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AtualizadoQui, 28 Mar 2024 7pm

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Desafios para a equidade no tratamento do câncer testicular

flavio carcano bxExistem inúmeras barreiras para o tratamento do câncer testicular em populações carentes, que podem levar a piores resultados de sobrevida. Estudo publicado na Cancer1 por pesquisadores da Universidade do Texas e do UT Southwestern Medical Center mostra como a integração e padronização do atendimento podem superar os fatores sociodemográficos que limitam o atendimento ao paciente. Flavio Cárcano (foto), oncologista do Hospital de Câncer de Barretos, analisa os resultados.

Foram analisados ​​os registros de todos os pacientes em tratamento primário para tumores de células germinativas (TCG), tanto no hospital da rede pública quanto no centro acadêmico de atendimento terciário na mesma área metropolitana, instituições onde o mesmo grupo de médicos responde pelo atendimento multidisciplinar do câncer. Os pacientes foram agrupados por centro de atendimento e foram analisadas as características e resultados clínicos.

Entre 2006 e 2018, 106 e 95 pacientes receberam tratamento inicial para TCG no hospital da rede pública e no centro de atendimento terciário, respectivamente. Os pacientes da rede pública eram mais jovens (29 vs 33 anos; P = 0,005) e tinham maior probabilidade de ser hispânicos (79% vs 11%), não ter seguro-saúde (80% vs 12%; P <0,001) e ingressar na instituição através do departamento de emergência (76% vs 8%; P <0,001), majoritariamente com doença metastática (estágio II / III) (42% vs 26%; P = 0,025).

Os dados reportados na Cancer mostram que na análise multivariável a ausência de invasão linfovascular (odds ratio [OR], 0,30; P = 0,008) e um componente de carcinoma embrionário (OR, 0,36; P = 0,02) foram associados com redução do uso de tratamento adjuvante para pacientes  estágio I. Não foi verificada associação com o ambiente hospitalar (OR, 0,67; P = 0,55). Para pacientes com TCG não seminomatoso estágio II / III não houve diferença no desempenho da dissecção de linfonodo retroperitoneal pós-quimioterapia entre o hospital da rede pública e o centro de atendimento terciário (52% vs 64%; P = 0,53). Os autores reportam que nenhuma diferença nas taxas de recorrência foi observada entre as coortes (5% vs 6%; P = 0,76).

“Este estudo destaca novamente a importância de uma conduta padronizada e com equipe experiente para os melhores resultados clínicos em pacientes com câncer de testículo”, afirma Cárcano. O especialista observa que o câncer de testículo tem sido um modelo de curabilidade com quimioterapia a base de platina há décadas, e pouco tem se acrescentado ao protocolo de quimioterapia nos últimos anos, mudando a sua história natural. “Entretanto, o manejo inadequado pode contribuir para a insurgência da doença refratária ou recidivas e consequente resultado desfavorável”, ressalta.

O oncologista destaca estudo de Wymer2 e colaboradores que mostrou que 30% dos casos de câncer de testículo são manejados de forma diferente de guideline internacional e isso pode resultar em quase 2,5 vezes a chance de recidiva da doença. “O tratamento em serviços isolados, onde a conduta não é compartilhada com diferentes experts e os casos são vistos na rotina dentre outros tumores sólidos, pode também comprometer o bom manejo”, diz. “Em outro trabalho interessante, Albany3 e colaboradores demonstraram que a sobrevida de seus pacientes na Universidade de Indiana, com abordagem multidisciplinar e com equipes experientes atendendo alto volume de casos, foi melhor do que os dados da série SEER americana”.

Para Cárcano, o estudo de Chertack também traz a mensagem que, se o acesso ao melhor tratamento é universal e a equipe experiente está organizada em rede com aderência aos protocolos de melhor evidência científica, os resultados clínicos são otimizados, independente do local onde são tratados. “Considerando que os protocolos de tratamento de câncer de testículo possuem um baixo custo relativo, melhores resultados podem ser alcançados com políticas institucionais e de estado que promovam a colaboração em rede de especialistas e melhores dinâmicas de referência e contra-referência, se valendo de tecnologias como tele-interconsultas, por exemplo, visando o manejo apropriado de todos os paciente com câncer de testículo”, conclui.

Referências:

1 - Chertack, N., Ghandour, R. A., Singla, N., Freifeld, Y., Hutchinson, R. C., Courtney, K., … Bagrodia, A. (2020). Overcoming sociodemographic factors in the care of patients with testicular cancer at a safety net hospital. Cancer. doi:10.1002/cncr.33076

2 - Wymer KM, Pearce SM, Harris KT, Pierorazio PM, Daneshmand S, Eggener SE. Adherence to National Comprehensive Cancer Network(R) Guidelines for Testicular Cancer. The Journal of urology. 2017;197(3 Pt 1):684-9.

3 - Albany C, Adra N, Snavely AC, Cary C, Masterson TA, Foster RS, et al. Multidisciplinary clinic approach improves overall survival outcomes of patients with metastatic germ-cell tumors. Annals of oncology : official journal of the European Society for Medical Oncology / ESMO. 2018;29(2):341-6.

 

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