Imunoterapia ou cuidados de suporte no câncer colorretal avançado?

Roberto Gil SFBO bx 2020 okArtigo publicado no Jama Oncology descreve os resultados de estudo do Canadian Cancer Trials Group (CO.26 Study) que avaliou o efeito da combinação de dois inibidores de checkpoint imune versus o melhor tratamento de suporte em pacientes com câncer colorretal avançado. “O estudo mostrou a possibilidade de ampliação de utilização de imunoterapia no câncer colorretal metastático”, avalia o oncologista Roberto Gil (foto), médico do Grupo Oncoclínicas.

Neste estudo de Fase II, Eric Chen e colegas avaliaram pacientes com adenocarcinoma de cólon ou reto histologicamente confirmado; previamente expostos a todas as terapias sistêmicas disponíveis (fluoropirimidinas, oxaliplatina, irinotecano e bevacizumabe, se indicado; cetuximabe ou panitumumabe se tumores do tipo RAS selvagem; regorafenibe, se disponível).

Foram elegíveis 180 pacientes com câncer colorretal metastático e refratário, randomizados (2: 1) para tremelimumabe e durvalumabe isoladamente ou em combinação com melhores cuidados de suporte. Dos 180 inscritos (67,2% homens, idade média de 65 anos), 179 foram tratados.

“Vale ressaltar que foram realizadas avaliações moleculares em biopsia líquida em 169 dos 180 pacientes para pesquisa de estabilidade de microssatélites e carga de mutação tumoral. É uma possibilidade de seleção de pacientes muito interessante e que nesse estudo foi extremamente relevante”, observa Gil.

Resultados

Com acompanhamento médio de 15,2 meses, a SG mediana foi de 6,6 meses para durvalumabe e tremelimumabe e 4,1 meses para melhores cuidados de suporte (HR= 0,72; IC 90%, 0,54-0,97; P = 0,07). A sobrevida livre de progressão foi de 1,8 meses e 1,9 meses, respectivamente (HR, 1,01; IC 90%, 0,76-1,34).

Pacientes com estabilidade de microssatélites com elevada carga mutacional tumoral no plasma (TMB), de 28 ou mais variantes por megabase (21% dos pacientes com MSS) tiveram o maior benefício de SG (HR, 0,34; IC 90%, 0,18-0,63; P = 0,004). “Além dos pacientes com elevado TMB, o benefício se manteve em pacientes com estabilidade de microssatélites. Acredito que a exposição prévia à quimioterapia aumenta essa sensibilidade”, avalia.

Os eventos adversos de grau 3 ou 4 foram significativamente mais frequentes com a imunoterapia, braço em que 64% dos pacientes tiveram pelo menos 1 evento adverso de grau 3 ou superior versus 20% no grupo de cuidados de suporte (HR, 0,66; IC 90%, 0,49-0,89; P = 0,02).

“Este estudo de Fase II sugere que a combinação de inibidores de checkpoint imune com durvalumabe mais tremelimumabe pode prolongar a SG em pacientes com câncer colorretal refratário avançado”, concluem os autores.

Gil destaca o fato da carga de mutação tumoral ser utilizada como um marcador biológico importante para a seleção de pacientes. “Houve uma correlação de dados obtidos no DNA circulante, demonstrando a possibilidade da biopsia líquida ser utilizada na definição de linhas de tratamento no câncer colorretal metastático, que é um dado significativo do trabalho”, diz. Novos estudos são necessários para confirmar esses achados.

“O estudo mostrou a possibilidade de ampliação de utilização de imunoterapia no câncer colorretal metastático. Hoje, nós restringimos sua utilização a pacientes com instabilidade de microssatélites, presente em apenas 5% dos pacientes com doença metastática. Outros estudos associaram nivolumabe e regorafenibe, ou atezolizumabe, bevacizumabe e capecitabina, tentando reverter a imunorresistência dos pacientes com CCRm e estabilidade de microssatélites. Esse trabalho se associa à essa busca da ampliação dessa indicação para esses pacientes”, ressalta Gil.

Para o oncologista, uma questão importante é o custo do tratamento. “A COVID evidenciou a necessidade de priorizar investimentos, e sabemos que grandes investimentos em pacientes com câncer metastático podem resultar em diminuição de recursos destinados às fases mais iniciais da doença. Sem dúvida, a imunoterapia é importante para pacientes selecionados, o que reforça o interesse na estratégia para seleção de pacientes realizada pelos autores do estudo”, conclui.  

O estudo contou com a participação de 27 centros de câncer no Canadá e está inscrito na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT02870920.

O câncer colorretal é a segunda principal causa de morte por câncer em todo o mundo, representando aproximadamente 880 mil mortes em 2018 (GLOBOCAN, 2018).

Referência: Chen, E. X., Jonker, D. J., Loree, J. M., Kennecke, H. F., Berry, S. R., Couture, F., … O’Callaghan, C. J. (2020). Effect of Combined Immune Checkpoint Inhibition vs Best Supportive Care Alone in Patients With Advanced Colorectal Cancer. JAMA Oncology. doi:10.1001/jamaoncol.2020.0910