neuroCraniofaringiomas são tumores cerebrais primários do eixo hipófise-hipotálamo e podem causar sequelas clinicamente significativas. Em artigo na New England Journal of Medicine, Brastianos et al. mostram que em pequeno estudo de braço único, 15 de 16 pacientes tiveram uma resposta parcial ou melhor à inibição BRAF-MEK. “Todos os pacientes que completaram um ou mais ciclos da terapia responderam ao tratamento, que é a maior taxa de resposta até o momento de qualquer terapia médica para tumores cerebrais”, disse a primeira autora, Priscilla Brastianos, do Mass General Cancer Center.

O tratamento com o uso de cirurgia, radiação ou ambos geralmente está associado a morbidade substancial nos craniofaringiomas, principalmente relacionada à perda de visão, disfunção neuroendócrina e perda de memória. A genotipagem mostrou que mais de 90% dos craniofaringiomas papilares carregam mutações BRAF V600E, mas faltam dados com relação à segurança e eficácia da inibição BRAF-MEK em pacientes que não foram expostos à radioterapia.

Neste estudo multicêntrico de fase II, conduzido pela Alliance, foram elegíveis pacientes com craniofaringioma papilar com mutações BRAF, não expostos à radioterapia prévia e com doença mensurável, para receber a combinação de inibidores BRAF-MEK vemurafenibe-cobimetinibe em ciclos de 28 dias. O endpoint primário foi a resposta objetiva em 4 meses.

Dezesseis pacientes, de nove centros, foram incluídos no estudo e 15 completaram pelo menos um ciclo de 28 dias do tratamento. Ao longo de quatro ciclos, 15 (94%; intervalo de confiança [IC] de 95%, 70 a 100) tiveram resposta parcial objetiva durável ou melhor à terapia.

A redução média no tamanho do tumor foi de 91%, variando de 68 a 99%. Sete pacientes não receberam nenhum outro tratamento após a descontinuação de vemurafenibe/cobimetinibe e seis não demonstraram evidência de progressão tumoral em um seguimento mediano de quase dois anos. Nenhum paciente morreu ou teve progressão da doença durante o tratamento.

Três pacientes descontinuaram o tratamento devido a eventos adversos, com um paciente descontinuando a terapia após oito dias por anafilaxia e lesão renal aguda. Os eventos adversos mais comuns foram erupções cutâneas, relatadas por seis pacientes. Ainda assim, muitos pacientes toleraram bem as drogas, optando por continuar a terapia além dos quatro ciclos prescritos como resultado de sua resposta positiva a ela. “Esses resultados sem precedentes sinalizam uma mudança de paradigma para direcionar tumores cerebrais porque mostram que, com o alvo certo e os medicamentos certos, a medicina de precisão pode ter um impacto dramático nos tumores cerebrais”, analisa a primeira autora.

Este estudo está registrado na ClinicalTrials.gov: NCT03224767

Referência: Brastianos PK, Twohy E, Geyer S, Gerstner ER, Kaufmann TJ, Tabrizi S, Kabat B, Thierauf J, Ruff MW, Bota DA, Reardon DA, Cohen AL, De La Fuente MI, Lesser GJ, Campian J, Agarwalla PK, Kumthekar P, Mann B, Vora S, Knopp M, Iafrate AJ, Curry WT Jr, Cahill DP, Shih HA, Brown PD, Santagata S, Barker FG 2nd, Galanis E. BRAF-MEK Inhibition in Newly Diagnosed Papillary Craniopharyngiomas. N Engl J Med. 2023 Jul 13;389(2):118-126. doi: 10.1056/NEJMoa2213329. PMID: 37437144.