Nanomedicina pode aumentar resposta a imunoterapia

Roger ChammasOs inibidores de checkpoint imune (ICI) visando PD-1, PD-L1 ou a proteína 4 associada a linfócitos T (CTLA-4) marcam forte tendência na pesquisa e no tratamento do câncer, em combinação ou em monoterapia. Mas apesar de respostas duráveis em um subgrupo, estima-se que atualmente 87% dos pacientes não obtêm benefícios de longo prazo com a imunoterapia. Em busca de novas estratégias para melhorar as taxas de resposta dos ICI, várias abordagens baseadas em nanomedicina merecem atenção. A Nature Reviews Clinical Oncology discute o assunto, em artigo de Rakesh K. Jain e colegas. Roger Chammas (foto), Professor Titular de Oncologia da Faculdade de Medicina da USP e Coordenador do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), analisa o trabalho.

Como diferentes tecnologias de nanomedicina podem ser usadas para perpetuar o ciclo de imunidade ao câncer e garantir que as células T sejam capazes de atacar as células cancerígenas? Os autores descrevem esforços em grandes eixos de pesquisa e discutem o potencial de uma estratégia combinada de imunoterapia e nanomedicina para superar cada etapa do ciclo de imunidade.  “Propomos uma 'combinação mínima' amplamente aplicável de terapias para aumentar o número de pacientes de câncer capaz de se beneficiar da imunoterapia”, destaca o artigo.

Em maio de 2019, estudo de Alyson Haslam e Vinay Prasad mostrou que o tratamento com inibidores de checkpoint imune pode “na melhor das hipóteses, levar a respostas entre menos de 13% dos pacientes com câncer nos Estados Unidos”, indicando claramente a necessidade de estratégias para ampliar a resposta à imunoterapia.

E ao lado do potencial efeito na sobrevida, a nanomedicina ainda pode contribuir para reduzir o risco de toxicidades severas no tratamento com ICI, o que reforça seu interesse no ambiente de pesquisa.

“O trabalho revê uma tendência da literatura, com alguns bons resultados em quimioterapia convencional, como por exemplo na formulação lipossomal de alguns antineoplásicos (como daunorrubicina e citarabina), que modificam características farmacocinéticas dos medicamentos utilizados”, destaca Chammas. “Da mesma forma, espera-se que haja condição de melhorar aspectos da distribuição de imunoterápicos, combinados com nab-paclitaxel, cuja modificação permite a nanoestruturação do quimioterápico; sondas que permitam o diagnóstico por imagem; e, construções que permitam a modificação de expressão gênica e na sequência edição gênica, como discutido no artigo”, acrescenta.

O especialista observa que embora estas ideias ainda pareçam distante da clínica, o avanço na pesquisa tem ocorrido a passos largos. “São abordagens promissoras que nos mantém, por ora, ocupados no laboratório, à medida que alguns (ainda poucos) protocolos de pesquisa clínica começam a ser apresentados com sucesso”, conclui.

Referências

Martin, J. D., Cabral, H., Stylianopoulos, T., & Jain, R. K. (2020). Improving cancer immunotherapy using nanomedicines: progress, opportunities and challenges. Nature Reviews Clinical Oncology. doi:10.1038/s41571-019-0308-z 

Haslam, A. & Prasad, V. Estimation of the percentage of US patients with cancer who are eligible for and respond to checkpoint inhibitor immunotherapy drugs. JAMA Netw. Open. 2, e192535–e192535 (2019).