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AtualizadoTer, 30 Abr 2024 10pm

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Daichii Sankyo

 

Testes genéticos germinativos permanecem subutilizados no câncer pancreático

As diretrizes recomendam testes genéticos germinativos para pacientes com adenocarcinoma ductal pancreático (PDAC). Infelizmente, a utilização desses testes permanece subutilizada, como alertam Klatte et al. no JCO Oncology Practice. Yuri Moraes (foto), médico geneticista do serviço de oncogenética do Américas Oncologia, discute os principais achados.

Neste estudo retrospectivo e multicêntrico, foram incluídos pacientes com PDAC diagnosticados entre maio de 2018 e agosto de 2020 na Mayo Clinic Arizona, Flórida e Minnesota. A discussão, a adoção e os resultados dos testes genéticos germinativos foram comparados antes (1º de maio de 2018 a 1º de maio de 2019) e depois (1º de agosto de 2019 a 1º de agosto de 2020) da atualização das diretrizes da National Comprehensive Cancer Network, contabilizando um período de transição.

Os pesquisadores identificaram 533 pacientes com PDAC, sendo 321 (60,2%) pré-diretriz e 212 (39,8%) pós-diretriz. As características dos pacientes não diferiram entre os períodos pré e pós-diretriz. Os resultados mostram que a realização de testes genéticos foi discutida em 34,3% (110 de 321) dos pacientes pré-diretriz e 39,6% (84 de 212) dos pacientes pós-diretriz (odds ratio [OR], 1,26 [IC 95%, 0,88 a 1,80]) e posteriormente realizada em 80,9% (89 de 110) dos pacientes pré-diretriz e 75,0% (63 de 84) dos pacientes pós-diretriz (OR, 1,10 [IC 95%, 0,75 a 1,61]).

Dos 152 pacientes testados, os autores descrevem que 26 (17,1%) apresentavam uma variante patogênica (PV), dos quais 17 (11,2%; 17 de 152) estavam associados ao PDAC. Durante todo o período do estudo, a TG foi mais provável em pacientes mais jovens (65 versus 70 anos; P < 0,001), naqueles atendidos por um médico oncologista (82,9% versus 69,0%; P < 0,001) e naqueles que sobreviveram por mais de 12 meses a partir do diagnóstico (70,4% versus 43,4%; P < 0,001). Os dados demográficos e o histórico pessoal/familiar de câncer foram comparáveis entre pacientes com e sem PDAC PV.

“O teste genético germinativo permanece subutilizado, apesar das recomendações das diretrizes da National Comprehensive Cancer Network. Dado o mau prognóstico do PDAC e as potenciais implicações do teste, são necessários esforços para aumentar a utilização, fornecendo vigilância e apoio tanto aos pacientes com PDAC como aos familiares em risco”, concluem os autores.

Klatte e colegas destacam que as baixas taxas de testes genéticos germinativos despertam preocupação e podem resultar da falta de conhecimento ou compreensão dos benefícios das diretrizes por parte dos médicos.

A incidência de adenocarcinoma ductal pancreático tem aumentado a uma taxa de cerca de 1% ao ano, com pouca melhora na sobrevida. Estimativas projetam que o PDAC se torne em breve a segunda principal causa de mortalidade relacionada ao câncer nos Estados Unidos, o que dimensiona a importância da detecção precoce.

O estudo em contexto

Por Yuri Moraes, médico geneticista do serviço de oncogenética do Américas Oncologia - RJ 

O estudo sobre a utilização dos painéis de genes para câncer hereditário no contexto do adenocarcinoma pancreático1 descreve dados interessantes que conduz a reflexão de alguns pontos importantes.

1. O câncer de pâncreas pode ser um tumor sentinela

O estudo descreveu que quem tinha a maior probabilidade de realizar o teste genético eram os pacientes com história familiar de câncer (principalmente de pâncreas)1.

Entretanto, o National Comprehensive Cancer Network (NCCN) recomenda a investigação de origem hereditária de qualquer caso de adenocarcinoma pancreático, independente da história familiar2. A literatura já descreveu uma taxa de 8,4% de variantes patogênicas identificadas em pacientes com câncer de pâncreas sem história familiar de câncer3.

Ou seja, um caso de câncer de pâncreas pode ser um tumor sentinela para identificação de uma síndrome de predisposição hereditária ao câncer.

Variantes patogênicas em BRCA1/BRCA2, por exemplo, além de estarem relacionadas aos câncer de pâncreas, aumentam o risco de câncer de mama feminino e masculino, câncer de ovário, próstata e melanoma. Caso seja identificada uma variante patogênica em BRCA1/BRCA2 em um indivíduo com câncer de pâncreas sem história familiar, esse câncer foi um tumor sentinela, pois através dele foi desencadeada uma investigação que culminou na identificação da Síndrome do Câncer de Mama e Ovário Hereditário - HBOC (Hereditary and Breast Ovarian Cancer)4.

2. A investigação de causa hereditária também beneficia aos idosos

O NCCN também recomenda a investigação de origem hereditária em qualquer caso de adenocarcinoma pancreático, independentemente da idade de acometimento2.

Os pacientes testados do estudo eram em média 5 anos mais jovens do que os não testados1. Esse dado pode apontar para o não entendimento de que os pacientes idosos também podem se beneficiar da investigação genética. Na prática clínica é observado que não é somente a mudança no tratamento e acompanhamento que a população idosa anseia, mas a preocupação de que outros familiares (ex.: filhos e netos) possam ter o mesmo risco e com isso também sejam ofertados medidas preventivas e redutoras de risco.

3. O aconselhamento genético é uma etapa fundamental

Apenas 36% dos pacientes que foram diagnosticados com adenocarcinoma de pâncreas receberam o aconselhamento genético. Isso demonstra como é necessário a ampla divulgação de que em todo caso de câncer de pâncreas deve-se suspeitar de causa hereditária1.

Dos pacientes que receberam aconselhamento genético, 78% decidiram realizar o painel germinativo1. No aconselhamento genético é abordado que o teste pode ajudar no entendimento da natureza, herança e que a identificação de uma síndrome de predisposição hereditária ao câncer pode gerar medidas preventivas e redutoras de risco4.

4. Propagação do conhecimento

É necessário intensificar a educação médica em relação à identificação de cânceres que podem ter origem hereditária através das escolas de medicina, programas de residência médica, congressos e outros meios de propagação médica educacional.

Referências:

1- Klatte, Derk C F et al. Utilization and Outcomes of Multigene Panel Testing in Patients With Pancreatic Ductal Adenocarcinoma. JCO oncology practice. OP2300447. Abr 2024.

2- NCCN®. Genetic/Familial High-Risk Assessment: Breast, Ovarian, and Pancreatic Version 3.2024.  National Comprehensive Cancer Network®.

3- Petrucelli, Nancie; B DALY, Mary; PAL, Tuya . BRCA1- and BRCA2-Associated Hereditary Breast and Ovarian Cancer. GeneReviews®. Seattle (WA). Set 2023.

4- Anna Gardiner et al. Pancreatic Ductal Carcinoma Risk Associated With Hereditary Cancer-Risk Genes. JNCI: Journal of the National Cancer Institute, Volume 114, Issue 7, Julho 2022. Pages 996–1002


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