Custo e valor no tratamento do câncer

FARMACOECONOMIA NET OK 2Estudo que avaliou a relação custo/benefício dos medicamentos para câncer aprovados nos EUA e em quatro países europeus (Inglaterra, Suíça, Alemanha e França) concluiu que o custo mensal do tratamento de câncer foi mais que o dobro nos EUA. No entanto, os elevados custos mensais dos medicamentos não foram correlacionados com benefício clínico. Os resultados estão em artigo de Vokinger, KN et al. no Lancet Oncology.

A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e a Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) desenvolveram métricas para avaliar o valor clínico das terapias contra o câncer: a ASCO-Value Framework (ASCO-VF) e a ESMO-Magnitude of Clinical Benefit Scale (ESMO-MCBS).

Para esta análise de custo-benefício, os pesquisadores identificaram todos os novos medicamentos com indicações para câncer adulto aprovados pela agência norte-americana FDA entre 1º de janeiro de 2009 e 31 de dezembro de 2017 e pela Agência Europeia de Medicamentos até 1º de setembro de 2019. O benefício clínico dos medicamentos foi avaliado usando as escalas ASCO-VF e ESMO-MCBS. Os custos mensais e os níveis de benefício clínico foram comparados usando modelos de regressão linear e coeficientes de correlação de Spearman.

Resultados

Nessa coorte foram incluídos 65 medicamentos: 47 (72%) aprovados para tumores sólidos e 18 (28%) aprovados para neoplasias hematológicas. Em tumores sólidos, a maior parte dos novos agentes terapêuticos tem indicação no câncer de mama (15%), câncer de pulmão de células não pequenas (15%) e câncer de próstata (11%). Entre as malignidades hematológicas, a maioria dos medicamentos avaliados tem indicação no tratamento de mieloma múltiplo (33%), leucemia linfocítica crônica (22%) e leucemia linfocítica aguda (17%).

Os custos mensais do tratamento de câncer nos EUA foram em média 2,31 vezes superiores (IQR 1 · 79–3 · 17) aos dos países europeus avaliados. Não houve associações significativas entre custo e benefício clínico usando a ESMO-MCBS (p = 0 · 16 para os EUA, p = 0 · 98 para a Inglaterra, p = 0 · 54 para a Suíça, p = 0 · 52 para a Alemanha e p = 0 · 40 para a França) e para todos os países avaliados, exceto a França usando ASCO-VF (p = 0,66 para os EUA, p = 0,47 para Inglaterra, p = 0,66 para Suíça, p = 0 · 23 para a Alemanha e p = 0 · 037 para a França).

“Os preços dos medicamentos contra o câncer foram substancialmente mais altos nos EUA do que em países europeus de alta renda selecionados (Inglaterra, Suíça, Alemanha e França). No entanto, os elevados custos mensais dos medicamentos contra o câncer não foram associados ao benefício clínico, nem nos EUA nem nos países europeus avaliados”, destacam os autores.

No câncer de próstata, por exemplo, cabazitaxel apresentou escores de benefício clínico mais baixos que abiraterona (escore ESMO-MCBS 2 vs 4), mas teve custos mensais semelhantes nos EUA (US $ 10531 vs US $ 10887) Alemanha (US $ 3311 vs US $ 3340) e até um pouco mais altos  na Inglaterra (US $ 4554 vs US $ 3568) e na Suíça (US $ 5292 vs US $ 3475). “Nossos resultados são consistentes com estudos anteriores que relataram correlações nulas ou negativas entre escalas de benefício clínico e preços dos medicamentos anticâncer”, apontam os autores.

Referência: Vokinger, K. N., Hwang, T. J., Grischott, T., Reichert, S., Tibau, A., Rosemann, T., & Kesselheim, A. S. (2020). Prices and clinical benefit of cancer drugs in the USA and Europe: a cost–benefit analysis. The Lancet Oncology, 21(5), 664–670. doi:10.1016/s1470-2045(20)30139-x.

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