Onconews - ESOPEC: pesquisa mostra benefício de SG da QT perioperatória com FLOT no câncer de esôfago localmente avançado

Artigo de Hoeppner et al. na New England Journal of Medicine (NEJM) apresentou os resultados do ensaio ESOPEC, indicando que a quimioterapia perioperatória com FLOT levou à melhora da sobrevida em pacientes com adenocarcinoma esofágico localmente avançado ressecável. “O estudo ESOPEC trouxe uma resposta importante para a neoadjuvância do adenocarcinoma de esôfago, demonstrando que a quimioterapia sistêmica foi superior à quimiorradiação em termos de sobrevida global”, avalia o oncologista Rui Weschenfelder (foto), coordenador do Núcleo de Oncologia Gastrointestinal do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS).

Neste estudo randomizado multicêntrico de fase 3 (NCT02509286) pacientes com adenocarcinoma esofágico ressecável foram randomizados (1:1) para receber quimioterapia perioperatória com FLOT (fluorouracil, leucovorina, oxaliplatina e docetaxel) mais cirurgia ou quimiorradioterapia pré-operatória (radioterapia na dose de 41,4 Gy e carboplatina e paclitaxel) mais cirurgia. Foram elegíveis pacientes com tumor primário estágio clínico cT1 cN+, cT2–4a cN+ ou cT2–4a cN0, em que T indica o tamanho e a extensão do tumor (números mais altos indicam um tumor mais avançado) e N indica a presença (N+) ou ausência (N0) de disseminação do câncer para os linfonodos, sem evidência de disseminação metastática. O desfecho primário foi a sobrevida global.

Os resultados relatados por Hoeppner e colegas mostram que de fevereiro de 2016 a abril de 2020, 221 pacientes foram randomizados para o grupo FLOT e 217 pacientes para o grupo de quimiorradioterapia pré-operatória. Com um acompanhamento mediano de 55 meses, a sobrevida global em 3 anos foi de 57,4% (intervalo de confiança [IC] de 95%, 50,1 a 64,0) no grupo FLOT e de 50,7% (IC de 95%, 43,5 a 57,5) no grupo de quimiorradioterapia pré-operatória (razão de risco para morte, 0,70; IC de 95%, 0,53 a 0,92; P=0,01). A sobrevida livre de progressão em 3 anos foi de 51,6% (IC de 95%, 44,3 a 58,4) no grupo FLOT e de 35,0% (IC de 95%, 28,4 a 41,7) no grupo de quimiorradioterapia pré-operatória (razão de risco para progressão da doença ou morte, 0,66; IC de 95%, 0,51 a 0,85).

A análise de segurança revela que eventos adversos de grau 3 ou superior foram observados em 120 de 207 pacientes (58,0%) no grupo FLOT e em 98 de 196 pacientes (50,0%) no grupo tratado com quimiorradioterapia pré-operatória. Eventos adversos sérios foram observados em 98 de 207 pacientes (47,3%) no grupo FLOT e em 82 de 196 pacientes (41,8%) no grupo de quimiorradioterapia pré-operatória. A mortalidade em 90 dias após a cirurgia foi de 3,1% no grupo FLOT e de 5,6% no grupo de quimiorradioterapia pré-operatória.

“A quimioterapia perioperatória com FLOT levou à melhora da sobrevida entre pacientes com adenocarcinoma esofágico ressecável em comparação com a quimiorradioterapia pré-operatória”, destacam os autores.

Para Weschenfelder, chama a atenção o fato de apenas dois terços dos pacientes no grupo CROSS terem completado o tratamento pré-operatório, um número inferior ao esperado na prática clínica, o que pode ter impactado negativamente seus resultados. “Além disso, o papel da imunoterapia adjuvante após CROSS permanece uma questão em aberto e poderia modificar esses achados”, observa. “Apesar dessas considerações, o estudo apresenta um dado robusto e aponta a quimioterapia como estratégia preferencial para esses pacientes”, conclui o especialista.

O câncer de esôfago é uma doença altamente letal e a sétima principal causa de morte relacionada ao câncer. Em 2022, foram registrados globalmente 511.000 novos casos de câncer de esôfago e 445.000 mortes pela doença em todo o mundo.

Referência:

N Engl J Med 2025;392:323-335. VOL. 392 NO. 4