Qualidade de vida dos sobreviventes

cancer_survivor.jpgO Journal of Clinical Oncology publicou na edição de 14 de abril três linhas de conduta com recomendações para lidar com alguns dos sintomas mais comuns do adulto sobrevivente de câncer. Os guidelines da ASCO contemplam prevenção e manejo da neuropatia periférica induzida por quimioterapia (NPIQ), fadiga e, finalmente, depressão e ansiedade, temas que inauguram uma série especialmente dedicada ao seguimento do paciente oncológico que já completou o tratamento primário.


A proposta de fomentar diretrizes clínicas baseadas em evidências é ampliar a oferta de ferramentas de avaliação e de instrumentos de rastreamento para ajudar a identificar e gerenciar os efeitos tardios do câncer e de seu tratamento.

Neuropatia periférica induzida por quimioterapia

O guideline da ASCO lembra que não há na literatura agentes com evidência suficiente para uso na prevenção da NPIQ. Os melhores dados disponíveis suportam uma recomendação moderada para o tratamento com a duloxetina. Embora os estudos sejam inconclusivos, o gel tópico que combina bacoflen (10 mg) amitriptilina (40 mg) e cloridrato de cetamina (20 mg) têm sido empregado na NPIQ, em um cenário limitado de intervenções, ainda que não haja evidência para sua aplicação.

A revisão sistemática que serviu de base às novas linhas de conduta sobre NPIQ foi conduzida por Daw Hershman, da Columbia University, e colegas. Um total de 48 ensaios clínicos randomizados preencheu os critérios de elegibilidade e compõe a base científica para as recomendações, mesmo com a ressalva de que alguns estudos têm uma amostra pequena e heterogênea, insuficiente para detectar diferenças clinicamente importantes.

“É uma contribuição tímida para a comunidade de oncologia”, diz Ricardo Caponero, membro da Sociedade Brasileira de Cuidados Paliativos, com a crítica de que a linha de conduta vai ter pouca aplicação na prática cotidiana. “É um monte de recomendações sobre o que não funciona e quase nada sobre o que pode ser feito”, reclama o oncologista.

A NPIQ é um problema que afeta até 38% dos pacientes submetidos a múltiplos agentes, dependendo da dose, do regime empregado e do tempo de exposição ao tratamento. Os sintomas sensoriais são mais prevalentes que os motores e merecem atenção, pois até 80% dos casos podem ser parcialmente revertidos em pacientes em uso de quimioterapia a base de oxaliplatina e até 40% dos pacientes referem cessação dos sintomas de NPIQ após o término do tratamento.

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Depressão e ansiedade

Barbara L. Andersen, do departamento de Psicologia da Universidade de Ohio,liderou o grupo que assina a adaptação do guideline pan-canadense que subsidiou a linha de conduta clínica da ASCO para Triagem, Avaliação e Tratamento da Ansiedade e Depressão em Adultos com Câncer (Screening, Assessment, and Care of Anxiety and DepressiveSymptoms in Adults With Cancer: An American Society ofClinical Oncology Guideline Adaptation).

A recomendação prevê que todos os pacientes com câncer devem ser avaliados periodicamente para sintomas de depressão e ansiedade, durante todo o percurso de cuidados. A diretriz prevê que a avaliação deve ser realizada utilizando-se medidas e procedimentos validados e publicados. Segundo o guideline, a falha em identificar e tratar a ansiedade e a depressão compromete a qualidade de vida do paciente e aumenta o potencial de morbidade e mortalidade relacionado à doença, daí o papel central do médico em identificar e tratar as sequelas emocionais do tratamento do câncer.

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Fadiga

A linha de conduta da ASCO recomenda que todos os pacientes com câncer devem ser avaliados para a presença de fadiga, após a conclusão do tratamento primário. O guideline fala da importância de promover o rastreio regular e oferecer informações e estratégias específicas para a gestão de fadiga, adaptadas às necessidades de cada paciente. As diretrizes sustentam que há evidências para recomendar intervenções psicossociais e atividade física, em nível moderado e sob supervisão. Em grau mais restrito, evidência limitada para o uso de psicoestimulantes na gestão da fadiga em sobreviventes do câncer. A ASCO também reconhece evidências de que abordagens alternativas como ioga e acupuntura podem ajudar a reduzir a fadiga. A sociedade considera outras práticas, como reiki, massagem e musicoterapia, mas afirma que são necessárias pesquisas adicionais para comprovar seus benefícios nessa população.

A maior parte dos pacientes de câncer vai experimentar a fadiga em algum momento do tratamento, mas cerca de 30% vão apresentar fadiga anos depois, como um componente que pode comprometer seriamente a qualidade de vida. Sobreviventes que realizaram terapia hormonal e pacientes de leucemia mieloide crônica em uso de inibidores de tirosina-quinase estão entre o subgrupo com indicação para rastreamento.

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