Combinação com radioligante marca avanços no tratamento de tumores neuroendócrinos

pancreasPacientes com tumores neuroendócrinos avançados no sistema digestivo podem se beneficiar de uma combinação de tratamento com o radioligante Lu 177-dotatate (Lutathera®) e octreotida (Sandostatina), como demonstram resultados do ensaio NETTER-2. Depois da apresentação no ASCO GI, a combinação foi destacada 4 de março no blog do National Cancer Institute, que classificou o novo combo como importante inovação nesse cenário.

“Embora Lu 177-dotatate já esteja aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento de tumores neuroendócrinos gastrointestinais e pancreáticos avançados, muitas vezes chamados de GEP-NETs, nenhum estudo havia testado quando e como melhor usá-lo junto com outros medicamentos comumente empregados para tratar esses cânceres”, sintetizou o artigo de Shana Spindler no blog do NCI.

No estudo de Fase 3 NETTER-2 (NCT03972488) foram inscritos pacientes com GEP-NETs recém-diagnosticados, com doença avançada G2 ou G3 (Ki-67 ≥10% e ≤55%) positivos para receptor de somatostatina. Os pacientes elegíveis foram randomizados (2:1) para receber Lu 177-dotatate mais octreotida (braço de tratamento) ou octreotida isoladamente (braço controle). No braço de tratamento, os pacientes receberam 4 ciclos de Lu 177-dotatate mais 30 mg de octreotida de liberação prolongada em intervalos de 8 semanas. No braço controle, os pacientes receberam 60 mg de octreotida de ação prolongada a cada 4 semanas.

Os resultados foram apresentados no ASCO GI 2024, em análise que envolveu 226 pacientes randomizados para Lu 177-dotatate mais octreotida (n = 151) ou controle (n = 75).  O estudo atingiu seu principal endpoint primário de sobrevida livre de progressão (SLP). A mediana de SLP foi significativamente maior entre os tratados com lu-177, com 22,8 meses (19,4, não alcançada) versus 8,5 meses (7,7, 13,8) no braço controle (p < 0,0001).

A taxa de resposta global (ORR) também foi significativamente maior no braço Lu 177-dotatate mais octreotida (43,0%) versus o braço controle (9,3%); razão de risco estratificada de 7,81 (95% CI: 3,32; 18,4; p < 0,0001). Os resultados de SLP e ORR foram consistentes em todos os subgrupos pré-especificados. Os pacientes no braço de tratamento tiveram redução de 72,4% no risco de progressão da doença.

No braço de tratamento, os eventos adversos incluíram leucopenia grau 3/4, anemia e trombocitopenia, cada um afetando menos de três pacientes. Além disso, foi relatado um caso de síndrome mielodisplásica.

Em síntese, a adição do radioligante Lu 177-dotatate prolongou significativamente a SLP e demonstrou ORR clinicamente significativa em pacientes com GEP-NET avançado G2 e G3 recém-diagnosticados, com bom perfil de segurança.