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AtualizadoQui, 02 Maio 2024 2pm

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Daichii Sankyo

 

ASH 2022

Neutrodiet: dieta sem restrições não aumenta infecções em pacientes após transplante de células-tronco

NUTRICAO NET OKEm apresentação de Federico Stella, da Universidade de Milão, estudo italiano destacado no ASH 2022 traz resultados que questionam crenças históricas na hematologia. A análise final do estudo multicêntrico Neutrodiet mostra que uma dieta sem restrições não aumenta infecções em pacientes com neutropenia após transplante de células-tronco.

Neste estudo randomizado de Fase III, de não-inferioridade, foram inscritos consecutivamente pacientes adultos submetidos a TCTH ou quimioterapia de indução de altas doses. “Nosso objetivo foi avaliar o papel de uma Dieta Não-Restritiva (NRD) versus Dieta Protetiva (PD) em termos de taxa de infecção, resultados de alimentação e incidência de Doença do Enxerto versus Hospedeiro (aGVHD) pós-transplantes autólogos e alogênicos”, destacam os autores.

As infecções são uma das principais causas de morbidade e mortalidade durante o período de neutropenia após quimioterapia de altas doses, especialmente após o transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH).  O uso da Dieta Protetiva com baixo teor microbiano é um padrão de cuidado adotado em 80-90% dos centros de Transplante de Medula Óssea (TMO), apesar de sua eficácia nunca ter sido testada prospectivamente e da falta de padronização entre os centros de TMO.

No ensaio Neutrodiet os pacientes elegíveis foram randomizados 1:1 para receber PD ou NRD desde o início da quimioterapia durante toda a duração da neutropenia. O acompanhamento planejado foi de 100 dias para receptores alogênicos e de 30 dias para outros pacientes. 

Resultados

Entre julho de 2016 e março de 2022, um total de 224 pacientes foram randomizados para PD (n=112) ou NRD (n= 112). Dois pacientes retiraram o consentimento, 11 foram inscritos indevidamente por violação do protocolo, 10 perderam o seguimento e não foram incluídos nesta análise. Os dois braços foram bem equilibrados em termos de gênero, idade, doença, uso de profilaxia antimicrobiana e duração da neutropenia.

Características clínicas e demográficas também foram semelhantes nos dois grupos. Setenta e seis por cento dos pacientes analisados receberam TCTH autólogo e 21% receberam TCTH alogênico.

Nenhuma diferença foi encontrada na incidência cumulativa de infecções. Infecções G>2 (de acordo com CTCAE 4.0) ocorreram em 38 (34%) e 44 pacientes (39%) dos grupos DP e NRD, respectivamente (RR = 0,86; intervalo de confiança de 95% [CI] = 0,6-1,2, p=0,5).

Os autores descrevem que a incidência de febre de origem desconhecida (incluindo neutropenia febril) e sepse foi semelhante nos dois braços, respectivamente 43% em DP vs 39% em NRD (RR = 1,3; 95% CI = 0,9-1,7, p = 0,2) e 11 % em DP vs 14% em NRD (RR=0,7; 95% CI = 0,4-1,5, p=0,5). Os resultados apresentados no ASH 2022 mostram que as bactérias mais frequentemente isoladas em hemoculturas pertenciam à família Enterobacteriaceae em ambos os braços.

A análise mostra que apenas uma morte foi relatada em 30 dias e foi associada à síndrome de liberação de citocinas após suspensão de ruxolitinibe em um paciente do braço NRD submetido a TCTH alogênico para neoplasia mieloproliferativa.

A incidência de infecção GI documentada, definida como a presença de sintomas GI, diarreia e isolamento microbiológico, foi comparável entre os braços (7% em DP vs 3% em NRD, RR = 2,7; 95% CI = 0,8-9,1, p =0,2 e 30% em NRD vs 34% em DP; RR=0,9; 95% CI = 0,6-1,3, p=0,7). Em ambos os braços, Clostridium difficile foi a bactéria mais frequentemente isolada no exame de fezes.

Não foram encontradas diferenças entre os braços em termos de variações de peso corporal (média de -3,6 kg em DP vs -3,2 kg em NRD, p = 0,33), incidência de náusea a e mucosite (16% em DP vs 15% em NRD; RR 1,1, 95% CI = 0,6-1,9, p>0,99 e 62% em DP vs 60% em NRD; RR 1,05, 95% CI = 0,8-1,3, p=0,8), tempo de internação (média de 21 dias em DP vs 22 dias em NRD, p= 0,47), uso de nutrição parenteral (PN) (23% vs 26%; RR=0,9; IC 95% = 0,4-1,4, p =0,8) e duração da neutropenia (média de 6,9 dias vs 6,7 dias, p=0,8).

Os autores descrevem que nos receptores de HSCT alogênico, a incidência de aGVHD grau ≥2 foi semelhante entre os braços (17% em DP vs 25% em NRD; RR=0,7; 95% CI=0,2-2, p=0,7). Nenhuma diferença foi encontrada em termos de aGVHD de qualquer grau e aGVHD intestinal, respectivamente de 30% em DP vs 33% em NRD (RR=0,9; 95% CI = 0,4-2,1, p>0,99) e 13% em DP vs 8% em NRD (RR=1,6; 95% CI = 0,3-7,4, p=0,6).

A partir de diários preenchidos pelos pacientes, a Dieta Não Restritiva foi associada a maior satisfação, com 16% dos pacientes recebendo DP versus 35% em NRD relatando que “a prescrição de dieta não afetou negativamente minha alimentação” (RR = 0,5; 95% CI = 0,3-0,8; p=0,006).

“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo randomizado que investiga o papel da dieta pós-TCTH. Nenhuma diferença significativa em termos de taxas de infecção, desfechos alimentares e incidência de aGVHD foi encontrada entre a Dieta Protetora e a Dieta Não Restritiva. Esses resultados, juntamente com dados publicados em outros contextos além do pós-transplante, demonstram que o uso de uma dieta restritiva é um fardo desnecessário para a qualidade de vida dos pacientes”, concluem os autores.

Referência: 169 Non-Restrictive Diet Does Not Increase Infections in Patients with Neutropenia after Stem Cell Transplantation: Final Analysis of the Neutrodiet Multicenter, Randomized TrialClinically Relevant Abstract
Program: Oral and Poster Abstracts
Type: Oral
Session: 905. Outcomes Research—Lymphoid Malignancies: Health Outcomes in Plasma Cell Disorders and Transplant
Hematology Disease Topics & Pathways: Clinical Practice (Health Services and Quality)
Saturday, December 10, 2022: 12:00 PM
Federico Stella et al.

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