Câncer de próstata e nutrição, o que sabemos?

dieta mediterraneaArtigo de Lozano-Lorca et al. na Prostate Cancer and Prostatic Diseases (2022) destaca o papel da dieta mediterrânea na prevenção do câncer de próstata, mostrando que o efeito anti-inflamatório é provavelmente o mecanismo envolvido.

A dieta tem sido reconhecida como fator importante para o desenvolvimento do câncer e diferentes padrões ou estilos alimentares têm sido recomendados. Nesta análise de base populacional, os autores buscaram quantificar o nível pró-inflamatório da dieta, a partir do Índice Inflamatório Alimentar ajustado em energia (E-DII, de Dietary Inflammatory Index). Dados já reportados da mesma população mostraram que o padrão dietético mediterrâneo foi associado ao baixo risco de câncer de próstata agressivo (CaP) quando comparado à dieta ocidental. O estudo atual buscou avaliar o mecanismo entre a dieta mediterrânea e a prevenção do câncer de próstata.

Foram coletadas informações sobre características sociodemográficas, antecedentes pessoais e familiares e estilos de vida, incluindo dieta, a partir de um Questionário de Frequência Alimentar. Os autores descrevem que o potencial inflamatório da dieta foi avaliado por meio do escore E-DII, baseado em 30 parâmetros (uma pontuação mais alta indica maior capacidade inflamatória da dieta). Critérios da Sociedade Internacional de Patologia Urológica (ISUP) foram considerados para definir subgrupos específicos (ISUP 1, ISUP 2 ou ISUP 3-5). Modelos de regressão logística foram usados para estimar odds ratios ajustadas (aOR) e intervalos de confiança de 95% (IC) para a associação entre o escore E-DII e o risco de CaP.

Os resultados mostram que 928 casos de CaP e 1.278 controles populacionais foram incluídos na análise. Entre os casos de CaP, o valor médio do escore E-DII foi de 0,18 (DP: 1,9) vs. 0,07 (DP: 1,9) no grupo controle (p = 0,162). Casos com dieta mais pró-inflamatória (3º tercil) tiveram o maior risco de CaP, aOR T3vsT1 = 1,30 (IC 95% 1,03–1,65) (p-tendência = 0,026). Ao estratificar por ISUP, essa associação de risco foi observada apenas para ISUP 2 e ISUP 3–5, aOR T3vsT1 = 1,46 (IC 95% 1,02–2,10) e 1,60 (IC 95% 1,10–2,34), respectivamente.

Em conclusão, foi observada associação positiva entre o consumo de dieta pró-inflamatória e CaP na população avaliada (MCC-Espanha), especificamente para um grau ISUP ≥ 2. “Estudos atuais já fornecem um bom suporte para o uso da dieta mediterrânea na prevenção do câncer de próstata, com resultados que devem ser divulgados, a fim de combater o rápido aumento da incidência de câncer de próstata no mundo”, destacam os autores.

Evidências crescentes sugerem que o microbioma intestinal está relacionado ao desenvolvimento de várias doenças, incluindo o câncer. Nesta análise, os autores revisam dados já publicados e lembram de pequeno estudo randomizado que comparou o microbioma intestinal antes e depois de uma dieta para perda de peso. Os resultados mostram que a mudança na ingestão de carne vermelha e aves alterou a composição do microbioma intestinal após 7 a 8 semanas da nova dieta. Em outro pequeno estudo piloto, Golombos et al. mostraram diferenças no microbioma intestinal entre pessoas com câncer de próstata de risco intermediário/alto e indivíduos com condição benigna da próstata. O maior nível de F prausnitzii em pacientes com condição benigna da próstata foi relacionado à produção de ácidos graxos de cadeia curta e butirato, que possuem propriedades anti-inflamatórias em humanos.

Agora, os achados do estudo espanhol de Lozano-Lorca et al. corroboram evidências em favor da dieta mediterrânea como um passo a mais na prevenção do câncer de próstata.

Referências:

Lozano-Lorca M, Salcedo-Bellido I, Olmedo-Requena R, Castaño-Vinyals G, Amiano P, Shivappa N, et al. Dietary inflammatory index and prostate cancer risk: MCC-Spain study. Prostate Cancer Prostate Dis. 2022. In press

Leigh SJ, Morris MJ. Diet, inflammation and the gut microbiome: mechanisms for obesity-associated cognitive impairment. Biochim Biophys Acta Mol Basis Dis. 2020;1866:165767.

Golombos DM, Ayangbesan A, O’Malley P, Lewicki P, Barlow L, Barbieri CE, et al. The role of gut microbiome in the pathogenesis of prostate cancer: a prospective, pilot study. Urology 2018;111:122–8.