sara patricia 2023As pesquisadoras Patricia Abrão Possik, do INCA (na foto, à direita) e Sara Santos Bernardes, da UFMG, são autoras correspondentes de estudo que avaliou o impacto das características clínicas e histopatológicas na sobrevida livre de doença de pacientes com melanoma acral estágios I-II. Os resultados foram publicados no International Journal of Dermatology.

O melanoma acral é raro em descendentes de europeus, porém, um dos mais prevalentes em negros, ameríndios e asiáticos, e está associado a um pior prognóstico em comparação com o melanoma cutâneo em outras localidades. Apesar disso, poucos estudos têm focado no seu prognóstico, principalmente em pacientes em estágio clínico inicial.

Nesse estudo, os pesquisadores analisaram 154 casos de melanoma acral estágio I-II, todos submetidos à revisão dos parâmetros histopatológicos e clínicos pela médica patologista Aretha Brito Nobre e pelo cirurgião oncológico Luiz Fernando Nunes, ambos do INCA. Os pacientes foram divididos em grupos com base na presença ou ausência de recorrência da doença em 5 anos. Foi utilizada a regressão proporcional de Cox para analisar fatores de risco independentes, e calculadas curvas de sobrevida livre de doença (SLD) usando o método Kaplan-Meier.

Resultados

Em 5 anos, 27,9% dos pacientes apresentaram recorrência da doença, com 90,4% ocorrendo durante os primeiros 3 anos. A mediana de tempo para a recorrência da doença após o diagnóstico inicial foi de 21 meses.  Parâmetros já bem estabelecidos para a recorrência do melanoma cutâneo, como medida de espessura de Breslow, presença de ulceração e índice mitótico elevado foram identificados na análise univariada. A análise multivariada não identificou nenhum parâmetro histopatológico ou clínico com influência significativa na SLD em 5 anos.

No entanto, foi observado que a medida de espessura de Breslow, a presença de ulceração, >3 mitose/mm2, a presença de linfócitos infiltrantes tumorais (TIL) e a invasão perineural foram significativamente associadas a uma diminuição no tempo até a primeira recorrência.

Em síntese, os resultados demonstraram que apesar do prognóstico favorável do melanoma acral em estágio I-II em comparação com o estágio avançado, outras características histopatológicas podem impactar o prognóstico dos pacientes. “Além da espessura e ulceração de Breslow, deve-se prestar atenção à taxa mitótica, à presença de TILs e à invasão perineural para otimizar o acompanhamento de pacientes com melanoma acral diagnosticados no estágio clínico inicial”, concluíram os autores.

Além de Sara e Patrícia, participaram do estudo os pesquisadores Raquel Borges de Barros Primo (UFGD), Aretha Brito Nobre (INCA), Bruna Nathália Santos (UFMG), Luiz Fernando Nunes (INCA), e Ricardo Fernandes (UFGD).

Referência: Borges de Barros Primo, R., Brito Nobre, A., Santos, B.N., Nunes, L.F., Fernandes, R., Abrão Possik, P. and Santos Bernardes, S. (2023), Impact of clinical and histopathological characteristics on the disease-free survival of stage I-II acral melanoma patients. Int J Dermatol, 62: 1281-1288. https://doi.org/10.1111/ijd.16800