Infecção por H. pylori aumenta incidência e mortalidade de câncer colorretal

rivadavioA infecção por H. pylori foi associada a maior incidência de câncer colorretal (CCR) e mortalidade pela doença, como revela estudo de uma grande coorte nacional publicado por Shah et al. no Journal of Clinical Oncology (JCO). “Sendo um fator causador do câncer gástrico, a infecção por H. pylori aumentou a probabilidade de desenvolver CCR em 18% e o risco de morrer de CCR em 12% versus nenhum histórico de infecção”, destaca o oncologista Rivadávio Antunes de Oliveira (foto), que analisa os resultados.

Helicobacter pylori é a causa mais comum de câncer associado a infecções em todo o mundo. Neste estudo, o objetivo foi avaliar o impacto da infecção e do tratamento por H. pylori na incidência e mortalidade do câncer colorretal (CCR).

Os pesquisadores analisaram retrospectivamente dados de veteranos dos EUA que completaram o teste de H. pylori entre 1999 e 2018. As exposições primárias foram (1) resultado do teste para H. pylori (positivo/negativo) e (2) tratamento para H. pylori (não tratado/tratado) entre indivíduos positivos para H. pylori. Os endpoints primários foram incidência e mortalidade do CCR. O acompanhamento começou no primeiro teste de H. pylori e continuou até o primeiro incidente ou CCR fatal, morte não-CCR ou 31 de dezembro de 2019.

Os autores descrevem que entre 812.736 indivíduos testados para H. pylori, 205.178 (25,2%) tiveram resultado positivo. Ser H. pylori positivo versus H. pylori negativo foi associado a maior incidência e mortalidade de CCR. O tratamento contra H. pylori versus nenhum tratamento foi associado a menor incidência e mortalidade do CCR (redução do risco absoluto de 0,23% -0,35%) ao longo de 15 anos de acompanhamento. Ser H. pylori positivo versus H. pylori negativo foi associado a risco 18% maior (razão de risco ajustada [HR ajustada], 1,18 [IC 95%, 1,12 a 1,24]) e 12% maior (HR ajustada, 1,12 [IC 95%, 1,03 a 1,21]) na incidência de CCR e morte pela doença, respectivamente. A análise mostra, ainda, que indivíduos com infecção por H. pylori não tratada versus tratada tiveram risco 23% maior (HR ajustado, 1,23 [IC 95%, 1,13 a 1,34]) e 40% maior (HR ajustado, 1,40 [IC 95%, 1,24 a 1,58]) na incidência de CCR e mortalidade pela doença, respectivamente.

“A positividade para H. pylori pode estar associada a uma incidência e mortalidade pequenas, mas estatisticamente significativa de CCR; indivíduos não tratados, especialmente aqueles com infecção ativa confirmada, parecem estar em maior risco”, concluem os autores.

O oncologista Rivadávio Antunes de Oliveira, médico do Hospital do Câncer de Londrina, reforça que pacientes com infecção confirmada por testes sorológicos apresentaram maior risco. “Se formos comparar, o tratamento da infecção por H. pylori reduziu o risco de CCR e mortalidade por CCR em uma magnitude semelhante à da colonoscopia, o que torna o estudo um tanto relevante”, analisa.

Rivadávio observa que, embora a redução do risco absoluto estatisticamente significativa tenha sido pequena, o impacto potencial de uma estratégia viável e não invasiva que possa reduzir tanto o câncer gástrico como o CCR é incrivelmente potente e deve ser considerado no tratamento clínico de indivíduos com alto risco de desenvolver tumores gastrointestinais.

“O tratamento do H. pylori acaba sendo uma intervenção não invasiva que reduz o risco de outras complicações, visto já o câncer gástrico e a doença ulcerosa péptica, reafirmando ainda mais a relevância clínica dos resultados aqui apresentados em CCR”, destaca o oncologista.

Referência: Shailja C. Shah et al., Impact of Helicobacter pylori Infection and Treatment on Colorectal Cancer in a Large, Nationwide Cohort. JCO 0, JCO.23.00703. DOI:10.1200/JCO.23.00703