fabio franke bxEstudo de Fox et al. publicado online no JCO Global Oncology buscou produzir uma lista de áreas prioritárias para pesquisa em câncer em países com recursos limitados. Os resultados destacam que prevenção, diretrizes de tratamento e a implementação sustentável de registros de câncer estão entre as prioridades estratégicas em países de baixa e média renda. O oncologista Fábio Franke (foto), diretor do Oncosite – Centro de Pesquisa Clínica em Oncologia, comenta o trabalho.

Depois da COVID-19, o cenário de financiamento para pesquisas sobre o câncer tornou-se cada vez mais desafiador em todo o mundo, principalmente em regiões com recursos limitados e sem ecossistemas fortes de pesquisa.

Nesta análise, os autores descrevem que especialistas em câncer de sistemas de saúde com poucos recursos (definidos pelo Banco Mundial como países de baixa e média renda; N = 151) foram contatados para participar de uma pesquisa pelo método Delphi modificado, compreendendo duas rodadas em busca de consenso. Na rodada 1, os participantes (n = 69) classificaram áreas de prioridade potencial de pesquisa (ARPs, de potential research priority) quanto à importância e sugeriram ARPs ausentes. Na rodada 2, os mesmos participantes (n = 49) classificaram uma lista de ARPs sugeridas na rodada 1 e, em seguida, hierarquizaram essas prioridades, que foram discutidas com representantes de organizações internacionais de defesa dos pacientes.

Os resultados de Fox e colegas mostram que a principal ARP foi a pesquisa de estratégias de adaptação de diretrizes ou estratégias de tratamento de acordo com os recursos disponíveis (particularmente terapia sistêmica) (T = 83). Outras prioridades de pesquisa definidas no estudo incluíram registros de câncer (T = 62), prevenção (T = 52), cuidados de fim de vida (T = 53) e cuidados baseados em valor e acessíveis (T = 51).

Os pesquisadores relatam que a principal ARP relacionada à COVID-19/câncer enfatizou estratégias para incorporar o que foi aprendido durante a pandemia e que pode ser mantido posteriormente (T = 36). As prioridades COVID-19/câncer também incluíram interrupção do esquema de tratamento (T = 24), redução custo-efetiva da morbidade/mortalidade por COVID-19 (T = 19) e preparação para pandemia (T = 18).

Em síntese, as áreas de prioridade estratégica de pesquisa para regiões com recursos limitados estão relacionadas a diretrizes de tratamento e à implementação sustentável de registros de câncer, além de pesquisas voltadas a estratégias de prevenção, cuidados de câncer acessíveis e baseados em valor, investimentos em capacitação em pesquisa, trabalho epidemiológico sobre fatores de risco e combate às desigualdades de prevenção e acesso aos cuidados.

“O que chama atenção na conclusão dos autores é que a preocupação dos países de baixa e média renda é com questões bem básicas como acesso, prevenção, epidemiologia, registro do câncer, protocolos e diretrizes. Isso só mostra como ainda temos muita dificuldade não só em acesso a novos tratamentos e novas tecnologias, mas também dificuldades nessa estrutura básica, fundamental para que a gente tenha mais dados epidemiológicos e dados com relação aos principais tipos de câncer para poder estabelecer quais seriam as prioridades de investimento”, observa o oncologista Fabio Franke.

“Fica a lição de que precisamos nos preocupar com essa estruturação básica, e a pesquisa tem enorme valor nisso. É através dessa coleta de dados que nós vamos poder planejar melhor o futuro da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento do cancer em nosso país”, conclui.

Referência: Fox L, Santaolalla A, Handford J, Sullivan R, Torode J, Vanderpuye V, Pramesh CS, Mula-Hussain L, AlWaheidi S, Makaroff LE, Kaur R, Mackay C, Mukherji D, Van Hemelrijck M. Redefining Cancer Research Priorities in Low- and Middle-Income Countries in the Post-COVID-19 Global Context: A Modified Delphi Consensus Process. JCO Glob Oncol. 2023 Aug;9:e2300111. doi: 10.1200/GO.23.00111. PMID: 37561978.