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AtualizadoTer, 16 Abr 2024 6pm

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Daichii Sankyo

 

Exposição a longo prazo a incêndios florestais e mortalidade por câncer

micheline coelhoA exposição a longo prazo a partículas com menos de 2,5 μm de diâmetro (PM2·5) relacionado a incêndios florestais pode aumentar o risco de mortalidade por vários tipos de câncer. Os resultados são de estudo publicado no Lancet Oncology que buscou avaliar a associação entre PM2·5 relacionado a incêndios florestais e mortalidade por câncer no Brasil com base em registros de óbitos nacionais entre 2010 e 2016. O trabalho conta com a participação dos pesquisadores brasileiros Micheline Coêlho (foto) e Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

“A exposição a longo prazo a partículas com menos de 2,5 μm de diâmetro (PM2·5) tem sido associada à mortalidade por câncer. No entanto, os efeitos a longo prazo da exposição ao PM2·5 relacionado a incêndios florestais no risco de mortalidade por câncer são desconhecidos, e com o aumento da frequência e duração dos incêndios florestais nos últimos 10 anos, o impacto dessa exposição na saúde precisa ser melhor compreendido”, observam os autores.

Nesse estudo, os pesquisadores analisaram registros de óbitos por câncer em todo o país para o período de 1º de janeiro de 2010 a 31 de dezembro de 2016, e vincularam a concentrações de PM2·5 em nível municipal, relacionadas a incêndios florestais e não relacionadas a incêndios florestais em uma resolução de 2,5° de latitude por 2,5° de longitude. Para a análise de dados foi aplicada uma abordagem difference-in-difference com regressão quasi-Poisson. Foram estimados riscos relativos (RRs) e ICs de 95% para a exposição em tipos específicos de câncer, e calculadas frações atribuíveis e mortes pela doença.

“Os dados de satélite são obtidos por meio de medidas como em “pixel”, com resolução de 2,5° de latitude por 2,5° de longitude (neste caso, pois existe outras resoluções). Nós podemos transformar em quilômetros, ou seja, 2,5° de latitude por 2,5° de longitude = 28km de latitude por 28km de longitude. O satélite está olhando a região de cima e nos dá uma medida de uma área de 28km2, que usamos para fazer a estatística e encontrar as relações entre as medidas ambientais e as doenças”, esclarece Micheline.

“A abordagem difference-in-difference é um método estatístico que quantifica o que aconteceria se houvesse uma intervenção para evitar as queimadas, por isso o estudo mostra resultados com queimadas e sem queimadas. Desta forma, utilizamos modelos estatísticos para encontrar estas relações. O modelo estatístico usado foi a regressão de quase-poisson, que é a metodologia mais adequada para estes tipos de estudos (ecológicos). A função do modelo é quantificar as relações em risco relativo que é a medida usada na epidemiologia e medicina”, acrescenta.

Resultados

Foram incluídos 1 332 526 óbitos por câncer em adultos (indivíduos com 20 anos ou mais) de 5.565 municípios brasileiros que compreende uma população de 136 milhões de adultos. A concentração anual de PM2·5 relacionada a incêndios florestais foi de 2,38 μg/m3 e a de PM2·5 não relacionada a incêndios foi de 8,20 μg/m3.

O risco relativo para mortalidade por todos os cânceres foi de 1,02 (95% CI 1,01–1,03) por μg/m3 de aumento da concentração de PM2·5 relacionada a incêndios florestais, que foi maior do que outras fontes de PM2·5 (1, 01 [1·00–1·01]; p=0·0029).

PM2·5 relacionado a incêndios florestais foi associado a maior mortalidade por câncer de nasofaringe (RR 1·10 [IC 95% 1·04–1·16]; p=0·0015), esôfago (1·05 [1·01 –1·08]; p=0·012), estômago (1·03 [1·01–1·06]; p=0·017), cólon e reto (1·08 [1·05–1·11 ]; p<0·0001), laringe (1·06 [1·02–1·11]; p=0·0031), pele (1·06 [1·00–1·12]; p=0· 033), mama (1·04 [1·01–1·06]; p=0·0074), próstata (1·03 [1·01–1·06]; p=0·019) e testículo ( 1·10 [1·03–1·17]; p=0·0022). Para todos os cânceres combinados, as mortes atribuíveis foram de 37 por 100 mil pessoas durante o período do estudo.

“A exposição a longo prazo ao PM2·5 relacionado a incêndios florestais pode aumentar o risco de mortalidade por câncer em vários órgãos. O efeito foi maior para PM2·5 relacionado a incêndios florestais do que para PM2·5 de outras fontes”, concluíram os autores.

O estudo foi financiado pelo Australian Research Council and National Health & Medical Research Council, e China Scholarship Council.

Referência: Yu P, Xu R, Li S, Yue X, Chen G, Ye T, Coêlho M, Saldiva P, Sim MR, Abramson MJ, Guo Y. Associations between long-term exposure to wildfire-related particulate matter and site-specific cancer mortality: a national study in Brazil, 2010-16. Lancet Oncol. 2022 Jul;23 Suppl 1:S6. doi: 10.1016/S1470-2045(22)00405-3. PMID: 35837941.

 

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