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AtualizadoQua, 24 Abr 2024 8pm

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Daichii Sankyo

 

Câncer por transmissão materno-infantil

RIAD NET OK 2Dois casos de câncer de pulmão pediátrico (em meninos de 23 meses e 6 anos de idade) resultantes da transmissão de mãe para filho de tumores cervicais uterinos foram detectados incidentalmente durante o sequenciamento de próxima geração de amostras pareadas de tumor e tecido normal. É o que descreve artigo de Arakawa et al na New England Journal of Medicine. O cirurgião oncológico Riad Younes (foto), diretor do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, discute os achados. 

Nesta análise, os autores apresentam dados inéditos do projeto TOP-GEAR. “A regressão espontânea de algumas lesões na primeira criança e o crescimento lento da massa tumoral na segunda criança sugerem a existência de respostas aloimunes contra os tumores transmitidos. A terapia com o inibidor de checkpoint imune nivolumabe levou a uma forte regressão de todos os tumores remanescentes na primeira criança”, destaca a publicação.

Desde 2018, o projeto TOP-GEAR (UMIN000011141) tem permitido aplicar testes genômicos baseados em sequenciamento de última geração (NGS) na prática oncológica de rotina no Japão. “Desenvolvemos um painel de NGS (sistema NCC Oncopanel) para examinar mutações somáticas e germinativas de 114 genes associados ao câncer em tumores sólidos avançados. Ao usar este sistema, mostramos que cerca de 10% dos casos examinados receberam desde então terapia alvo- molecular de acordo com seu perfil gênico (Sunami et al, Cancer Sci, 2019).

O sistema NCC Oncopanel foi aprovado pelo PMDA (Pharmaceuticals and Medical Devices Agency) como o primeiro teste de painel de genes de perfil de tumor no Japão em 25 de dezembro de 2018 e seu uso é reembolsado pelo sistema de seguro saúde nacional. 

Tumores de pulmão em recém nascidos: Transmissão por via respiratória durante o parto

Por Riad Younes, professor livre docente do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP e diretor geral do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo

O aumento de risco de câncer transmitido de mães para recém nascidos é possível, com várias pesquisas concentrando sua atenção para a infecção por HPV (presente na mãe), sendo transmitida durante o parto. Vários estudos confirmam a possibilidade da infecção por HPV durante o parto, com raros casos confirmando a persistência e as consequências do HPV na criança. Outros relatos de casos atribuem a transmissão vertical de câncer, durante a gravidez, à via transplacentária, onde células tumorais alcançariam as crianças por via hematogênica.

Recentemente, no entanto, um estudo publicado por pesquisadores do Instituto de Câncer de Tóquio, Japão, liderados por A. Arakawa, comprovou, pela primeira vez, a transmissão vaginal de câncer de pulmão em duas crianças, ocorridas durante o parto. O estudo, publicado na revista New England Journal of Medicine, descreve o diagnóstico de câncer de pulmão em duas crianças (diagnóstico de nódulos tumorais confirmado na idade de 23 semanas e 6 anos, respectivamente). Biópsias identificaram carcinoma neuroendócrino e adenocarcinoma, respectivamente.

No primeiro caso, os médicos protelaram o início do tratamento sistêmico por três anos devido à regressão espontânea de alguns nódulos. Após este período de observação, administraram imunoterapia com excelente resposta objetiva.

No segundo caso, a criança recebeu quimioterapia seguida de ressecção cirúrgica completa (pneumectomia esquerda). Ambas as crianças se mantiveram livres de progressão ou recidiva da doença até 15 meses após término do tratamento. As mães, ambas confirmadas com câncer de colo de útero (não detectado antes do parto), faleceram devido à progressão de suas neoplasias.

Os cientistas submeteram as biópsias dos tumores e dos tecidos normais de mães e filhos a estudos de biologia molecular (NGS, next generation sequencing), e encontraram padrões semelhantes, resultando em suspeição de transmissão materno-fetal dos tumores. Análises mais detalhadas levaram os pesquisadores a confirmar a hipótese de transmissão por via respiratória dos tumores: 1. todos os nódulos tumorais eram confinados ao parênquima pulmonar, sem metástases em outros órgãos (o que seria mais comum em transmissão hematogênica transplacentária); e 2. as células tumorais dos meninos não apresentavam cromossoma Y, e compartilhavam com os tumores das respectivas mães mutações somáticas, genoma de HPV e alelos SNP.

Este relato de casos, além da elegância do estudo patológico e de biologia molecular, chamou a atenção dos cientistas. Os autores recomendam que grávidas com diagnóstico de câncer cervical discutam a opção de parto por cesárea para evitar mais este potencial de transmissão tumoral durante um parto normal.

Referência: Ayumu Arakawa, M.D., Hitoshi Ichikawa, Ph.D., Takashi Kubo, Ph.D., Noriko Motoi, M.D., Ph.D., Tadashi Kumamoto, M.D., Ph.D., Miho Nakajima, M.D., Kan Yonemori, M.D., Ph.D., Emi Noguchi, M.D., Ph.D., Kuniko Sunami, M.D., Ph.D., Kouya Shiraishi, Ph.D., Hiroki Kakishima, Hiroshi Yoshida, M.D., Ph.D., et al. Vaginal Transmission of Cancer from Mothers with Cervical Cancer to Infants. N Engl J Med 2021; 384:42-50. DOI: 10.1056/NEJMoa2030391

 


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