Perfil molecular em tumores gastrointestinais, o avanço do ano

asco advances 2021 bxA Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) destacou a capacidade de traçar o perfil molecular de tumores gastrointestinais como o avanço do ano. Publicada no Journal of Clinical Oncology (JCO) no dia 02 de fevereiro, a 16ª edição do relatório Clinical Cancer Advances 20211 aponta ainda a necessidade de equidade na saúde e pesquisa do câncer, e reforça a importância do financiamento federal para promover os avanços na área.

Os tumores gastrointestinais são responsáveis ​​por 26% da incidência global de câncer e 35% de todas as mortes relacionadas à doença.2 Agora, a capacidade de traçar o perfil molecular de tumores gastrointestinais expandiu as opções de tratamento para esses pacientes, estendendo a sobrevida e minimizando os efeitos adversos.

“O perfil molecular, como o sequenciamento de última geração, nos permite identificar assinaturas moleculares e genéticas que ajudam a fornecer tratamentos altamente específicos para um tumor. Essa ferramenta possibilitou uma série de avanços no ano passado que estão melhorando o atendimento a pacientes com câncer gastrointestinal”, ressalta o documento.

“Ano passado, a pesquisa mostrou que a segmentação do HER2 melhora a sobrevida no câncer gástrico e mostra-se promissora para pacientes com câncer colorretal HER2-positivo. A terapia agora é aprovada e visa mutações específicas do gene BRAF no câncer colorretal metastático. Esses avanços estão aproximando o tratamento de cânceres gastrointestinais da medicina personalizada”, acrescenta.

O relatório também inclui pesquisas essenciais em uma variedade de terapias para câncer de mama, pulmão, próstata, carcinoma hepatocelular e câncer hematológico, avanços que em muitos casos resultaram em novas terapias aprovadas.

Além de identificar os principais avanços do ano passado, o documento também identifica áreas de necessidades não atendidas e oportunidades de pesquisa no tratamento do câncer.

Equidade na pesquisa do cCâncer

O relatório inclui um exame das desigualdades em saúde no tratamento do câncer e na pesquisa clínica. Ano passado, diversos eventos científicos destacaram as desigualdades na saúde como um dos maiores desafios que a medicina e a sociedade enfrentam atualmente.

“As disparidades nos resultados do câncer estão enraizadas, em alguns aspectos, no desenvolvimento de novos diagnósticos e terapêuticas, ou seja, na pesquisa clínica que demonstra a eficácia e segurança de novos tratamentos. A sub-representação de grupos minoritários na pesquisa do câncer contribui para as disparidades no tratamento do câncer e nos resultados ao não fornecer as evidências para tratar com segurança os pacientes com câncer de grupos minoritários”, defende a publicação.

O relatório descreve estratégias e ações que podem ajudar a diminuir as barreiras à participação em ensaios clínicos e, assim, aumentar a diversidade de participantes de ensaios. Essas estratégias incluem elegibilidade ampliada para o estudo, expansão da disponibilidade geográfica e assistência financeira, entre outros. 

Prioridades de pesquisa para acelerar o progresso contra o câncer

Este ano, a ASCO adicionou inteligência artificial (IA) e deep learning na pesquisa do câncer à sua lista de Prioridades de Pesquisa para Acelerar o Progresso Contra o Câncer. A IA tem o potencial de conduzir pesquisas diagnósticas, terapêuticas e translacionais do câncer. “Em particular, a pesquisa deve se concentrar no uso da inteligência artificial no diagnóstico de câncer com base na análise do bioespécime; aprimorando e melhorando imagens radiográficas, interpretação e relatórios; e integração de grandes quantidades de dados clínicos para auxiliar na tomada de decisão clínica e medição de resultados clínicos.

A lista completa de prioridades inclui ainda o desenvolvimento e integração da inteligência artificial e deep learning na pesquisa do câncer; identificação de estratégias que preveem resposta e resistência à imunoterapia; otimização do tratamento multimodal para tumores sólidos; aumento das abordagens de pesquisa e tratamento de medicina de precisão em tumores pediátricos e raros; otimização do atendimento para idosos com câncer; aumento do acesso equitativo a estudos clínicos sobre câncer; redução das consequências adversas do tratamento do câncer; redução do impacto da obesidade na incidência e resultados do câncer; melhor identificação de lesões potencialmente malignas e predição da necessidade de tratamento.

O relatório destaca ainda o impacto da pandemia da COVID-19 na pesquisa em câncer, ressaltando a necessidade de financiamento emergencial para pesquisa, além de um aumento anual robusto nos orçamentos de referência do NIH e NCI para mitigar interrupções causadas pela pandemia. “A emergência de saúde pública COVID-19 ameaça reverter anos de ímpeto na pesquisa do câncer. Os laboratórios que conduzem pesquisas sobre o câncer fecharam ou o espaço foi redirecionado para a pesquisa da COVID-19. Ensaios clínicos foram interrompidos ou diminuídos, criando uma perda onerosa no progresso da pesquisa e atrasos no acesso do paciente a tratamentos que potencialmente salvam vidas”, observam os autores.

O relatório completo pode ser acessado em asco.org/cca ou no Journal of Clinical Oncology.

Referências:

1 - Clinical Cancer Advances 2021: ASCO's Report on Progress Against Cancer - DOI: 10.1200/JCO.20.03420 Journal of Clinical Oncology - Published online February 02, 2021.

2 - Arnold M, Abnet CC, Neale RE, et al: Global burden of 5 major types of gastrointestinal cancer. Gastroenterology 159:335-349.e15, 2020