Onconews - HORSE/MITO-18: resultados não apoiam HIPEC na citorredução secundária do câncer de ovário

Em mulheres com câncer epitelial de ovário  sensível à platina que apresentam recorrência da doença após cirurgia de citorredução completa ou ótima (tumor residual <0.25 cm), a adição de quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC) associada à cirurgia de citorredução secundária não aumentou a sobrevida livre de progressão (SLP) comparada à cirurgia de citorredução isolada. Os resultados foram relatados por Anna Fagotti e colegas, para quem os critérios de seleção podem explicar a falha do desfecho primário e as diferenças de SLP em comparação com os ensaios GOG213, DESKTOP-III e SOC-1. “HIPEC não deve ser usada em mulheres com câncer de ovário recorrente sensível à platina submetidas à cirurgia de citorredução secundária sem terapia neoadjuvante”, destacam.

Neste estudo multicêntrico randomizado de fase III, o objetivo foi avaliar a adição de HIPEC à cirurgia de citorredução secundária em pacientes com câncer epitelial de ovário  recorrente sensível à platina (intervalo sem platina > 6 meses). Foram elegíveis pacientes com tumor residual ≤ 0,25 cm, randomizados no momento da cirurgia. HIPEC com cisplatina 75 mg/m2 por 60 minutos a 41,5 °C foi administrada no final da cirurgia no braço experimental. Ambos os grupos receberam quimioterapia pós-operatória à base de platina. O desfecho primário foi sobrevida livre de progressão (SLP). O perfil de segurança e a sobrevida pós-recorrência foram os desfechos secundários.

Ao todo, 167 pacientes foram randomizadas para receber cirurgia de citorredução secundária mais HIPEC (braço experimental; n= 82 pacientes) ou citorredução isolada (braço controle; n=85). O acompanhamento mediano foi de 83 meses (IQR, 64-102).

Os resultados foram relatados no Journal of Clinical Oncology (JCO) e mostram que a SLP mediana foi de 23 meses (IC de 95%, 17 a 29) no grupo que foi submetido apenas à cirurgia de citorredução secundária e de 25 meses (IC de 95%, 18 a 32) no grupo que recebeu cirurgia de citorredução associada à HIPEC. A probabilidade de sobrevida pós-recorrência em 5 anos foi de 61,6% (IC de 95%, 50,8 a 72,4) no grupo que recebeu apenas cirurgia de citorredução secundária e de 75,9% (IC de 95%, 66,5 a 85,3) no grupo que recebeu HIPEC associada à citorredução secundária.

Em relação à segurança, a incidência de eventos adversos pós-operatórios de qualquer grau foi semelhante entre os dois grupos.

“A adição de quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC) à cirurgia citorredutora secundária não conferiu benefício em termos de SLP em pacientes com recorrência peritoneal sensível à platina”, concluem os autores.

A análise de Fagotti et al. aponta duas explicações possíveis para a falha do desfecho primário. “A primeira está na seleção de pacientes extremamente sensíveis à platina (mediana de intervalo livre de platina, 18 meses). A segunda explicação está na seleção de pacientes no momento da cirurgia. De fato, a grande maioria dos pacientes na população do estudo (95%) atingiu ressecção bruta completa, com os 5% restantes tendo RT < 0,25 cm, ao preço de uma complexidade simples/intermediária de cirurgia na maioria dos casos”, sublinham.

Referência:

Anna Fagotti et al., Hyperthermic Intraperitoneal Chemotherapy in Platinum-Sensitive Recurrent Ovarian Cancer: A Randomized Trial on Survival Evaluation (HORSE; MITO-18). JCO 0, JCO.24.00686. DOI:10.1200/JCO.24.00686