Onconews - Radioterapia na ASCO 2019

Robson Ferrigno NET OK 2O rádio-oncologista Robson Ferrigno (foto), médico responsável pelos Serviços de Radioterapia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, comenta os principais estudos apresentados na ASCO 2019 que envolveram radioterapia. Em pauta, trabalhos em tumores de próstata, nasofaringe, estômago, colo do útero, e metástases cerebrais de melanoma. Confira a análise do especialista.

Por Robson Ferrigno

Próstata

O estudo francês randomizado GETUG AFU 16, previamente publicado (Carrie C, et al Lancet Oncol 2016), comparou radioterapia (RT) combinada com seis meses de bloqueio hormonal (HT) versus radioterapia isolada para pacientes com câncer de próstata que apresentaram recaída bioquímica após prostatectomia, com PSA entre 0,2 e 2,0 ng/dL. A atualização apresentada, agora com seguimento mediano de 112 meses, mostrou que a sobrevida livre de progressão em 10 anos foi maior no grupo de pacientes tratados com RT + HT (HR=0,54; p<0,0001), bem como a sobrevida livre de metástases em 10 anos (HR=0,73; p=0,034). Não houve diferença na sobrevida global, provavelmente pela possibilidade de resgate nos pacientes que apresentaram progressão. Esse estudo confirma a tendência atual em combinar a radioterapia com a hormonioterapia para esses pacientes, como também demonstrado pelos estudos RTOG 9601 e RTOG 0534 (SPPORT trial).

Nasofaringe

Dois estudos chineses prospectivos e randomizados mostraram aumento de sobrevida livre de doença e sobrevida global com o emprego de quimioterapia (QT) de indução seguida de radioterapia (RT) e QT concomitantes em comparação com apenas RT + QT concomitantes no tratamento dos pacientes com câncer de nasofaringe localmente avançado (estádios III e IV). Esses dois estudos vêm ao encontro do estudo randomizado Sun Y e colegas, publicado no Lancet Oncology em 2016 (Sun Y, et al. Lancet Oncol 2016). Um dos estudos apresentadosfoi publicado simultaneamente no New England Journal of Medicine (Zhang Y, et al. N Eng J Med 2019).

Essa estratégia representa uma mudança de conduta para esses pacientes. A edição do NCCN de 2017 considerava essa estratégia como categoria 3 e, na edição de 2019, passa a considerá-la como categoria 2A.

Estômago

O estudo randomizado ARTIST II trifurcado para pacientes com câncer de estômago operados estádios II e III [QT com S1 vs QT com S1 + Oxaliplatina (SOX) Vs SOX + RT), não mostrou benefício na sobrevida livre de progressão em três anos com a adição da RT (78% para SOX e 73% para SOX+RT; p=0,667). Embora os resultados sejam preliminares, há confirmação do emprego cada vez menor da radioterapia no cenário adjuvante do câncer de estômago, muito provavelmente pelo caráter sistêmico dessa doença.

Colo uterino

Estudo randomizado do EORTC comparou quimioterapia (QT) neoadjuvante seguida de cirurgia versus radioterapia (RT) e QT concomitantes para pacientes com câncer de colo uterino estádios IB2 a IIB pelos critérios da FIGO penúltima edição. A sobrevida global em 5 anos foi semelhante nos dois grupos de pacientes e a sobrevida livre de progressão em 5 anos para as pacientes que terminaram o tratamento proposto foi melhor nas pacientes tratadas com RT + QT (65,6% Vs 56,9%; p=0,021).

Em países em desenvolvimento, onde a prevalência do câncer de colo uterino é alta e, particularmente no Brasil, onde o acesso à cirurgia pelas pacientes no âmbito do SUS é ainda pior do que a radioterapia, utilizar a estratégia cirúrgica para essas pacientes torna-se pouco razoável. O padrão de tratamento para pacientes com câncer de colo uterino estádios IB2 a IVA continua sendo RT + QT concomitantes.

Metástases cerebrais de melanoma

Estudo randomizado australiano avaliou o emprego da radioterapia (RT) e todo o cérebro (WBRT) para pacientes com até 3 lesões metastáticas cerebrais de tumor primário de melanoma, previamente tratadas com radiocirurgia ou ressecção cirúrgica. A sobrevida global em 12 meses foi estatisticamente semelhante nos dois grupos (58,4% com WBRT Vs 54% com observação). Esse estudo comprova, especificamente para melanoma, o que o estudo EORTC mostrou para metástases cerebrais de diversos primários (Kocher et al. JCO 2010).

A sobrevida global para pacientes com uma a três lesões metastáticas é semelhante se há emprego ou não da WBRT após cirurgia ou radiocirurgia devido à possibilidade de resgate com vários tratamentos (sistêmicos, cirurgia ou radiocirurgia) desses pacientes em caso de progressão, evitando ou adiando o emprego da WBRT que pode causar toxicidade neurológica.