Apesar da colaboração International Duration Evaluation of Adjuvant Chemotherapy (IDEA) ter demonstrado que 3 meses de quimioterapia adjuvante com capecitabina e oxaliplatina é uma opção adequada para a maioria dos pacientes com câncer colorretal estágio III, apenas cerca de metade dos pacientes receberam recomendação do tratamento com duração mais curta. É o que demonstra análise de uma coorte contemporânea de mundo real publicada no Journal of Clinical Oncology (JCO). João Paulo Solar Vasconcelos (foto), oncologista na University of British Columbia, em Vancouver, Canadá, é coautor do trabalho.
Com base na análise da IDEA, 3 meses de quimioterapia adjuvante com capecitabina e oxaliplatina (CAPOX) é uma opção para câncer colorretal em estágio III, com benefícios de custo e toxicidade.
Nesse estudo, os pesquisadores examinaram os padrões de recomendação de CAPOX versus fluorouracil, leucovorina e oxaliplatina (FOLFOX), bem como a duração da quimioterapia em pacientes no Canadá. Foram avaliados dados da farmácia provincial para identificar pacientes com câncer colorretal estágio III ressecado que receberam quimioterapia adjuvante entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022. Informações demográficas, tumorais e de tratamento foram coletadas e comparadas.
Resultados
De 452 pacientes, 234 (52%) e 218 (48%) foram encaminhados para receber 3 e 6 meses de quimioterapia, respectivamente. Dentro do grupo de 3 meses, 226 (97%) receberam CAPOX; no grupo de 6 meses, houve uma divisão de 51%-49% entre CAPOX e FOLFOX.
Idade >70 anos (P = 0,039), bem/moderadamente diferenciado (P = 0,005) e doença de baixo risco (P < 0,0001) foram significativamente associados a 3 meses. Perfomance status, ileostomia ou neuropatia preexistente não afetaram a escolha do tratamento.
Entre os pacientes programados para 6 meses, 29% tinham doença de baixo risco, com 52% deles recebendo CAPOX. Pacientes recebendo 6 meses eram mais propensos a relatar neuropatia (68 v 36%, P < 0,0001) e a interromper a oxaliplatina precocemente (54 v 31%, P < 0,0001).
A razão mais provável para a descontinuação precoce do tratamento adjuvante foi neuropatia no grupo de 6 meses e toxicidade gastrointestinal no grupo de 3 meses (P < 0,0001). Independentemente da duração, o tempo médio da consulta até o início da quimioterapia foi maior para FOLFOX versus CAPOX (24 v 19 dias, P = 0,007).
Em síntese, nesta coorte contemporânea, a quimioterapia de 6 meses ainda está sendo oferecida a pacientes com doença de baixo risco e está associada a mais neuropatia. “A exploração das preferências do paciente e dos custos de recursos pode melhorar a adoção do CAPOX adjuvante de duração reduzida no câncer colorretal estágio III”, concluíram os autores.
Referência:
Tharani Krishnan et al., Three Versus Six Months of Adjuvant Oxaliplatin-Containing Chemotherapy for Patients With Stage III Colorectal Cancer: A Contemporary Real-World Analysis. JCO Oncol Pract 0, OP-24-00492. DOI:10.1200/OP-24-00492