Perspectivas futuras da terapia-alvo no câncer de pulmão de células não pequenas avançado

ramon branco bxO oncologista Ramon Andrade de Mello (foto), professor de Oncologia Clínica da UNIFESP, é primeiro autor de estudo publicado no Journal of Clinical Medicine (JCM) que revisa dados da literatura e discute as perspectivas futuras do tratamento do câncer de pulmão de células não pequenas. O artigo é parte da edição especial Biomarker for Non-small Cell Lung Cancer: From the Bench to the Bedside’.

O câncer de pulmão é a neoplasia mais comum em todo o mundo, e 85% desses tumores são classificados como câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP). Avanços consideráveis ​​foram feitos em relação ao tratamento do câncer de pulmão, inicialmente restrito à quimioterapia citotóxica, compostos de platina associados a agentes citotóxicos de 3ª geração (paclitaxel, gencitabina, pemetrexedo), e mais recentemente, com anticorpos monoclonais (bevacizumabe, ramucirumabe).

Os autores observam que avanços recentes no tratamento do câncer consistem no desenvolvimento de terapias-alvo, que bloqueiam moléculas específicas que são superexpressas ou hiperativadas apenas em células tumorais. Essas moléculas-alvo alteradas são o resultado de mutações driver nas células cancerosas, que amplificam as vias de proliferação e sobrevida, levando ao crescimento do tumor. Existem aproximadamente três tipos de terapias alvo: anticorpos monoclonais, inibidores de molécula pequena e imunotoxinas. O impacto desta evolução do tratamento câncer de pulmão se reflete no aumento das taxas de sobrevida em 5 anos dos pacientes, que saltaram de 10,7% no início dos anos 1970 para 19,8% em 2010. No entanto, alguns desafios permanecem, como a identificação de novas alterações nos genes driver envolvidos na carcinogênese, conhecimento dos mecanismos de resistência aos medicamentos e reconhecimento de preditores de resposta a novas terapias, esclarecem.

Desde de 2010, estudos clínicos mostraram os avanços das terapias alvos direcionadas ao receptor do fator de crescimento anti-epidérmico (EGFR), como os inibidores da tirosina quinase de 1ª e 2ª geração (TKIs como erlotinibe, afatinibe). Posteriormente, verificou-se que 60% dos casos a resistência a esses TKIs ocorre devido à mutação T790M no EGFR, que é superada com medicamentos de 3ª geração, como o osimertinibe. Outro avanço importante na oncologia personalizada foi a identificação da fusão do gene EML4/ALK, que é o alvo para drogas como crizotinibe, brigatinibe, alectinibe, ceritinibe, e mais recentemente os inibidores de checkpoint anti-PD1 e anti-PD-L1, que servem como alvos para agentes de imunoterapia, como pembrolizumabe, nivolumabe, atezolizumabe”, destacam os autores.

“A medicina personalizada é uma ferramenta importante no manejo clínico do câncer do pulmão atualmente. Os desafios no tratamento do CPCNP incluem resistência a TKIs de 3ª geração, o alto custo dos inibidores de ALK e a necessidade de pesquisas adicionais sobre novos medicamentos”, conclui Ramon, responsável pela edição especial do JCM.

Referência: de Mello, R.A.; Neves, N.M.; Tadokoro, H.; Amaral, G.A.; Castelo-Branco, P.; Zia, V.A.A. New Target Therapies in Advanced Non-Small Cell Lung Cancer: A Review of the Literature and Future Perspectives. J. Clin. Med. 2020, 9, 3543.