ESMO 2020

METNET: metformina em pacientes com tumores neuroendócrinos bem diferenciados

joao glasberg bxO oncologista Joao Glasberg (foto), do ICESP, é primeiro autor de estudo selecionado para a sessão de poster no ESMO 2020 que avaliou a eficácia e segurança da monoterapia com metformina em pacientes não diabéticos com tumores neuroendócrinos (608P).

Estudos pré-clínicos sugeriram que a metformina tem efeitos antitumorais, provavelmente devido ao bloqueio da via do mTOR através da AMPK e diminuição dos níveis de insulina. Um estudo retrospectivo mostrou que a metformina combinada com everolimus para tratar a hiperglicemia relacionada ofereceu maior sobrevida livre de progressão (SLP) em pacientes com tumores neuroendócrinos pancreáticos (NET).

O estudo de Fase II avaliou o uso de metformina 850 mg PO duas vezes ao dia até progressão ou intolerância em pacientes não diabéticos com tumores neuroendócrinos gastroenteropancreáticos metastáticos G1 ou G2 com progressão radiológica. O endpoint primário foi a taxa de controle da doença (DCR) por RECIST 1.1 em 6 meses. Os endpoints secundários incluíram taxa de resposta clínica e radiológica, sobrevida livre de progressão, toxicidade e variações na glicemia, hemoglobina glicada e cinética do peptídeo C no início do estudo e a cada 90 dias. 

Resultados

Entre 2014 a 2019, 28 pacientes foram inscritos; a mediana de idade foi de 50 anos, 53% era do sexo masculino, 84% tinham NET não funcional, 71% receberam metformina como primeiro tratamento (aqueles candidatos para watchful wait), 86% tinham tumores neuroendócrinos gastroenteropancreático e 62 % apresentavam NET G2.

No momento do último follow up, 26 pacientes apresentavam progressão. Treze pacientes (46%) apresentaram taxa de controle de doença em 6 meses, com uma mediana de SLP de 6,3 meses (95% CI: 3,2 - 9,3). Nenhum paciente apresentou resposta objetiva, mas um paciente com síndrome carcinoide refratária teve alívio completo dos sintomas, com duração de mais de 4 anos. A variação nos testes glicêmicos (glicemia, hemoglobina glicada, peptídeo C e insulina) não se associou à DCR aos 6 meses. A diarreia foi o evento adverso mais comum (graus 1 /2 em 17% e grau 3 ou 4 em 10% dos pacientes).

“A monoterapia com metformina oferece atividade antitumoral modesta em tumores neuroendócrinos e alta frequência de diarreia, e não deve ser testada em estudos adicionais como tratamento isolado”, concluíram os autores. 

Identificação do ensaio clínico NCT02279758.

Referência: 608P - METNET: A phase II trial of metformin in patients with well differentiated neuroendocrine tumours - Joao Glasberg (Sao Paulo, Brazil)