Pacientes latino-americanos ainda são sub-representados na pesquisa em câncer do pulmão

america latinaA criação de grupos cooperativos de pesquisa em câncer na América Latina contribuiu para aumentar a participação regional na pesquisa em câncer do pulmão nas últimas duas décadas, como aponta análise de Knapp et al. publicada no JCO Global Oncology. Apesar dos avanços, o estudo mostra que pacientes latino-americanos ainda são sub-representados nos ensaios clínicos.

Nesta análise, o objetivo dos pesquisadores foi caracterizar os ensaios clínicos de tratamento do câncer de pulmão na América Latina antes (janeiro de 2001 a dezembro de 2011) e depois (janeiro de 2012 a dezembro de 2021) da organização dos principais grupos cooperativos de oncologia da América Latina.

A partir da plataforma ClinicalTrials.gov, Knapp e colegas buscaram identificar ensaios clínicos intervencionistas usando o termo “câncer de pulmão” e filtros compreendendo 20 países latino-americanos, com estudos iniciados de 1º de janeiro de 2001 a 31 de dezembro de 2011 e de1º de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2021. Os ensaios clínicos foram categorizados como originários da América Latina (AL) ou fora da América Latina (não-AL) com participação de centros latino-americanos.

Os resultados descrevem 273 ensaios clínicos envolvendo países latino-americanos entre 2001 e 2021. Comparando 2001-2011 com 2012-2021, houve aumento no total de ensaios clínicos (100 versus 173; P < 0,001), mas apenas 9% (26 de 273) de todos os ensaios tiveram origem na AL. Houve diminuição acentuada na proporção de ensaios originados na AL (14% versus 7%, P = 0,058) e na estimativa de inscrição da AL em ensaios clínicos (3.245 versus 1.190 pacientes; P < 0,001). O recrutamento de pacientes com mutações driver EGFR (29% v 7%; P < 0,01) e KRAS (18% v 2%; P < 0,01) também diminuiu.

 A participação em ensaios clínicos foi maior no Brasil, México, Argentina, Chile e Peru e aumentou ao longo do tempo: Brasil (61 x 108; aumento de 77%), México (40 x 88; aumento de 120%), Argentina (50 x 78; aumento de 56%), Chile (25 x 57; aumento de 128%) e Peru (14 x 37; aumento de 164%).

Em conclusão, a análise revela aumento na participação de países latino-americanos em ensaios clínicos de 2012-2021 em relação à década anterior (2001-2011). No entanto, a proporção de ensaios originados em países latino-americanos e aqueles que investigam mutações EGFR e KRAS diminuiu ao longo do tempo, destacando a necessidade de maiores esforços regionais na pesquisa do câncer de pulmão.

Referência: Thomas Knapp et al., Lung Cancer Clinical Trials in Latin America in the Era of Cooperative Groups: A 20-Year Analysis. JCO Glob Oncol 10, e2300379(2024). DOI:10.1200/GO.23.00379