Síndromes hereditárias de predisposição ao câncer no Brasil

jarbas joao 2 2021Estudo brasileiro genotipou 1.682 indivíduos brasileiros com suspeita de síndrome de risco hereditário de câncer, de todas as regiões do país. Os autores usaram painéis multigênicos NGS adequados para a detecção de variantes patogênicas da linhagem germinativa associadas à suscetibilidade ao câncer. Os resultados foram publicados no periódico medRxiv, em versão preprint (ainda sem revisão por pares), em artigo que tem o cirurgião Jarbas Maciel de Oliveira, coordenador da oncologia do Hospital Memorial Arcoverde e da Unidade Pernambucana de Atendimento Especializado (UPAE), de Arcoverde, como primeiro autor. João Bosco de Oliveira Filho, coordenador médico do Programa de Medicina de Precisão do Hospital Israelita Albert Einstein, é o autor sênior do trabalho.

As síndromes hereditárias de predisposição ao câncer são causadas por variantes da linhagem germinativa em um número crescente de genes. No entanto, a maioria dos estudos sobre câncer hereditário foi realizada em populações brancas. Nesse estudo, os pesquisadores buscaram avaliar a prevalência de mutações em genes de predisposição ao câncer em indivíduos brasileiros, que possuem múltiplas etnias. O projeto representa o maior estudo de genética de risco de câncer já realizado no país.

Os participantes do estudo foram em sua maioria mulheres com histórico pessoal/familiar de câncer, principalmente de mama e ovário. Foram identificadas 321 variantes patogênicas/provavelmente patogênicas (P/LP) em 305 participantes (18,1%) distribuídas em 32 genes. A maioria estava em BRCA1 e BRCA2 (129 pacientes, 26,2% e 14,3% de todos os P/LP, respectivamente), MUTYH (42 pacientes monoalélicos, 13,1%), PALB2 (25, 7,8%), genes da síndrome de Lynch (17, 5,3%) e TP53 (17, 5,3%).

A prevalência de trans-heterozigosidade (variantes patogênicas em dois genes distintos) na amostra foi de 0,89% (15/1682). A taxa de dupla heterozigosidade BRCA1 / BRCA2 foi de 0,78% (1/129) para portadores de variantes BRCA e 0,06% (1/1682) no geral.

“Também avaliamos o desempenho dos critérios de indicação de testagem genética da NCCN e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e observamos taxas de falsos negativos de 17,3% e 44,2%, o que significa que ambos não conseguiram detectar uma parte substancial dos pacientes com variantes patogênicas”, observaram os autores.

“Nossos resultados agregam conhecimento sobre o espectro brasileiro de variantes que causam risco de câncer no nosso país. Além disso, demonstram que grandes painéis multigênicos apresentam altas taxas de positividade e evidenciam que as diretrizes brasileiras de testes genéticos devem ser aprimoradas. A geração de dados genéticos da nossa população deve ser uma prioridade para os que estudam as síndromes de risco hereditário no Brasil, visto que não somos adequadamente representados nas grandes bases internacionais”, concluíram

Referência: The genetics of hereditary cancer risk syndromes in Brazil: a comprehensive analysis of 1682 patients - Jarbas Maciel de Oliveira, Nuria Bengala Zurro, Antonio Victor Campos Coelho, Marcel Pinheiro Caraciolo, Rodrigo Bertollo de Alexandre, Murilo Castro Cervato, Renata Moldenhauer Minillo, George de Vasconcelos Carvalho Neto, Ivana Grivicich, João Bosco de Oliveira Filho - medRxiv 2021.04.15.21255554; doi: https://doi.org/10.1101/2021.04.15.21255554