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Gastrectomia redutora de risco e impacto na qualidade de vida

laercio gomes 2006Estudo liderado pelo National Institutes of Health dos EUA examinou os resultados de curto e longo prazo, não relacionados ao câncer, da gastrectomia total redutora de risco e seus impactos na qualidade de vida em indivíduos com síndrome de câncer gástrico difuso hereditário. Os resultados revelam que dois anos após a cirurgia, quase todos os doentes apresentaram pelo menos uma morbidade crônica, demonstrando que a cirurgia de prevenção do câncer deve considerar também as consequências da remoção do estômago. O cirurgião Laercio Gomes Lourenço (foto) analisa os resultados.

Por: Laercio Gomes Lourenço

A cirurgia de redução (gastrectomia total) de risco para prevenção do câncer gástrico (RRTG) é um tema cada vez mais importante em tumores sólidos, diante da crescente disponibilidade de testes genéticos para os tumores germinativos. Nesta análise, Gallanis e cols. estudaram indivíduos submetidos a RRTG como parte de um estudo da história natural de câncer gástrico hereditário em uma única instituição. Foram avaliados detalhes clínico-patológicos, morbidade e qualidade de vida relacionada à gastrectomia total. Questionários validados foram utilizados para determinar os scores de qualidade de vida e avaliar os aspectos psicossociais e espirituais.

Os resultados foram publicados no Journal of Clinical Oncology e mostram que 126 casos foram submetidos a RRTG devido a uma variante CDH1 da linha germinativa patogênica ou provavelmente patogênica, entre outubro de 2017 e dezembro de 2021. Os doentes não tinham o diagnóstico de câncer gástrico previamente a cirurgia. A maioria dos doentes 87,3%; (110/126) ou 92,1% (116 (T1a+Tis) /126) se somarmos os casos de Tis apresentavam câncer difuso em anel de sinete na patologia final da peça cirúrgica.

Os autores descrevem que a morbidade pós-operatória (<30 dias) foi baixa (5,6%; 7/126). Não houve mortalidade. A maioria dos doentes (98,4%) perderam peso após gastrectomia total (50% dos doentes eram obesos). Dois anos após a cirurgia, 94% (64/68 das complicações) dos doentes apresentaram pelo menos uma complicação crônica (refluxo biliar, disfagia e deficiência de micronutrientes). Mudança de profissão (23,5%), divórcio (3%) e dependência de álcool (1,5%) foram consequências atribuídas à gastrectomia total por alguns doentes. Em um seguimento mediano de 24 meses, os scores de qualidade de vida dos doentes diminuíram no primeiro mês após a gastrectomia e retornaram aos valores basais em 6-12 meses.

Os autores concluem que a gastrectomia total redutora de risco de câncer gástrico difuso familiar está associada a eventos adversos que mudam a vida e devem ser discutidos ao aconselhar doentes com variantes do CDH1 sobre a prevenção do câncer gástrico. Os riscos da cirurgia de prevenção do câncer não devem ser avaliados apenas no contexto da probabilidade de morte por considerações oncológicas, mas também com base nas consequências reais da remoção de órgãos, incluindo sequelas físicas e psicossociais.

Vale ressaltar alguns aspectos deste estudo. O primeiro quanto a técnica cirúrgica. Cento e vinte e quatro dos 126 casos foram operados pela técnica aberta. Atualmente a cirurgia minimamente invasiva é a preferência mundial por apresentar menor morbidade (hernia incisional, infecção de incisão cirúrgica, por exemplo). Outro fator em relação a técnica cirúrgica e que não está referido no artigo é o tipo de anastomose realizada (manual ou mecânica) tendo em vista a incidência de fístula, estenoses e refluxo biliar quando comparada com a literatura. Com os conhecimentos adquiridos com a cirurgia bariátrica, muitas das complicações descritas como crônicas (refluxo biliar, disfagia e deficiência de nutrientes) são hoje melhor tratadas e corrigidas clinicamente, endoscopicamente ou até por cirurgia. Os autores ressaltam que em 2 anos houve retorno à linha de base e mais de 80% dos casos apresentavam peso normal e um pequeno número até obesidade. O objetivo da gastrectomia total na prevenção do câncer gástrico difuso familiar foi plenamente atingido no grupo de estudo (92% apresentavam câncer na patologia final). Segundo a NCCN, o risco de câncer gástrico difuso (pior prognóstico e maior agressividade) na variante CDH1 é de 42-70% em homens e de 33-83% em mulheres. Outro fato que vale a pena ressaltar é que a triagem recomendada para os doentes CDH1 hoje preconizada, de endoscopia digestiva alta e múltiplas biópsias a cada 6-12 meses, é falho na detecção precoce do câncer gástrico familial, o que pode acarretar também importante estresse psicológico a esses doentes (NCCN e IGCLC2020 versão 1.2020).

Referência: DOI: 10.1200/JCO.23.01238 Journal of Clinical Oncology. Published online October 30, 2023.


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