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AtualizadoSex, 19 Abr 2024 10pm

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Daichii Sankyo

 

Perspectiva dos oncologistas sobre atendimento odontológico no tratamento do câncer de cabeça e pescoço

daniel cohen 2021Artigo publicado no JCO Oncology Practice buscou entender as perspectivas de médicos envolvidos no tratamento do câncer em relação ao atendimento odontológico em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, população com risco aumentado de complicações dentárias em longo prazo. Quem comenta é o estomatologista Daniel Cohen Goldemberg (foto), pesquisador do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Os autores realizaram um survey com especialistas em instituições norte-americanas associadas a um estudo nacional em andamento sobre saúde bucal após o tratamento de câncer de cabeça e pescoço. Foram utilizadas dezessete perguntas para avaliar as características do provedor, padrões de prática, padrões de encaminhamento, barreiras para encaminhamento e disposição para aplicar verniz fluoretado na clínica de oncologia.

Resultados

97 especialistas de seis instituições foram convidados, dos quais 40 (41%) responderam. Os cirurgiões representaram 45% da amostra, seguido pelos radio-oncologistas (40%) e oncologistas clínicos (15%). Tanto generalistas quanto subespecialistas foram incluídos. Todos trabalhavam em uma área metropolitana com prática odontológica acadêmica, o que para muitos melhora o acesso aos cuidados. Apesar disso, a maioria dos oncologistas afirmou acreditar que os fatores financeiros são uma barreira significativa para obter atendimento odontológico oportuno. A maioria dos oncologistas realizou uma avaliação odontológica durante as consultas.

Os oncologistas se sentiram qualificados para identificar as complicações mais significativas do tratamento, como osso exposto, mas não para identificar alterações precoces que precisavam de intervenção. Quando questionados se a clínica de oncologia poderia aplicar verniz fluoretado durante os acompanhamentos, a maioria afirmou que a prática era viável, mas exigiria educação e apoio financeiro.

“A avaliação dentária adequada antes e depois do tratamento pode melhorar os resultados, mas é um desafio logístico. Os oncologistas costumam realizar avaliações dentárias limitadas durante suas visitas de rotina. Devido aos desafios associados ao acesso ao atendimento odontológico adequado para essa população, essas visitas oncológicas podem fornecer uma janela para intervenção preventiva”, concluíram os autores.

Equipe odontológica no manejo do paciente oncológico segue como padrão ouro no atendimento

Por Daniel Cohen Goldemberg, estomatologista e patologista bucal, Honorary Oral Medicine Senior Lecturer da University College London (UCL), Membro da Comissão de Ensino, professor e subchefe da Residência em Odontologia e membro da coordenação de Pesquisa e Educação / CPQ / INCA

Os cuidados odontológicos dos pacientes oncológicos são de suma importância para o controle das toxicidades imediatas e de longo prazo decorrentes do tratamento a que estes são submetidos. Neste contexto, a equipe de saúde bucal é fundamental como parte da abordagem interdisciplinar que envolve também a cirurgia, oncologia, radioterapia, nutrição, fonoaudiologia e fisioterapia1. Um estudo recente inclusive mostrou a importância da equipe de psicologia para os pacientes de câncer de cabeça e pescoço, que podem apresentar inúmeros transtornos de ansiedade em decorrência do tratamento oncológico, com fatores de risco importantes que devem ser identificados pela equipe médica destes pacientes como estadiamento avançado, histórico de abuso na infância e algum distúrbio de ansiedade no momento do diagnóstico do câncer2.

Vale ressaltar que a importância da equipe de saúde bucal vai além dos dentistas clínicos gerais, sendo também fundamental a presença de uma equipe de estomatologia para o reconhecimento de manifestações orais da doença do enxerto contra o hospedeiro, por exemplo, que é a principal causa de morbimortalidade e comumente observada nos pacientes oncológicos que são submetidos ao transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas. Fato este que de forma alguma retira a importância dos cuidados odontológicos mais básicos e fundamentais, como do manejo terapêutico das lesões cariosas, especialmente nestes pacientes que apresentam modificação relevante de quantidade e qualidade do fluxo salivar3.

O artigo que nos cabe comentar é interessante, no entanto, a aplicação de flúor por parte dos oncologistas não parece uma ideia viável, apesar da dificuldade de inclusão de equipe odontológica no contexto do paciente oncológico4. Este é realmente um grande desafio, onde podemos observar esta dificuldade pelo próprio panorama de formação dos cirurgiões-dentistas no nosso país, com poucos profissionais sendo habilitados na área através de programas de residência em oncologia5.

A laserterapia de baixa potência para o manejo da mucosite por quimioterapia ou radioterapia também é de extrema relevância e deve ser realizada por cirurgiões-dentistas habilitados8, por terem também um melhor treinamento em relação ao diagnóstico diferencial das lesões em cavidade oral, dentre elas as desordens potencialmente malignas e o carcinoma epidermoide, câncer de boca mais comum9. Além disso, os pacientes que foram submetidos à radiação ionizante de cabeça e pescoço devem receber atenção odontológica criteriosa, antes do tratamento, durante e a longo prazo. Caso estes cuidados não sejam tomados, a qualidade de vida do paciente estará comprometida com complicações, algumas vezes graves, como a própria osteoradionecrose8. Ela foi considerada de mais fácil identificação pelos médicos entrevistados no estudo de Ward e colaboradores4, mas apresenta manejo extremamente variável dependendo do grau de osteonecrose e muitas vezes é um desafio até mesmo para os cirurgiões-dentistas especializados em estomatologia ou cirurgia bucomaxilofacial que costumam lidar mais com este tipo de lesão.  Não somente a manutenção da higiene bucal como todos os cuidados no atendimento odontológico criterioso a estes pacientes podem reduzir o risco de desenvolvimento de osteoradionecrose de forma significativa9.

