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AtualizadoSex, 26 Abr 2024 12pm

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Daichii Sankyo

 

ASCO 2020

ECOG-ACRIN: estudo não mostra benefício de sobrevida

silvio 2020 bxEstudo multicêntrico do grupo de pesquisa ECOG-ACRIN comparou cirurgia versus terapia sistêmica em pacientes com câncer de mama estágio IV com doença de novo. Os resultados foram selecionados para Sessão Plenária, em apresentação de Seema Ahsan Khan, e mostram que a terapia locorregional (TLR) não melhorou os resultados de sobrevida e deteriorou a qualidade de vida (LBA2). Sílvio Bromberg (foto), mastologista do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e do departamento de Mastologia da BP Mirante, analisa os resultados.

Neste estudo aberto, randomizado, de Fase III, foram elegíveis pacientes com carcinoma invasivo da mama estágio IV tratados com terapia sistêmica ideal (TS) com base nas características do paciente e do tumor; aqueles que não progrediram durante 4-8 meses de TS foram randomizados para receber ou não tratamento locorregional (cirurgia conservadora de mama ou mastectomia). O endpoint primário foi a sobrevida global (SG). Endpoints secundários consideraram controle locorregional da doença e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS).

Os pacientes inscritos foram  estratificados de acordo com o receptor hormonal e o plano de tratamento (ER + ou PR +, HER2-, terapia endócrina isolada vs ER + ou PR + e HER2-, quimioterapia e / ou terapia endócrina vs ER- ou PR- e HER2- vs HER2 +) e pela extensão da doença distante (linfonodos regionais, axilar, supraclavicular e mamária interna (1 vs> 1).

A avaliação de qualidade de vida foi feita a partir de inquéritos específicos (Functional Assessment of Cancer Therapy - Breast Trial Outcome Index (FACT- TOI);  FACT - General (22 ) e Breast Cancer Subscale (FACT-B). 

Resultados

390 pacientes foram inscritos entre  fevereiro de 2011 e  julho de 15 para receber terapia sistêmica (TS). Destes, 256 pacientes elegíveis foram randomizados para manter a TS isoladamente (N = 131) ou associada a tratamento locorregional   (N = 125).

Após seguimento médio de 59 meses (intervalo: 0-91) houve 121 óbitos e 43 eventos de progressão locorregional. Não houve diferença significativa na sobrevida global (taxa de SG em 3 anos de 68,4% no braço tratado com TS + TLR versus 67,9% no braço de TS isoladamente, p = 0,63, HR = 1,09, IC de 90%: 0,80, 1,49) ou em sobrevida livre de progressão (p = 0,40). A recorrência / progressão locorregional em três anos foi significativamente maior no braço tratado com TS isolada (25,6% vs 10,2%, p = 0,003).

Em relação à qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), os resultados mostram  que foi significativamente pior no braço TS + TLR aos 18 meses após a randomização, mas nenhuma diferença foi observada aos 6 meses (74% de conclusão) ou 30 meses (56% de conclusão).

“A terapia local precoce não melhora a sobrevida em pacientes com câncer de mama metastático de novo”, concluem os autores. “Embora o risco de progressão sem intervenção locorregional tenha sido 2,5 vezes maior, a intervenção não  melhorou a  QVRS”, concluíram os autores.

Informações sobre este ensaio clínico: NCT01242800.

Papel do tratamento locorregional em pacientes com câncer de mama estádio IV

O mastologista Sílvio Bromberg, do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e do departamento de Mastologia da BP Mirante, analisa os resultados do estudo ECOG – ACRIN 2108 selecionado em Sessão Plenária no ASCO 2020

Por Silvio Bromberg

O tratamento locorregional em pacientes com câncer de mama estádio IV realmente tem um papel importante na vida do paciente? Essa é uma questão que há anos se tenta responder.

Muitas são as variáveis envolvidas nessa avaliação, um dos motivos que alimentam resultados pouco assertivos. Entre estas variáveis, temos as condições da paciente, comorbidades, idade, volume, localização e sítios da doença metastática, tipo molecular do tumor primário e eventualmente da metástase e, principalmente, quais tratamentos sistêmicos foram realizados. Além disso, outro ponto nevrálgico e nem sempre avaliado nos estudos é a qualidade de vida desses pacientes.

O estudo ECOG – ACRIN 2108 foi um estudo aberto, randomizado, de Fase III, onde foram elegíveis as pacientes com carcinoma invasivo da mama estágio IV tratados com terapia sistêmica ideal (TS) com base nas características do paciente e do tumor; aquelas que não progrediram durante 4-8 meses de TS foram randomizados para receber ou não tratamento locorregional (cirurgia conservadora de mama/mastectomia e/ou radioterapia ).

