Tratamento de resgate para leucemia mieloide aguda refratária ou recidivada

wellington hemato icesp2020O hematologista Wellington Fernandes da Silva (foto), médico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), é primeiro autor de estudo retrospectivo que compara os resultados de pacientes com leucemia mieloide aguda (LMA) refratários e recidivados tratados com os regimes “MEC” (mitoxantrona, etoposídeo e citarabina) e “FLAG-IDA” (fludarabina, citarabina, idarubicina e filgrastim). Os resultados foram publicados na Clinics, periódico da Faculdade de Medicina da USP.

No total, foram incluídos 60 pacientes, dos quais 28 receberam MEC e 32 receberam FLAG-IDA. Foi observada uma taxa de resposta completa (CR) de 48,3%. Entre os pacientes incluídos, 16 (27%) morreram antes da avaliação da medula óssea. Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa na taxa de resposta completa entre os dois protocolos (p = 0,447). A sobrevida mediana na coorte total foi de 4 meses, com uma taxa de sobrevida global em três anos de 9,7%. Em um modelo multivariável incluindo idade, status de tirosina quinase-3 fms-like (FLT3) e transplante de células-tronco (SCT), apenas os dois últimos indicadores permaneceram significativos: mutação no FLT3-ITD (hazard ratio [HR] = 4,6, p < 0,001) e SCT (HR = 0,43, p = 0,01).

“Em nossa análise, não houve diferenças significativas entre os regimes escolhidos. Foram encontradas altas taxas de toxicidade precoce, enfatizando o papel dos cuidados de suporte e a seleção criteriosa de pacientes elegíveis para terapia de resgate intensiva nesse cenário. A mutação FLT3-ITD e o transplante de células-tronco permaneceram fatores significativos para a sobrevida, corroborando os resultados de estudos anteriores”, observam os autores. 

Wellington acrescenta que o conhecimento dos dados locais é de extrema importância para a otimização dos recursos e seleção da melhor estratégia. “A comparação retrospectiva destes regimes não mostrou diferença na sobrevida. Porém, pudemos verificar que o MEC foi capaz de alcançar maiores taxas de resposta, às custas de maior toxicidade. Os pacientes com LMA recaída ou refratária possuem, hoje em dia, novas alternativas terapêuticas ainda não contempladas no SUS, e o entendimento desta realidade se faz fundamental para avançar também neste quesito", conclui. 

Referência: Salvage treatment for refractory or relapsed acute myeloid leukemia: a 10-year single-center experience - Wellington Fernandes da Silva; Lidiane Inês da Rosa; Fernanda Salles Seguro; Douglas Rafaele Almeida Silveira; Israel Bendit; Valeria Buccheri; Elvira Deolinda Rodrigues Pereira Velloso; Vanderson Rocha; Eduardo M. Rego - Clinics vol.75  São Paulo  2020  Epub Apr 09, 2020 - https://doi.org/10.6061/clinics/2020/e1566