Expressão de HER2 é preditiva e prognóstica no câncer colorretal metastático

palladino 400x225No estudo CALGB/SWOG 80405 a expressão de HER2 foi prognóstica e preditiva em pacientes com câncer colorretal metastático (mCRC) recebendo terapia de primeira linha e informam oportunidades de tratamento personalizado, como relatam Battaglin et al. em artigo no Journal of Clinical Oncology. Alexandre Palladino, chefe da oncologia clínica do Hospital do Câncer I (INCA), comenta os resultados.

A expressão do gene HER2 é um biomarcador no câncer colorretal metastático (mCRC) e pode orientar o tratamento? Para avaliar o potencial valor prognóstico e preditivo da amplificação e expressão gênica de HER2 os pesquisadores usaram sequenciamento de próxima geração (NGS) e NanoString.

O estudo de fase 3 CALGB/SWOG 80405 não encontrou diferença na sobrevida global com bevacizumabe versus cetuximabe combinado com quimioterapia. Na análise atual, os pesquisadores consideraram o DNA do tumor primário de 559 pacientes para amplificação de HER2 por NGS (FoundationOne CDx) e o tecido tumoral de 925 pacientes para testar a expressão do gene NanoString usando um painel de 800 genes. Os principais desfechos foram sobrevida global (SG) e sobrevida livre de progressão (SLP) de acordo com a expressão de HER2.

Os resultados relatados por Battaglin et al. no JCO mostram que a alta expressão de HER2 foi associada a SLP mais longa (11,6 versus 10 meses, P = 0,012) e a maior SG (32 versus 25,3 meses, P = 0,033), independentemente do tratamento. Um benefício de SG para cetuximabe versus bevacizumabe foi observado no grupo de alta expressão de HER2 (P = 0,02), enquanto uma pior SLP para cetuximabe foi observada no grupo de baixa expressão de HER2 (P = 0,019).

Quando a expressão de HER2 foi considerada como variável contínua, o aumento da expressão de HER2 foi associado a SG mais longa (razão de risco [HR], 0,83 [IC 95%, 0,75 a 0,93]; P ajustado = 0,0007) e a maior SLP (HR, 0,82 [IC 95%, 0,74 a 0,91]; P ajustado = 0,0002), independentemente do tratamento, atingindo efeito platô após a mediana.

Em pacientes com expressão de HER2 inferior à mediana, o tratamento com cetuximabe foi associado a pior SLP (HR, 1,38 [IC 95%, 1,12 a 1,71]; P ajustado = 0,0027) e pior SG (HR, 1,28 [IC 95%, 1,02 a 0,0027]). 1,59]; P ajustado = 0,03) em comparação com o tratamento com bevacizumabe. Uma interação significativa entre a expressão de HER2 e o braço de tratamento foi observada para SG (Pintx = 0,017), SLP (Pintx = 0,048) e taxa de resposta objetiva (Pintx = 0,001).

“A expressão do gene HER2 foi prognóstica e preditiva no CALGB/SWOG 80405. A expressão de HER2 pode informar a seleção do tratamento para pacientes com HER2 low, favorecendo terapias baseadas em bevacizumabe versus cetuximabe”, concluem os autores.

Em síntese, as análises secundárias do CALGB/SWOG 80405 fornecem informações sobre paradigmas de tratamento para pacientes com alta e baixa expressão genética de HER2 no câncer colorretal metastático e informam oportunidades de tratamento personalizadas.

“Até onde sabemos, esta é a maior análise do perfil molecular do HER2, ou seja, amplificação do gene HER2 e expressão gênica por NGS e NanoString, em pacientes com mCRC tratados com terapia padrão”, destacam os autores.

O câncer colorretal é a segunda principal causa de morte relacionada ao câncer nos Estados Unidos. No Brasil, a cada ano do triênio 2023-2025 serão diagnosticados cerca de 46 mil casos novos de câncer colorretal, segundo estimativas do INCA, correspondendo a cerca de 10% do total de tumores diagnosticados no Brasil.

O estudo em contexto

Por Alexandre Palladino, chefe da oncologia clínica do Hospital do Câncer I (INCA)

A superexpressão do HER 2 é preditiva de resposta a tratamentos anti-HER2 em alguns tumores, incluindo o câncer colorretal. Este estudo do CALG B mostra que tem também uma importância prognóstica, estando associada globalmente a melhores desfechos como SLP e SG. Neste mesmo estudo não houve diferença entre a associação de bevacizumabe e cetuximabe com quimioterapia de acordo com intenção de tratamento, mas foi observado um melhor resultado do bevacizumabe em tumores do lado direito e do cetuximabe nos tumores do lado esquerdo. O estudo PARADIGM mostrou resultado semelhante, favorecendo panitumumab associado à quimioterapia em tumores do lado esquerdo e RAS/BRAF selvagem.

Esta nova análise mostra também valor preditivo do HER2, favorecendo a associação de bevacizumabe em pacientes com superexpressão. Acredito que necessitamos de mais informações para que o HER2 seja um fator definidor da escolha entre terapia anti EGFR ou anti-angiogênica. Demonstra, sem dúvida, a heterogeneidade do tumor colorretal e mostra a importância crescente de conhecimento da biologia molecular da doença.

Referência: Francesca Battaglin et al., HER2 Gene Expression Levels Are Predictive and Prognostic in Patients With Metastatic Colorectal Cancer Enrolled in CALGB/SWOG 80405. JCO 0, JCO.23.01507 DOI:10.1200/JCO.23.01507