Acesso à radioterapia de alta tecnologia no tratamento do câncer de pulmão no Brasil

lilian faroni bxQual o cenário atual de acesso à radioterapia de alta qualidade para o tratamento do câncer de pulmão no Brasil? Estudo retrospectivo publicado no JCO Global Oncology utilizou o Censo Brasileiro de Radioterapia, bases de dados locais públicas e privadas e a literatura atual publicada em 2019 para fornecer uma visão geral sobre a disponibilidade de radioterapia de alta tecnologia no país. Lilian Faroni (foto), médica especialista em radioterapia do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), é a primeira autora do trabalho.

O câncer de pulmão é um problema de saúde global, com mais de 220 mil novos casos e 150 mil mortes por ano nos Estados Unidos. No Brasil, é o câncer mais letal, com 30.200 novos casos previstos em 2020. Em relação aos tipos de tratamento, a radioterapia (RT) representa uma abordagem importante, uma vez que 60%-70% dos pacientes receberão esta modalidade de tratamento durante o curso de sua doença. No entanto, o acesso à radioterapia continua desafiador devido às desigualdades socioeconômicas da população brasileira.

Resultados

A análise demonstrou que a rede brasileira de radioterapia conta com aproximadamente 363 aceleradores lineares e 20 máquinas de cobalto que permanecem operacionais, a maioria instalada em unidades de saúde pública. Em relação à alta tecnologia, a radioterapia de intensidade modulada (IMRT) está disponível em 53,7% (n = 130), e a arcoterapia volumétrica modulada (VMAT) em 28,5% (n = 69) das instituições, embora apenas 19,8% (n = 48) dessas instituições sejam capazes de realizar radioterapia guiada por imagem usando tomografia computadorizada de feixe cônico.

Considerando apenas o sistema público de saúde, 40,1% (n = 65) das instituições oferecem IMRT, 21% (n = 34)   VMAT e 14,8% (n = 24) utilizam tomografia computadorizada de feixe cônico. Além disso, apenas 16% dos Departamentos de Radiação oferecem radioterapia estereotática corporal.

“O estudo chama a atenção para a situação brasileira atual, que enfrenta uma distribuição heterogênea relevante de máquinas e tecnologias de radioterapia. Apenas alguns departamentos oferecem radioterapia estereotática corporal, o que faz com que a maioria dos pacientes com câncer de pulmão em estágio I não tenham acesso a essa opção de tratamento”, observam os autores.

“Os resultados podem ser usados ​​para apoiar novos projetos públicos para expandir o acesso global a uma melhor qualidade de tratamento de radioterapia. Além disso, os dados podem estimular departamentos existentes a investir em atualizações e implementar novas modalidades de tratamento”, concluem.

Referência: Access of Patients With Lung Cancer to High Technology Radiation Therapy in Brazil - Lilian Dantonino Faroni; Arthur Accioly Rosa; Veronica Aran; Renan Serrano Ramos; Carlos Gil Ferreira - DOI: 10.1200/GO.20.00622 JCO Global Oncology no. 7 (2021) 726-733. Published online May 19, 2021.

https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/GO.20.00622