sistemática e meta-análise de 24 ensaios clínicos randomizados envolvendo 22.166 pacientes mostrou que a adição de inibidores de sinalização do receptor de andrógeno à terapia padrão de privação androgênica foi associada a um risco significativamente maior de eventos cardiovasculares.
Os eventos cardiovasculares continuam sendo uma causa importante de mortalidade entre homens com câncer de próstata avançado e metastático (CaP). A introdução de novos inibidores de sinalização do receptor de andrógeno (ARSI) transformou o cenário de tratamento do CaP nos últimos anos.
Neste estudo, o objetivo dos pesquisadores foi avaliar a incidência de eventos cardiovasculares (CV) com a adição de ARSI ao tratamento padrão em pacientes com CaP localmente avançado (M0) e metastático (M1).
Foram consideradas as bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science, EMBASE e ClinicalTrials.gov em busca de ensaios clínicos randomizados de agentes ARSI (abiraterona, apalutamida, darolutamida, enzalutamida) que relataram eventos CV entre indivíduos com câncer de próstata sensível a hormônios (HSPC) e câncer de próstata resistente à castração (CRPC) M0 e M1, até maio de 2023. Os estudos foram revisados sistematicamente de acordo com a orientação PRISMA. Meta-análise de efeitos aleatórios foi realizada para estimar as razões de risco para a incidência de todos os eventos cardiovasculares e eventos CV de grau 3 ou superior (desfechos primários), além de hipertensão, síndrome coronariana aguda (SCA), disritmia cardíaca, morte CV, evento cerebrovascular e tromboembolismo venoso (desfechos secundários).
Os resultados de El-Taji et al. relatados no JAMA Oncology mostram que 24 estudos cumpriram os critérios de inclusão (n = 22166 pacientes; faixa etária mediana, 63-77 anos; tempo mediano de acompanhamento, 3,9-96 meses). Os autores descrevem que a terapia ARSI foi associada ao aumento do risco de eventos CV de qualquer de grau (razão de risco [RR], 1,75; IC de 95%, 1,50-2,04; P < 0,001) e eventos CV de grau 3 ou superior (RR, 2,10; 95%, 1,72-2,55; P < 0,001). A terapia ARSI também foi associada ao aumento do risco de eventos de grau 3 ou superior para hipertensão (RR, 2,25; IC de 95%, 1,74-2,90; P < 0,001), SCA (RR, 1,93; IC de 95%, 1,43-1,60; P < 0,01), disritmia cardíaca (RR, 1,64; IC de 95%, 1,23-2,17; P < 0,001), eventos cerebrovasculares (RR, 1,86; IC de 95%, 1,34-2,59; P < 0,001) e para morte relacionada a eventos CV (RR, 2,02; IC de 95%, 1,32-3,10; P = 0,001).
A análise de subgrupo demonstrou aumento do risco de todos os eventos CV em todo o espectro da doença (M0 HSPC: RR, 2,26; IC de 95%, 1,36-3,75; P = 0,002; M1 HSPC: RR, 1,85; IC de 95%, 1,47-2,31; P < 0,001; M0 CRPC: RR, 1,79; IC de 95%, 1,13-2,81; P = 0,01; M1 CRPC: RR, 1,46; IC de 95%, 1,16-1,83; P = 0,001).
Esses resultados sugerem que pacientes com câncer de próstata devem ser aconselhados e monitorados para um risco aumentado de eventos cardiovasculares com o início de inibidores de sinalização do receptor de andrógeno juntamente com a terapia hormonal convencional.
Referência:
El-Taji O, Taktak S, Jones C, Brown M, Clarke N, Sachdeva A. Cardiovascular Events and Androgen Receptor Signaling Inhibitors in Advanced Prostate Cancer: A Syste23matic Review and Meta-Analysis. JAMA Oncol. Published online June 06, 2024. doi:10.1001/jamaoncol.2024.1549