Biópsia líquida e doença residual no câncer de mama triplo negativo

biopsia liquida 2019 bxEm pacientes com câncer de mama triplo negativo em estágio inicial, a detecção do DNA tumoral circulante (ctDNA) e de células tumorais circulantes (CTCs) após quimioterapia neoadjuvante está independentemente associada à recorrência da doença e representa um novo fator de estratificação  para futuros ensaios pós-neoadjuvância. É o que conclui a análise secundária de um grande estudo multicêntrico, reportada 9 de julho em artigo no JAMA Oncology.

Esta análise secundária pré-planejada envolveu 196 pacientes do sexo feminino que participaram do ensaio de Fase II BRE12-158 e  constatou que a presença de ctDNA  e CTCs após quimioterapia neoadjuvante foi associada a menor sobrevida global, menor sobrevida livre de doença e a taxa de sobrevida livre de doença distante significativamente inferior em pacientes com câncer de mama triplo negativo (TNBC, da sigla em inglês) em estágio inicial.

De 26 de março de 2014 a 18 de dezembro de 2018, os pacientes foram randomizados para receber terapia pós-neoadjuvante com orientação genômica versus tratamento de escolha do médico. Amostras de sangue foram coletadas para ctDNA e CTCs; a análise de sobrevida por ctDNA foi realizada em 142 pacientes e a análise sobrevida por CTCs foi realizada em 123 pacientes. O acompanhamento clínico médio foi de 17,2 meses (variação: 0,3-58,3 meses). Os endpoints primários foram sobrevida livre de doença distante (SLDD), sobrevida livre de doença (SLD) e sobrevida global (SG).

Resultados

Entre os 196 pacientes avaliados, com idade média de  49,6 anos, a detecção de ctDNA foi significativamente associada a SLDD inferior (32,5 meses vs não atingido; [HR], 2,99; IC95%, 1,38-6,48; P = 0,006). Aos 24 meses, a probabilidade de SLDD era de 56% para pacientes com ctDNA positivo, em comparação com 81% dos pacientes com ctDNA negativo. A detecção de ctDNA também foi associada a  menor SG (HR, 4,16; IC 95%, 1,66-10,42; P = 0,002) e menor SLD  (HR, 2,67; IC 95%, 1,28-5,57; P = 0,009).

Pacientes com ctDNA e CTC positivo tiveram SLDD significativamente inferior em comparação com aqueles que eram negativos para ctDNA e CTC (mediana de 32,5 meses vs não atingido; HR 5,29; IC 95%, 1,50-18,62; P = 0,009). Aos 24 meses, a probabilidade de SLDD foi de 52% para pacientes com ctDNA positivo e CTC positivo, em comparação com 89% para aqueles com ctDNA negativo e CTC negativo. Tendências semelhantes foram observadas para SLD (HR, 3,15; IC 95%, 1,07-9,27; P = 0,04) e SG (HR, 8,60; IC 95%, 1,78-41,47; P = 0,007).

Em conclusão, Radovich, M et. al. mostram que o sequenciamento do ctDNA após a cirurgia, juntamente com a contagem das células tumorais circulantes (CTCs), pode ser usado para detectar doença residual mínima e avaliar quais pacientes podem apresentar recorrência da doença. Este estudo está inscrito na ClinicalTrials.gov: NCT02101385

Referência: Radovich, M., Jiang, G., Hancock, B. A., Chitambar, C., Nanda, R., Falkson, C., … Schneider, B. P. (2020). Association of Circulating Tumor DNA and Circulating Tumor Cells After Neoadjuvant Chemotherapy With Disease Recurrence in Patients With Triple-Negative Breast Cancer. JAMA Oncology. doi:10.1001/jamaoncol.2020.2295