Portanto, como mensagem final, a presença de equipe odontológica no manejo do paciente oncológico segue sendo o padrão ouro no atendimento destes doentes, antes, durante e no longo prazo10, especialmente dentro do contexto atual em que a sobrevida tende a aumentar de forma significativa com a evolução das novas modalidades terapêuticas como terapia alvo molecular11 e imunoterapia11,12.

Referências:

1. Epstein J.B., Barasch A. (2018) Oral and Dental Health in Head and Neck Cancer Patients. In: Maghami E., Ho A. (eds) Multidisciplinary Care of the Head and Neck Cancer Patient. Cancer Treatment and Research, vol 174. Springer, Cham. https://doi.org/10.1007/978-3-319-65421-8_4

2. Henry, M., Sargi, E., Frenkiel, S., Hier, M., Zeitouni, A., Kost, K., Mlynarek, A., Black, M., MacDonald, C., Richardson, K., Chartier, G., Sadeghi, N., & Rosberger, Z. (2021). Longitudinal study indicating antecedent psychosocial vulnerability as predictor of anxiety disorders post-treatment in people with head and neck cancer. Psycho-oncology, 10.1002/pon.5760. Advance online publication. https://doi.org/10.1002/pon.5760

3. Souto, A. C. S., Ramos, G. de A., Melo, A. C., Goldemberg, D. C., & Antunes, H. S. (2020). Manejo Terapêutico das Lesões Cariosas em Pacientes com a Doença do Enxerto contra o Hospedeiro Crônica: Relato de Caso. Revista Brasileira De Cancerologia, 66(2), e-15932. https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2020v66n2.932

4. Ward, M. C., Carpenter, M. D., Noll, J., Carrizosa, D., Moeller, B. J., Helgeson, E. S., Lalla, R. V., & Brennan, M. T. (2021). Oncologists' Perspective on Dental Care Around the Treatment of Head and Neck Cancer: A Pattern of Practice Survey. JCO oncology practice, OP2000913. Advance online publication. https://doi.org/10.1200/OP.20.00913

5. Alves, L. D. B., Menezes, A. C. dos S., Costa, A. M. D. da, Heimlich, F. V., Goldemberg, D. C., & Antunes, H. S. (2020). Panorama Atual dos Programas de Residência Multiprofissional em Oncologia para Cirurgiões-Dentistas do Brasil. Revista Brasileira De Cancerologia, 66(3), e-021047. https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2020v66n3.1047

6. Cronshaw, M., Parker, S., Anagnostaki, E., Mylona, V., Lynch, E., & Grootveld, M. (2020). Photobiomodulation and Oral Mucositis: A Systematic Review. Dentistry journal, 8(3), 87. https://doi.org/10.3390/dj8030087

7. Abadeh, A., Ali, A. A., Bradley, G., & Magalhaes, M. A. (2019). Increase in detection of oral cancer and precursor lesions by dentists: Evidence from an oral and maxillofacial pathology service. Journal of the American Dental Association (1939), 150(6), 531–539. https://doi.org/10.1016/j.adaj.2019.01.026

8. Piret, P., & Coucke, P. A. (2021). Prise en charge dentaire des patients irradiés en région cervico-faciale [Dental management of head and neck irradiated patients]. Revue medicale de Liege, 76(5-6), 554–558.

9. Raguse, J. D., Hossamo, J., Tinhofer, I., Hoffmeister, B., Budach, V., Jamil, B., Jöhrens, K., Thieme, N., Doll, C., Nahles, S., Hartwig, S. T., & Stromberger, C. (2016). Patient and treatment-related risk factors for osteoradionecrosis of the jaw in patients with head and neck cancer. Oral surgery, oral medicine, oral pathology and oral radiology, 121(3), 215–21.e1. https://doi.org/10.1016/j.oooo.2015.10.006

10. Alves L.D.B., Menezes A.C.S., Costa A.M.D., Heimlich F.V., Goldemberg D.C., Antunes H.S. (2021). Strategies for the dentist management of cancer patients: narrative literature review. J Cancer Prev Curr Res;12(4):111‒121. DOI: 10.15406/jcpcr.2021.12.00463

11. Kumar, S., Noronha, V., Patil, V., Joshi, A., Menon, N., & Prabhash, K. (2021). Advances in pharmacotherapy for head and neck cancer. Expert opinion on pharmacotherapy, 1–12. Advance online publication. https://doi.org/10.1080/14656566.2021.1948011

12. Trivedi, S., Sun, L., & Aggarwal, C. (2021). Immunotherapy for Head and Neck Cancer. Hematology/oncology clinics of North America, S0889-8588(21)00066-6. Advance online publication. https://doi.org/10.1016/j.hoc.2021.05.010


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