Mutação PIK3CA e as terapias anti-HER2 no câncer de mama

cancer_de_mama_NET_OK.jpgAlterações na via PIK3/ AKT são presentes no câncer de mama, sendo a mais comum a mutação no gene PIK3CA. Estudo liderado por Syblle Loibl, do grupo alemão de pesquisa em câncer de mama, investigou a associação entre o genótipo PIK3CA e a resposta patológica completa (RPC) ao bloqueio anti HER-2, simples ou duplo. 

Além disso, o estudo também verificou a associação da mutação com a resposta à quimioterapia neoadjuvante em pacientes com câncer de mama HER2 positivo.

O grupo alemão considerou 504 amostras de pacientes participantes dos estudos GeparQuattro, GeparQuinto e GeparSixto para avaliar a presença da mutação PIK3CA. Nesses trials, todos os pacientes HER2-positivo receberam trastuzumabe ou lapatinibe ou a quimioterapia de combinação antraciclina-taxano.


No geral, 21,4% das amostras avaliadas abrigavam a mutação PIK3CA, associada a uma taxa de resposta patológica completa significativamente inferior (19,4% entre os pacientes com mutação PIK3CA versus 32,8% no grupo avaliado com PIK3CA do tipo selvagem; odds ratio [OR], 0,49, 95% CI, 0,29-0,83, P = 0,008).

Nos 291 pacientes com tumores positivos para receptor hormonal (RH), a taxa de RPC foi de 11,3%, na amostra com mutação PIK3CA em comparação com 27,5% no grupo com PIK3CA do tipo selvagem (OR, 0,34, 95% CI, 0,15-0,78, P = 0,011). Em 213 pacientes com tumores com receptor hormonal negativo, a taxa de RPC foi de 30,4% na amostra com mutação PIK3CA e de 40,1% entre os pacientes não mutados (OR, 0,65, 95% CI, 0,32-1,32, P = 0,233, teste de interação P = 0,292).

Na análise multivariada, o status de RH e o status PIK3CA forneceram informações de caráter preditivo. Em pacientes com a mutação PIK3CA, as taxas de RPC foram de 16%, 24,3% e 17,4% com lapatinibe, trastuzumabe, e a combinação, respectivamente (P = 0,654) e no grupo de tipo selvagem foram de 18,2%, 33. %, e 37,1%, respectivamente (P = 0,017).

As taxas de sobrevida livre de doença e de sobrevida global não foram significativamente diferentes entre os pacientes com mutação PIK3CA e o tipo selvagem.  "É possível que o período de seguimento relativamente curto desses estudos seja responsável pela não identificação de diferenças significativas em SLP e SG. Porém, apenas o tempo nos trará essa resposta. Precisamos esperar pelo amadurecimento destes resultados para saber se mutações na via PIK3/AKT têm implicações prognósticas e preditoras de resposta ao tratamento em desfechos primordiais”, explica Márcio Debiasi, médico oncologista do Instituto do Câncer Mãe de Deus, em Porto Alegre. “Essa discussão torna-se particularmente importante frente a dualidade de conceitos que enfrentamos nesse momento em relação à pesquisa no câncer de mama: se, por um lado, precisamos de desfechos substitutos que nos permitam identificar novos alvos terapêuticos e testá-los de forma mais rápida; por outro lado, ainda não somos capazes de entender exatamente como valorizar a resposta patológica completa como desfecho substitutivo. Essa dúvida fica bem exemplificada nas discrepâncias vistas nos resultados dos estudos ALLTO e NeoALLTO e na metanálise publicada em 2014 no Lancet pelo FDA, em parceria com o grupo alemão de pesquisa em câncer de mama e o NSAPB", exemplifica o especialista.

Em conclusão, os carcinomas de mama HER2-positivo com mutação PIK3CA têm menos probabilidade ​​de alcançar RPC após a quimioterapia neoadjuvante baseada em antraciclina-taxano, mesmo diante de um duplo tratamento anti-HER2.
 
Referências: http://jco.ascopubs.org/content/32/29/3212

PIK3CA Mutations Are Associated With Lower Rates of Pathologic Complete Response to Anti–Human Epidermal Growth Factor Receptor 2 (HER2) Therapy in Primary HER2-Overexpressing Breast Cancer
Sibylle Loiblet al