Baixo risco de carcinoma hepatocelular em pacientes com colangite esclerosante primária

Carcinoma_Hepatocelular_NET_OK.jpgOs pacientes com cirrose têm risco elevado de carcinoma hepatocelular (CHC), especialmente aqueles que apresentam infecção pelo vírus da hepatite C. O risco de desenvolver CHC varia de acordo com a doença hepática subjacente. 

Embora os pacientes com colangite esclerosante primária (CEP) sejam conhecidos pelo risco elevado de câncer hepatobiliar, especificamente colangiocarcinoma (CCA), o risco de CHC em pacientes com CEP e cirrose é desconhecido.

A colangite esclerosante também evolui com a cirrose, mas como é uma doença que surge na árvore biliar, o tumor mais frequente acaba sendo o colangiocarcinoma. A incidência do colangiocarcinoma na colangite esclerosante é em torno de 10% a 20%. Já o carcinoma hepatocelular, em torno de 3%”, explica o hepatologista Eduardo Luiz Rachid Cançado, Professor-associado do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.


Pesquisadores alemães realizaram um estudo de coorte retrospectivo com o objetivo de avaliar o risco para CHC em pacientes com CEP de dois grandes centros de referência locais. Todos os pacientes tiveram o diagnóstico de colangite esclerosante primária bem caracterizado. A cirrose foi diagnosticada com base em biópsia ou através de exames de laboratório ou evidência radiográfica.
 
O estudo de coorte incluiu 509 pacientes (homens, 67%) com seguimento por uma média de sete anos (4204 doentes-ano). Entre os 119 pacientes identificados com cirrose (contribuindo 292 pacientes-ano de follow-up), nenhum desenvolveu CHC e 47 desenvolveram câncer hepatobiliar (CCA, 35; câncer de vesícula biliar, 3). O câncer colorretal foi identificado em 9 pacientes, os quais apresentaram doença inflamatória intestinal concomitante. Entre 142 pacientes que foram submetidos a transplante de fígado, nenhum tinha CHC presente.
 
“Esses resultados de um grande estudo retrospectivo demonstraram que CHC é incomum no CEP, mesmo nos pacientes com cirrose, e menos comum no câncer hepatobiliar e colorretal. Tomados em conjunto, os dados sugerem que o risco de CHC é tão baixo que o rastreio no intervalo atual pode não ser justificado. Se estes resultados forem validados, então o intervalo de triagem do CHC pode ter de ser ajustado em pacientes com CEP”, afirmam os autores do estudo.
 
Para Cançado, na prática os resultados não indicam mudança no intervalo de rastreamento. “O rastreamento para o carcinoma hepatocelular é realizado a cada seis meses, geralmente por exames de imagem. O colangiocarcinoma é um tumor mais difícil de ser rastreado, mas que também utiliza métodos de imagem. Como é preciso realizar o rastreamento de colangiocarcinoma, no exame também é verificado a presença do carcinoma hepatocelular”, diz.
 
Referências
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24530461?access_num=24530461&link_type=MED&dopt=Abstract
 
Low risk of hepatocellular carcinoma in patients with primary sclerosing cholangitis with cirrhosis.
 
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