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AtualizadoQui, 28 Mar 2024 7pm

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Daichii Sankyo

 

Rastreamento aos 40 anos e mortalidade por câncer de mama

linei augusta brolini delle urban 2020 bxQual a faixa etária ideal para iniciar o rastreamento do câncer de mama? O ensaio clínico randomizado UK Age Trial envolveu 23 unidades de triagem mamária na Grã-Bretanha para estimar o efeito do rastreamento mamográfico em mulheres de 40-48 anos na mortalidade por câncer de mama. Resultados atualizados reportados no Lancet Oncology mostram que diminuir o limite  de idade para o rastreamento de 50 para 40 anos pode reduzir a mortalidade por câncer de mama. Quem comenta é Linei Urban (foto), coordenadora da Comissão Nacional de Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e radiologista da Clínica DAPI, em Curitiba.

Neste ensaio clínico foram consideradas mulheres entre 39-41 anos, randomizadas (1: 2) para iniciar o rastreamento mamográfico  no ano de inclusão no ensaio e anualmente até ≥ 48 anos de idade (grupo de intervenção) ou  nenhuma triagem, até o convite do Programa Nacional de Rastreamento de Mama do Serviço de Saúde do Reino Unido (NHSBSP), a partir dos 50 anos de idade (grupo controle). O endpoint primário foi a mortalidade por câncer de mama diagnosticado durante o período de intervenção, antes da primeira triagem do  NHSBSP.

Resultados

160 921 mulheres foram recrutadas entre 14 de outubro de 1990 e 24 de setembro de 1997, randomizadas para o grupo de intervenção (N= 53 883)  ou para o grupo controle (106.953). As mulheres foram acompanhadas por uma média de 22,8 anos (IQR 21,8–24,0).

Duffy et al. descrevem redução significativa na mortalidade por câncer de mama nos primeiros 10 anos de acompanhamento, com 83 mortes por câncer de mama no grupo de intervenção versus 219 no grupo de controle (taxa relativa [RR] 0 · 75 [IC 95% 0 · 58–0 · 97]; p = 0 · 029). No entanto, nenhuma redução significativa foi observada posteriormente, com 126 mortes contra 255 mortes por câncer de mama, indicando  que a intervenção teve pouco ou nenhum efeito  10 anos ou mais após a randomização (RR 0 · 98 [0 · 79–1 · 22]; p = 0,86), com aproximadamente uma morte evitada por 1000 mulheres rastreadas.

Com 6 anos adicionais de acompanhamento desde a última publicação, os resultados  confirmam a redução da mortalidade por câncer de mama associada ao rastreamento mamográfico anual aos 40 ou 41 anos, sem acrescentar sobrediagnóstico (overdiagnosis) em relação ao screening aos 50.  “A mamografia anual antes dos 50 anos, começando aos 40 ou 41 anos, foi associada à redução relativa na mortalidade por câncer de mama, embora a redução absoluta tenha permanecido constante”, destacam os autores.

Os resultados da atualização também mostram que mais casos de câncer in situ foram relatados no grupo de intervenção, que teve efeito menor sobre a mortalidade no câncer de mama grau 3.

"O câncer de mama é o tumor que mais apresenta evidências científicas sobre o impacto do rastreamento na redução da mortalidade. Apesar dos dados favoráveis observados em diversos estudos publicados ao redor do mundo, ainda existe um grande debate sobre a faixa etária para iniciar o rastreamento. Enquanto todos concordam com o rastreamento entre 50 a 69 anos, existe uma discussão em relação ao grupo entre 40 a 49 anos", observa Linei. "Nesse contexto, o trabalho publicado por Duffy e cols. trouxe informações importantes, pois foi conduzido especificamente para esse grupo de mulheres, entre 40 a 49 anos, e demonstrou uma redução significativa da mortalidade pelo câncer de mama naquelas que se submeteram ao rastreamento mamográfico, em comparação às mulheres que não realizaram", acrescenta. 

Ela avalia que o trabalho traz duas reflexões importantes. Primeiro, que não é mais possível excluir esse grupo de mulheres do rastreamento, pois as evidências são fortes em relação aos benefícios. "E quando se salva uma vida nessa faixa etária estamos falando de um impacto significativo do ponto de vista social e profissional, tendo em consideração que se tratam de mulheres economicamente ativas e com uma maior expectativa de vida".

Outro ponto destacado pela especialista é a importância da inclusão das mulheres nessa faixa etária especificamente nos países em desenvolvimento, como no Brasil, pois existe um maior número de tumores nas pacientes jovens quando comparadas aos países desenvolvidos. "Enquanto nos países de primeiro mundo, como no Reino Unido, cerca de 15% dos tumores de mama ocorrem abaixo dos 49 anos, no Brasil eles correspondem a 30% a 40% dos tumores. Se excluirmos esse grupo estaremos tirando a possiblidade de diagnóstico precoce em um terço das nossas mulheres", diz. 

A segunda reflexão diz respeito à qualidade de exame. "Só conseguiremos transpor esses benefícios para o Brasil se realizarmos exames de qualidade. Esse tem que o principal objetivo de todos neste momento", afirma. 

Este estudo foi financiado pelo Programa de Avaliação de Tecnologia em Saúde do National Institute for Health Research do Reino Unido.

Referência: Duffy, S. W., Vulkan, D., Cuckle, H., Parmar, D., Sheikh, S., Smith, R. A., … Moss, S. M. (2020). Effect of mammographic screening from age 40 years on breast cancer mortality (UK Age trial): final results of a randomised, controlled trial. The Lancet Oncology. doi:10.1016/s1470-2045(20)30398-3


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