Ingestão de polifenóis e câncer gástrico na região amazônica

marcela fagundes 2 1Marcela de Araújo Fagundes (foto), do A.C.Camargo Cancer Center, é primeira autora de estudo caso-controle que avalia a associação entre a ingestão de polifenóis e o risco de câncer gástrico na região amazônica brasileira. Os resultados foram publicados no periódico Cancer Epidemiology, em artigo que tem a epidemiologista Maria Paula Curado como autora sênior.

“A ingestão de polifenóis tem sido associada a uma diminuição do risco de alguns tipos de câncer, incluindo o câncer gástrico. Contudo, poucos estudos abordam esse tema na população latino-americana”, observam os autores.

Este estudo caso-controle foi realizado em Belém (região amazônica) entre julho de 2017 e fevereiro de 2021. Foram incluídos no estudo 193 casos de câncer gástrico e 194 controles de ambos os sexos, entre 18 e 75 anos. Os dados dietéticos foram coletados por meio de um questionário de frequência alimentar validado e a ingestão de polifenóis identificada pelo banco de dados Phenol-Explorer. A regressão logística foi utilizada para estimar odds ratio (OR) e intervalos de confiança (IC) de 95%, com ajuste para possíveis fatores de confusão.

Resultados

Casos e controles tiveram ingestão total de polifenóis semelhante (356,4 mg/1.000 kcal/d e 331,1 mg/1.000 kcal/d, respectivamente; p = 0,086). Após ajuste para possíveis fatores de confusão, alto consumo de flavanóis (tercil mais alto vs. mais baixo: OR 0,41, IC 95% 0,18–0,94) e ácidos hidroxibenzóicos (tercil mais alto vs. mais baixo: OR 0,24, IC 95% 0,10–0,56) foi associado a uma diminuição do risco de câncer gástrico.

O oposto ocorreu em relação à ingestão de flavonas (OR 2,46, IC 95% 1,17–5,18) e outros polifenóis (OR 2,54, IC 95% 1,16–5,54). Ao estratificar de acordo com a topografia anatômica, os autores observaram que a ingestão de flavonóides totais, flavanóis e flavanonas reduziu o risco de câncer gástrico cárdico, enquanto a de ácidos hidroxibenzóicos reduziu o risco de câncer gástrico não cárdico.

Além disso, a ingestão de flavonas e outros polifenóis foi associada a um risco aumentado de câncer gástrico não cárdico. De acordo com os subtipos histológicos, a ingestão de ácido hidroxibenzóico foi associada a um risco reduzido de câncer gástrico do tipo intestinal (OR 0,21, IC 95% 0,07–0,64), enquanto o consumo de flavonas foi associado a um risco aumentado de câncer gástrico do tipo difuso (OR 2,59, 95% IC 1,05–6,42).

“Nossas descobertas sugerem que na região amazônica brasileira a alta ingestão de flavanóis e ácidos hidroxibenzoicos está associada a um risco reduzido de câncer gástrico, sugerindo um potencial papel benéfico desses compostos contra a doença”, concluíram os autores.

Referência: Marcela de Araújo Fagundes, Renata Alves Carnauba, Gisele Aparecida Fernandes, Paulo Pimentel de Assumpção, Maria Paula Curado, Polyphenol intake and gastric cancer: A case-control study in the Brazilian Amazon region, Cancer Epidemiology, Volume 88, 2024, 102518, ISSN 1877-7821. https://doi.org/10.1016/j.canep.2023.102518.