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AtualizadoQui, 28 Mar 2024 7pm

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Daichii Sankyo

 

POP-Brasil: Eficácia do programa de vacinação universal contra HPV em jovens brasileiras

eliana wendland bxEstudo publicado no periódico Vaccine examinou a eficácia da vacina contra o papilomavírus humano (HPV) em uma amostra nacional de mulheres de 16 a 25 anos que utilizam o sistema público de saúde no Brasil. “Observamos na faixa etária com acesso a vacinação, um percentual de 50% de vacinados, muito parecido com os resultados de um estudo recém-publicado no JAMA Oncology que avalia a vacinação em uma população semelhante nos Estados Unidos, e muito aquém do que se gostaria, que era uma vacinação em torno de 80%”, observa Eliana Wendland (foto), epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento, professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e coordenadora do estudo POP-Brasil.

Em 2020, uma análise publicada na Scientific Reports considerou 7.694 participantes sexualmente ativos não vacinados entre 16 e 25 anos de idade recrutados em 119 unidades básicas de saúde públicas do país. Entre os participantes, 53,6% (95% CI 51,4-55,8) foram positivos para qualquer tipo de HPV. A prevalência de tipos de HPV de alto risco foi significativamente maior em mulheres (38,6% vs. 29,2%, P <0,001). Os tipos de HPV incluídos na vacina quadrivalente foram detectados em 1.002 (14,8%) amostras, com padrão diferente de infecção por HPV entre os sexos. As características associadas à detecção geral do HPV incluíram sexo feminino, autodeclaração de raça morena/parda, classe socioeconômica mais baixa, solteiros e/ou namorando, tabagismo atual e 2 ou mais parceiros sexuais no último ano.

“Encontramos alta prevalência de HPV, com diferenças significativas entre as regiões. Nossos dados fornecem informações que podem ser consideradas no desenvolvimento de políticas de prevenção do HPV e constituem um baseline sobre o impacto do programa de imunização contra o HPV no Brasil para avaliação futura”, concluíram os pesquisadores.

Avaliação da efetividade

A análise publicada na Vaccine foi realizada entre setembro de 2016 e novembro de 2017 para avaliar o impacto da vacinação contra o HPV. Um total de 5.945 mulheres adultas jovens foram recrutadas em 119 unidades básicas de saúde públicas de todas as 27 unidades federativas do país por profissionais de saúde treinados.

As participantes participaram de uma entrevista presencial e forneceram amostras biológicas para análise de HPV genital. A genotipagem do HPV foi realizada usando um teste de genotipagem Linear Array HPV em um laboratório central. Pesos de amostragem foram aplicados aos dados.

No geral, 11,92% (95% CI 10,65, 13,20) das participantes relataram ter sido vacinadas. A frequência da vacinação foi mais alta em mulheres de 16 a 17 anos, com uma taxa de vacinação decrescente com o aumento da idade, e as mulheres vacinadas eram mais propensas a pertencer ao grupo de alto nível socioeconômico. “As mulheres mais velhas não tiveram acesso à vacinação naquele momento. As participantes da faixa de 16 a 17 anos foi incluída em 2014 na vacinação como política do SUS”, esclarece Eliana.

Em 2014, o Brasil introduziu a vacina quadrivalente em um programa público de imunização para meninas (11–13 anos) para prevenção primária do câncer cervical. A implantação foi ampliada para aquelas de 9 a 13 anos em 2015 e de 9 a 14 anos em 2017; quando foram incluídos meninos com idades entre 11-14 anos e outras populações de risco como pessoas HIV-positivas com idades entre 9 e 26 anos, pacientes oncológicos e pessoas que se submeteram a órgãos sólidos ou transplante de medula óssea.

O trabalho também demonstrou que uso da vacina quadrivalente diminuiu os tipos de HPV 6, 11, 16 e 18 em 56,78%, de 15,64% em mulheres não vacinadas para 6,76% em mulheres vacinadas (P <0,01), mesmo após ajuste para idade.

“Aqueles que receberam a vacina tiveram menores taxas de HPV 16 (2,34% nos vacinados vs 8,91% nas participantes não vacinadas, P <0,01) e HPV 6 (2,06% vs 5,77%, P <0,01). Além disso, foi observada uma taxa mais elevada de tipos de HPV de alto risco diferentes do HPV 16 e 18 (40,47% nas vacinadas vs 32,63% naquelas não vacinadas, P <0,01)”, destaca a publicação.

Em conclusão, os resultados do estudo apoiam a eficácia da vacinação contra o HPV no Brasil. “A vigilância contínua deve ser garantida para monitorar a taxa de infecção por HPV”, afirmam os autores.  

Aumento da cobertura vacinal

Segundo Eliana, a vacina contra o HPV tem uma característica diferente das outras vacinas indicadas para a infância. Muitas vezes ela é associada ao início da atividade sexual, e os pais protelam erroneamente a vacinação, não considerando a imunização contra o HPV como uma estratégia de prevenção que deve ser realizada na infância. “Esta vinculação atrapalha muito a cobertura vacinal. É preciso entender que a vacinação contra o HPV, na verdade, é prevenção do câncer associado ao HPV. É uma vacina que previne câncer. A mudança dessa lógica pode contribuir com o aumento da cobertura vacinal”, ressalta.

A epidemiologista acrescenta a importância do papel do médico na indicação da vacina como um dos principais fatores que leva as pessoas a se vacinarem contra o HPV. “Inclusive na classe medica houve um certo preconceito com a vacina contra o HPV, o que contribuiu para a baixa cobertura vacinal. É importante que o médico da atenção primária, que faz o primeiro atendimento no Sistema Único de Saúde, indique a vacinação contra o HPV, esteja engajado nesse incentivo à vacinação”, diz.

Outro aspecto destacado pela especialista é o papel das escolas como um ambiente de promoção de saúde. “Além da informação da população e dos profissionais de saúde, talvez uma das principais estratégias para aumentar a cobertura vacinal contra o HPV seria voltar a fazer a vacinação nas escolas. No início da implementação da vacinação contra o HPV como política pública as escolas tiveram um papel fundamental, e observamos taxas mais altas de cobertura vacinal, o que também é observado em países que realizam a vacinação nas escolas”, conclui.

Referências:

1 - Eliana M. Wendland, Natália Luiza Kops, Marina Bessel, Juliana Comerlato, Ana Goretti Kalume Maranhão, Flávia Moreno Alves Souza, Luisa Lina Villa, Gerson Fernando Mendes Pereira, Effectiveness of a universal vaccination program with an HPV quadrivalent vaccine in young Brazilian women, Vaccine, Volume 39, Issue 13, 2021, Pages 1840-1845, ISSN 0264-410X, https://doi.org/10.1016/j.vaccine.2021.02.040.

2Chen MM, Mott N, Clark SJ, et al. HPV Vaccination Among Young Adults in the US. JAMA. 2021;325(16):1673–1674. doi:10.1001/jama.2021.0725

3 – Wendland EM, Villa LL, Unger ER, Domingues CM, Benzaken AS; POP-Brazil Study Group. Prevalence of HPV infection among sexually active adolescents and young adults in Brazil: The POP-Brazil Study. Sci Rep. 2020 Mar 18;10(1):4920. doi: 10.1038/s41598-020-61582-2. PMID: 32188884; PMCID: PMC7080737.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32188884/

 

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