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AtualizadoSex, 19 Abr 2024 1pm

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Sinais de alerta e diagnóstico de câncer

Ana Lucia Coradazzi NET OKEm artigo no British Journal of Cancer, Chapman et al. reportam os resultados iniciais de cinco centros de diagnóstico multidisciplinar (CDMs), com foco na detecção do câncer a partir de sintomas inespecíficos. Os primeiros resultados mostram que o modelo proposto foi capaz de diagnosticar 240 casos de câncer (8%) em uma população de 2961 pacientes. Quem comenta é a oncologista Ana Lucia Coradazzi (foto), responsável pela equipe de Oncologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Botucatu, São Paulo.

Sintomas inespecíficos, como por exemplo perda de peso, dor abdominal, fadiga e náusea/vômitos têm baixo valor preditivo para o diagnóstico específico de câncer, pois estão associados a um grande número de outras condições clínicas. No entanto, segundo os autores, o risco global de um possível diagnóstico oncológico justificaria uma investigação rápida para pacientes com sintomas inespecíficos, considerando que esses pacientes costumam levar mais tempo até obter o diagnóstico e geralmente cursam com piores resultados clínicos do que aqueles com sintomas específicos diretamente relacionados às neoplasias.

Para testar um modelo capaz de agilizar o encaminhamento e o diagnóstico de pacientes com sintomas inespecíficos, dados de 5 centros de diagnóstico multidisciplinar na Inglaterra foram avaliados de 1º de dezembro de 2016 a 31 de julho de 2018. Os CDMs foram implementados na Inglaterra, inspirados na experiência dinamarquesa, e têm como objetivo melhorar o desfecho de pacientes com sintomas inespecíficos através da avaliação multiprofissional, permitindo um diagnóstico mais rápido.

O modelo piloto descrito no artigo foi desenhado para avaliar a eficácia dos CDMs especificamente para o diagnóstico de câncer. Para isso, foram definidos 13 sintomas inespecíficos que pudessem estar relacionados à presença de neoplasias malignas, entre eles perda de peso inexplicável, dor abdominal inespecífica, fadiga, náuseas/vômitos e “suspeita clínica”.

Independentemente dos sintomas apresentados, era essencial que o paciente fosse considerado como em estado clínico preocupante, com sintomas inespecíficos que pudessem sugerir câncer, e que seus sintomas não fossem suficientemente claros para permitir o diagnóstico oncológico, o que justificaria o encaminhamento direto a centros especializados para o tratamento.

“Foram analisados todos os pacientes encaminhados às CDMs que apresentassem pelo menos um dos sintomas selecionados, aplicando-se posteriormente análise de regressão logística univariada, cuja variável dependente era o diagnóstico de câncer. Foi então realizada regressão logística multivariada para ajuste dos dados obtidos”, esclarece Ana Lucia.

Os resultados mostram que 2961 pacientes foram encaminhados para CDMs no período da análise, com idade média de 66,7 anos, sendo 44% homens. Dos pacientes encaminhados, 240 (8%) foram diagnosticados com câncer, sendo 239 com um único câncer e um paciente com dois tipos de câncer (um urológico e um gastrointestinal baixo). Os tumores mais comuns foram de GI superior (incluindo 25 casos de câncer de pâncreas) e pulmão, com 53 e 52 cânceres diagnosticados, respectivamente.

O sintoma inespecífico mais comum foi a perda de peso (66% entre aqueles com dados disponíveis para análise), seguido pela 'suspeita clínica' de malignidade (36%) e dor (32%). No total, 61% dos pacientes apresentaram mais de um dos treze sintomas selecionados pelo modelo dos CDMs. Naqueles com dados sobre a duração dos sintomas, 55% relataram sintomas por 3 meses ou mais. A regressão logística multivariada encontrou associação significativa com diagnóstico de câncer apenas para idade avançada (p < 0.001) e “suspeita clínica” (P=0.006), sendo essas as duas únicas variáveis independentes para o diagnóstico de câncer.

Segundo Ana Lucia, embora haja limitações significativas na análise publicada, como a relativa heterogeneidade dos sintomas selecionados pelos diferentes CDMs, a ausência de um grupo de comparação e o tamanho limitado da amostra (considerando as dimensões populacionais que uma estratégia como essa poderia alcançar), cabe ressaltar alguns pontos bastante significativos. “Em primeiro lugar, a percepção do médico de que poderia haver uma doença grave justificando os sintomas (“suspeita clínica”) foi uma das únicas variáveis independentes para o diagnóstico de câncer. Esse dado reforça a ideia de que uma boa avaliação médica e a experiência do profissional são capazes de atuar como fortes fatores preditores do diagnóstico, devendo, portanto, ser valorizadas em eventuais modelos de triagem para pacientes oncológicos. Outro aspecto digno de nota é a associação entre idade avançada e câncer nesses pacientes com sintomas inespecíficos, sugerindo que a população idosa mereceria uma avaliação mais criteriosa e rápida”, avalia.

Por outro lado, a oncologista observa que o dado de que 8% dos pacientes receberam diagnóstico de câncer é difícil de ser avaliado nesse contexto. A maioria desses pacientes já se encontrava em fases avançadas da doença ao diagnóstico, o que levanta dúvidas a respeito do real impacto que um diagnóstico um pouco mais precoce teria em termos de tempo de vida e/ou qualidade de vida, considerando que os tratamentos nesse cenário são em geral paliativos. “Além disso, os custos financeiros de uma abordagem como essa, levando-se em conta as várias avaliações de especialistas e o número de exames realizados para a conclusão diagnóstica, podem ser preocupantes. Recursos tecnológicos com custo financeiro significativo podem ter sido utilizados desnecessariamente para pacientes portadores de patologias de pouca ou nenhuma gravidade, por exemplo, além das questões relacionadas à ansiedade provocada nos pacientes”, afirma.

“De qualquer forma, o artigo traz à tona a importância de desenharmos estratégias que permitam aos médicos uma via alternativa mais rápida para o diagnóstico do câncer, as quais podem ser pautadas por avaliações tão simples quanto a percepção do médico de que “algo pode estar muito errado” e a lembrança de que sintomas inespecíficos em idosos devem ser interpretados com mais cautela”, conclui.

Referência: Chapman, D., Poirier, V., Vulkan, D. et al. First results from five multidisciplinary diagnostic centre (MDC) projects for non-specific but concerning symptoms, possibly indicative of cancer. Br J Cancer (2020). https://doi.org/10.1038/s41416-020-0947-y

 

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