O endpoint primário foi a sobrevida global (SG). Endpoints secundários incluíram controle locorregional da doença e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS).

As pacientes inscritas foram estratificadas de acordo com o receptor hormonal e o plano de tratamento (ER + ou PR +, HER2-, terapia endócrina isolada vs ER + ou PR+ e HER2-, quimioterapia e / ou terapia endócrina vs ER- ou PR- e HER2- vs HER2 +) e pela extensão da doença distante (linfonodos regionais, axilar, supraclavicular e mamária interna. Das 390 pacientes selecionadas, 256 estavam aptas para a randomização. Destas, 131 seguiram com tratamento sistêmico e 125 receberam tratamento local.

Quando atentamos para o braço das 125 pacientes que receberiam tratamento locorregional, observamos que somente 109 seguiram no estudo; 14 pacientes saíram do estudo por motivos diversos. Entre as 109 pacientes que receberam tratamento locoregional, 87 pacientes atingiram margens livres com a cirurgia e 74 receberam tratamento radioterápico.

Na análise dos resultados, em um follow up médio de 53 meses, a sobrevida global e a sobrevida livre de progressão não demonstraram diferença estatística entre aquelas pacientes que receberam ou não o tratamento locorregional.

Quando a análise da sobrevida global é estratificada conforme o subtipo tumoral, também não são houve diferença, sendo que o grupo triplo negativo que recebeu tratamento locorregional evoluiu pior do que o outro grupo (vale salientar que somente 20 pacientes eram triplo negativo).

Também é importante enfatizar que o estudo apontou uma redução em 2,5 vezes na progressão local da doença no grupo que realizou o tratamento locorregional (10,2% x 25,6%); porém, nem mesmo esse melhor controle local foi impactante na qualidade de vida das pacientes.

Apesar de ser um estudo negativo em relação ao benefício do tratamento locorregional em pacientes estádio IV, acredito que possamos aguçar nosso raciocínio sobre essa questão com algumas ponderações. Entre os vários estudos realizados, sejam prospectivos ou retrospectivos, grande parte inclui, em sua maioria, pacientes luminais. Se quisermos ainda considerar somente estudos prospectivos, sabendo de todas as limitações dos mesmos, temos o estudo Turco no qual as pacientes positivas para receptor de estrogênio tiveram melhor sobrevida. Ainda nesse estudo, as pacientes com metástase óssea única e as pacientes jovens também levaram vantagem com o tratamento locorregional. Tomando como exemplo um estudo retrospectivo diferenciado, somente com pacientes HER2+, apresentado ano passado no AACR, esse subgrupo molecular específico também apresentou benefício do tratamento local.

Vale ressaltar ainda que o tratamento local nesse estudo não apresentou impacto na qualidade de vida. Sabemos que o QVRS atribui um valor à vida, ponderado por várias deteriorações pessoais e físicas que também consideram a assistência recebida por essa paciente, ou seja, questões que podem em muito influenciar resultados díspares.

Publicado ano passado, o estudo prospectivo austríaco ABCSG 28 – POSYTIVE Trial, por exemplo, apesar de interrompido com 90 pacientes, mostrou na análise da qualidade de vida que o tratamento local teve impacto. 

Acredito que o estudo ECOG ACRIN E2108 não fecha a possibilidade do tratamento local, mas orienta nosso raciocínio em direção a personalização de cada caso. Em pacientes jovens , luminais ou HER 2+, com baixo volume de metástase que se apresentem estáveis ou melhores por pelo menos 4 meses com o tratamento sistêmico; pacientes com poucas comorbidades e nas quais percebemos que o tratamento local irá trazer um alento psicológico, podemos considerar a indicação do tratamento local.

ReferênciaLBA2 - A randomized phase III trial of systemic therapy plus early local therapy versus systemic therapy alone in women with de novo stage IV breast cancer: A trial of the ECOG-ACRIN Research Group (E2108). - J Clin Oncol 38: 2020 (suppl; abstr LBA2) - DOI: 10.1200/JCO.2020.38.15_suppl.LBA2

First Author: Seema Ahsan Khan, MD, FACS, MPH
Meeting: 2020 ASCO Virtual Scientific Program
Session Type: Plenary Session
Track: Breast Cancer—Local/Regional/Adjuvant
Subtrack: Local-Regional Therapy
Abstract #: LBA2 

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